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5 de setembro de 2013

Progressistas e pogreçistas

Eu ia apenas colocar o link e elogiar, mas o artigo do Flávio está tão bom, mas tão bom, que vou ter que transcrever. O original está AQUI.

Esse merece ser lido, copiado, divulgado, impresso e salvo para leitura semanal:

Trabalho escravo cubano: objetivo dos progressistas alcançado

As esquisitices que os médicos cubanos sofrerão não são acidentes no planejamento progressista: o trabalho escravo é seu objetivo inescapável.

médico algemando Trabalho escravo cubano: objetivo dos progressistas alcançado

A palavra mais odienta a ser pronunciada no país ainda é “capitalismo”. Este sistema de iniciativa privada, sem controle estatal da economia, foi o sistema que mais enriqueceu os pobres – na análise de Thomas Sowell, se um americano hoje nasce entre os 20% mais pobres, ele tem mais chances de terminar a vida entre os 20% mais ricos do que continuar entre os mais pobres. Todavia, sempre que for citado, deve ser “admitido” a contragosto, como alguém espiando a esposa do amigo: “é, o capitalismo até deu uma vencida no comuno-fascismo, sim…”

O intelectual de esquerda Vladimir Safatle (este estranho conceito do que a esquerda chama de “intelectual”), ao criticar a democracia durante o movimento Occupy Wall Street, é taxativo: “a democracia parlamentar é incapaz de impor limites e resistir aos interesses do sistema financeiro”. Ou seja, a democracia, como diz Slavoj Žižek, é o problema, e o que a esquerda quer, mesmo sabendo que o capitalismo é melhor, é impedir trocas comerciais e financeiras livremente.

A esquerda, que já transitou de Rousseau e Karl Marx a Marcuse e Pol-Pot, é pródiga em se reinventar para se livrar de termos que, historicamente, demonstraram seu caráter totalitário e miserável. Apenas dos termos, e não do conteúdo, claro. Basta ver como partidos de extrema-esquerda com nítida inspiração trotskysta (PSTU, PSOL, PCO) ou mesmo flertes pouco disfarçados com o stalinismo (PCB, PCdoB) não usam a palavra “comunismo”,  hoje consabidamente mais assassino do que o nazismo. A própria presidente Dilma Rousseff, em campanha, numa entrevista a José Luiz Datena (que tem quadros de Che Guevara em sua casa), fala esquisitamente que lutava por uma sociedade “socialista, e não comunista”, como se isso fizesse sentido.

A esquerda, reinventada hoje sob a égide do “progressismo”, é ainda o mesmo movimento (talvez o único movimento no Ocidente com continuidade histórica, reconhecimento de seus líderes passados e com o mesmo projeto futuro), tanto é que seu lado mais “democrata”, como o da presidente Dilma Rousseff, nunca rompe seus laços de amizade com ditaduras decrépitas do meio da Guerra Fria, como o totalitarismo de Cuba, uma das ditaduras mais longevas do planeta, causadora da morte de cerca de 100 mil pessoas em mais de meio século.

Não há nenhuma ruptura, nenhum “progresso”, nenhuma mudança nessa seara: o PT continua com seus laços socialistas no Foro de São Paulo (expulsando a imprensa que não concorde obedientemente com as atas), continua fazendo parte do mesmo projeto de poder transcontinental, continua acreditando no sonho cubano. No máximo, seus quadros mais abertamente socialistas (vide José Dirceu, Aldo Rebelo, Tarso Genro, Celso Amorim, Maria do Rosário etc) não ficam mais no Executivo central, aquele que precisa ganhar eleições com marketing.

Quem não se lembra de Lula defendendo o socialismo? Que tal a propaganda partidária venezuelana que Lula fez para o proto-ditador Nicolás Maduro? E do PCdoB, principal partido aliado da base governista do PT, declarando seu apoio (?!) ao ditador da Coréia do Norte Kim Jong-un? Que tal Lula chamando o trânsfuga Muammar Kadafi de “meu amigo, meu irmão, meu líder” (sic), sem que nenhuma voz na imprensa cobrasse um pronunciamento de Lula após o próprio povo se rebelar contra o “grande líder” totalitário? Por que os setores “progressistas” defendem o totalitário homofóbico Mahmoud Ahmadinejad e as feministas, durante a campanha para eleger Dilma, se calam sobre este mesmo ditador matar mulheres “adúlteras” (por “traírem” maridos mortos) à morte por apedrejamento, senão por um continuísmo histórico, que sabe que o PT nasce do socialismo, e seu objetivo final ainda é o mesmo, numa continuidade histórica?

karl marx democratic party 600x333 Trabalho escravo cubano: objetivo dos progressistas alcançado

Quando o governo socialista de Dilma Rousseff importa médicos, ninguém se escandaliza. Pessoas, numa sociedade livre, são livres para trabalhar onde bem quiserem. Analistas políticos do Brasil, por exemplo, devem ser livres para trabalhar diretamente da Suíça, sendo financiados para tal, abanados e tendo cotas de Ovomaltine suíço quentinho todo dia. Apenas se surpreendeu quando os médicos que vieram ao Brasil não-livremente foram médicos cubanos.

O discurso unificado “progressista” funciona como uma seita: todos devem pensar o mesmo. Para tal, veículos de comunicação, reproduzindo a ladainha oficial (a hegemonia faz com que, cada vez mais, imprensa e governo se imiscuam), lança o chamado dog whistle: o apito que faz só a militância ouvir, e que faz com que todas as críticas ao governo sejam respondidas em uníssono de uma mesma maneira. Como se viu nas redes sociais nos últimos dias, todas as críticas à importação de médicos cubanos foi pechada de “racista”, sem que nenhum progressista pensasse o mesmo quando a blogueira cubana dissidente Yoani Sánchez foi até agredida no aeroporto por estes mesmos que hoje enaltecem o tráfico humano do governo petista.

littlerock yoani 255x338 Trabalho escravo cubano: objetivo dos progressistas alcançado

Ninguém criticou médicos cubanos, e sim o ato do governo de importá-los. Pior: importá-los como gado, como mercadoria que pertence a uma ditadura totalitária que ficará com 3/4 do seu salário, não liberará seus passaportes, não lhes permitirá conversar com a imprensa e, caso queiram trabalhar livremente no país, como todo ser humano pode depois de trabalhar num país, será impedido por um acordo ditatorial entre Cuba e o PT, que lhes nega asilo político já de cara.

Mas essas esquisitices que só acontecem com os médicos cubanos (ninguém ouviu sobre algum modelo de gestão humana parecido a respeito de médicos portugueses, espanhóis ou bolivianos) são vistas apenas como um desvio, um acidente de percurso pelo fato de Cuba ser uma ditadura (e culpa-se sempre a América por isso, como se a culpa da ditadura norte-coreana também fosse… do Ocidente). São analisadas como notas de rodapé que ninguém lê antes de assinar.

Na verdade, não é um acidente no projeto “progressista”, e sim sua consubstanciação mais inescapável. Os progressistas, que odeiam o mercado (“imperialista” e “desigual”, embora queiram acabar com o embargo comercial a Cuba para salvá-la da miséria que é viver sem mercado, sem perceber a contradição), não podem suportar a idéia de que as pessoas trabalhem para quem quiserem, que circulem livremente (basta pensar em Cuba, ou no Muro de Berlim, quando não há um mar de tubarões ao redor), que ajam por seus próprios desejos individuais, ao invés de subordiná-los à força estatal.

Como o progressista quer uma sociedade programa, centralizada, dirigida, com um projeto único a ser obedecido, sem liberdade de ação autônoma para fora do que foi previamente mandado, é uma conseqüência óbvia de que é a favor da estatização completa não apenas da economia, mas da própria vida humana – que perde seu poder de livre associação, sendo obrigada, sempre, a só obedecer ao Estado.

É assim que o progressista acaba com as variações do mercado, com a “desigualdade”, com o desemprego – no dizer de P. J. O’Rourke, a Constituição soviética garante a todos um emprego. Uma idéia bastante assustadora, eu diria. Se essa sociedade planejada “para o bem de todos” não pode conter “acidentes”, desigualdade, concentração, exploração e outras palavras de forte apelo emocional, mas que só mascaram a realidade com uma interpretação insana, esses médicos que vieram para cá, fazendo teatrinho já no aeroporto (como descer de jaleco e estetoscópio no pescoço depois de uma viagem transcontinental), é insofismável que essas pessoas poderão apenas trabalhar para o Estado. E para quem o Estado original, o dono de sua força de trabalho, permitir.

Se há a possibilidade de livre associação em uma sociedade liberal, os médicos cubanos são a prova de que, na sociedade “progressista”, há a hierarquia, o controle, a disciplina e a obediência. O trabalho de médicos que serão obrigados a mais-valiar para a ditadura cubana, sem direito a ter por aqui uma vida normal, que todo progressista que elogia o ato do governo tem, é prova de que a escravidão é o destino dessa sociedade com política e economia “planejada” e estatal.

Eu ia escrever umas linhas sobre essa nomenclatura "progressistas" e "reaças", em virtude desse gracejo que recebi de uma "progressista" nesta semana (contextualizando: eu mantenho, no twitter, uma lista chamada "pilantras & picaretas", com gente que solta essas bobagens "pogreçistas", que uma vez por ano eu consulto para rir):

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Porém, o artigo do Flávio transmite tudo o que é necessário.

E, se isto não fosse suficiente, a suzana Guaranikaiowá (ahn, "pogreçista" adora se dizer defensor de índios, mas não tem nenhum problema com escravos cubanos…) demonstra, ela mesma, tudo o que o Flávio explicou e analisou tão bem:

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A moça foi espancada pela PM do Rio? Ou foi apenas (mais) uma acusação falsa? Vai saber… 

Temos mais diversão abaixo - inclusive Brecht em meio a butique e outras coisas non-sense:

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Ela também quer quebrar tudo no Rio! "Black-bloc-wannabe"...

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Descobri que os "pogreçistas" usam "feyssy", uma versão talvez mais politicamente correta e "pogreçista" (não capitalista) do Facebook?!

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Ué, não queria "quebrar tudo"? Mudou de idéia? Numa língua que assemelha-se ao Português de forma distante, mas revela a incoerência...

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Novamente, a língua tem algumas semelhanças com o Português, mas ignora algumas premissas básicas - afinal, concordância é deve ser coisa de "reaça", né?! Fica mais "pogreçista" escrever "o povo…colocassem". 

O melhor desses "progressistas" (ou "pogreçistas", no linguajar deles) é que eles mesmos se humilham a tal ponto que é totalmente desnecessário (ainda que delicioso) um texto como aquele do Flávio para colocá-los em seu devido lugar - o esgoto.

Para fechar, um representante bastante conhecido dos "pogreçistas": o ator Zé de Abreu - contratado da Rede Globo há décadas, mas que fica reclamando do "PIG" de forma discreta, velada. O sujeito escreve bobagens impagáveis no twitter, e quando alguém o processa (como fez o Ministro Gilmar Mendes), ele enfia o rabinho entre as pernas. 
Quando a blogueira cubana Yoani Sanchez esteve no Brasil, ele não ficou com medo de ser processado e soltou essa pérola:

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 Mas, que coisa!, quando os escravos cubanos foram hostilizados há alguns dias, no Ceará, o mesmo José de Abreu escreveu essa lindeza:


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Em fevereiro ele foi preconceituoso, e em agosto ele reclamou do preconceito alheio.

Coerência é tudo, hein?!

 

18 de julho de 2013

Professor

"Professor, com muito orgulho!
Se um médico, um advogado ou um dentista tivessem, de uma só vez, 30 pessoas no seu gabinete, todas elas com diferentes necessidades e algumas que não querem estar ali, e o médico, o advogado ou o dentista tivessem que tratar a todas com elevado profissionalismo durante dez meses, então poderiam fazer uma ideia do que é o trabalho do professor na sala de aula."

 

19 de junho de 2013

Algumas lições de Mises de 1979 para os protestos brasileiros de 2013

Em meio a toda a discussão gerada pela onda de protestos que têm ocorrido no Brasil, achei interessante reforçar algumas das palavras de Ludwig von Mises.
Recortei alguns trechos dos 2 primeiros capítulos de um dos livros dele que mais gosto. É um livro bastante objetivo, sem firulas. Pode ser baixado (em formatos PDF, MOBI e ePub) AQUI, gratuitamente.

Recomendo a leitura para quem deseja aproveitar este momento de (supostas) mudanças no país para refletir sobre o que deseja para o Brasil.

OBS: Como retirei os trechos do PDF, a formatação está "estranha", mas isso não impede a leitura. O mais importante é o conteúdo, mas já peço desculpas antecipadamente pela forma.

AS SEIS LIÇÕES
Ludwig  von  Mises

Traduzido  por  Maria  Luiza  Borges
7ª  Edição
Copyright  ©  Margit  von  Mises,  1979
Título  do  original  em  inglês: ECONOMIC  POLICY:  THOUGHTS  FOR  TODAY  AND  TOMORROW
Revisão  para  nova  ortografia: Núbia  Tavares
Ficha  catalográfica  elaborada  pela Biblioteca  Ludwig  von  Mises  do  Instituto  Liberal  –  RJ
Bibliotecário  Responsável:  Otávio  Alexandre  J.  De  Oliveira

CAPÍTULO  I
PRIMEIRA LIÇÃO
O   CAPITALISMO

Certas  expressões  usadas  pelo  povo  são,  muitas  vezes,  inteira-
mente  equivocadas.  Assim,  atribuem-se  a  capitães  de  indústria  e
a  grandes  empresários  de  nossos  dias  epítetos  como  “o  rei  do  cho-
colate”,  “o  rei  do  algodão”  ou  “o  rei  do  automóvel”.  Ao  usar  essas
expressões,  o  povo  demonstra  não  ver  praticamente  nenhuma  di-
ferença  entre  os  industriais  de  hoje  e  os  reis,  duques  ou  lordes  de
outrora.  Mas,  na  realidade,  a  diferença  é  enorme,  pois  um  rei  do
chocolate  absolutamente  não  rege,  ele  serve.  Não  reina  sobre  um
território  conquistado,  independente  do  mercado,  independente  de
seus  compradores.  O  rei  do  chocolate  –  ou  do  aço,  ou  do  automó-
vel,  ou  qualquer  outro  rei  da  indústria  contemporânea  –  depende
da  indústria  que  administra  e  dos  clientes  a  quem  presta  serviços.

Esse  “rei”  precisa  se  conservar  nas  boas  graças  dos  seus  súditos,  os
consumidores:  perderá  seu  “reino”  assim  que  já  não  tiver  condições
de  prestar  aos  seus  clientes  um  serviço  melhor  e  de  mais  baixo  custo
que  o  oferecido  por  seus  concorrentes.

Duzentos  anos  atrás,  antes  do  advento  do  capitalismo,  o  status
social  de  um  homem  permanecia  inalterado  do  princípio  ao  fim  de
sua  existência:  era  herdado  dos  seus  ancestrais  e  nunca  mudava.
Se  nascesse  pobre,  pobre  seria  para  sempre;  se  rico  –  lorde  ou  du-
que  –,  manteria  seu  ducado,  e  a  propriedade  que  o  acompanhava,
pelo  resto  dos  seus  dias.

No  tocante  à  manufatura,  as  primitivas  indústrias  de  beneficia-
mento  da  época  existiam  quase  exclusivamente  em  proveito  dos
ricos.  A  grande  maioria  do  povo  (90%  ou  mais  da  população  eu-
ropeia)  trabalhava  na  terra  e  não  tinha  contato  com  as  indústrias
de  beneficiamento,  voltadas  para  a  cidade.  Esse  rígido  sistema  da
sociedade  feudal  imperou,  por  muitos  séculos,  nas  mais  desenvol-
vidas  regiões  da  Europa.

Contudo,  a  população  rural  se  expandiu  e  passou  a  haver  um  ex-
cesso  de  gente  no  campo.  Os  membros  dessa  população  excedente,
sem  terras  herdadas  ou  bens,  careciam  de  ocupação.  Também  não
lhes  era  possível  trabalhar  nas  indústrias  de  beneficiamento,  cujo
acesso  lhes  era  vedado  pelos  reis  das  cidades.  O  número  desses
“párias”  crescia  incessantemente,  sem  que  todavia  ninguém  sou-
besse  o  que  fazer  com  eles.  Eram,  no  pleno  sentido  da  palavra,
“proletários”,  e  ao  governo  só  restava  interná-los  em  asilos  ou  ca-
sas  de  correção.  Em  algumas  regiões  da  Europa,  sobretudo  nos
Países  Baixos  e  na  Inglaterra,  essa  população  tornou-se  tão  nu-
merosa  que,  no  século  XVIII,  constituía  uma  verdadeira  ameaça  à
preservação  do  sistema  social  vigente.

Hoje,  ao  discutir  questões  análogas  em  lugares  como  a  Índia  ou
outros  países  em  desenvolvimento,  não  devemos  esquecer  que,  na
Inglaterra  do  século  XVIII,  as  condições  eram  muito  piores.  Na-
quele  tempo,  a  Inglaterra  tinha  uma  população  de  seis  ou  sete  mi-
lhões  de  habitantes,  dos  quais  mais  de  um  milhão  –  provavelmente
dois  –  não  passavam  de  indigentes  a  quem  o  sistema  social  em  vigor
nada  proporcionava.  As  medidas  a  tomar  com  relação  a  esses  deser-
dados  constituíam  um  dos  maiores  problemas  da  Inglaterra.

Outro  sério  problema  era  a  falta  de  matérias-primas.  Os  in-
gleses  eram  obrigados  a  enfrentar  a  seguinte  questão:  que  faremos,
no  futuro,  quando  nossas  florestas  já  não  nos  derem  a  madeira  de
que  necessitamos  para  nossas  indústrias  e  para  aquecer  nossas  ca-
sas?  Para  as  classes  governantes,  era  uma  situação  desesperadora.
Os  estadistas  não  sabiam  o  que  fazer  e  as  autoridades  em  geral  não
tinham  qualquer  ideia  sobre  como  melhorar  as  condições.

Foi  dessa  grave  situação  social  que  emergiram  os  começos  do
capitalismo  moderno.  Dentre  aqueles  párias,  aqueles  miseráveis,
surgiram  pessoas  que  tentaram  organizar  grupos  para  estabelecer
pequenos  negócios,  capazes  de  produzir  alguma  coisa.  Foi  uma
inovação.  Esses  inovadores  não  produziam  artigos  caros,  acessí-
veis  apenas  às  classes  mais  altas:  produziam  bens  mais  baratos,  que
pudessem  satisfazer  as  necessidades  de  todos.  E  foi  essa  a  origem
do  capitalismo  tal  como  hoje  funciona.  Foi  o  começo  da  produção
em  massa  –  princípio  básico  da  indústria  capitalista.  Enquanto
as  antigas  indústrias  de  beneficiamento  funcionavam  a  serviço  da
gente  abastada  das  cidades,  existindo  quase  que  exclusivamente
para  corresponder  às  demandas  dessas  classes  privilegiadas,  as  no-
vas  indústrias  capitalistas  começaram  a  produzir  artigos  acessíveis
a  toda  a  população.  Era  a  produção  em  massa,  para  satisfazer  às
necessidades  das  massas.

Este  é  o  princípio  fundamental  do  capitalismo  tal  como  existe
hoje  em  todos  os  países  onde  há  um  sistema  de  produção  em  massa
extremamente  desenvolvido:  as  empresas  de  grande  porte,  alvo  dos
mais  fanáticos  ataques  desfechados  pelos  pretensos  esquerdistas,
produzem  quase  exclusivamente  para  suprir  a  carência  das  massas.

As  empresas  dedicadas  à  fabricação  de  artigos  de  luxo,  para  uso  ape-
nas  dos  abastados,  jamais  têm  condições  de  alcançar  a  magnitude
das  grandes  empresas.  E,  hoje,  os  empregados  das  grandes  fábricas
são,  eles  próprios,  os  maiores  consumidores  dos  produtos  que  nelas
se  fabricam.  Esta  é  a  diferença  básica  entre  os  princípios  capitalis-
tas  de  produção  e  os  princípios  feudalistas  de  épocas  anteriores.
Quando  se  pressupõe  ou  se  afirma  a  existência  de  uma  diferen-
ça  entre  os  produtores  e  os  consumidores  dos  produtos  da  grande
empresa,  incorre-se  em  grave  erro.  Nas  grandes  lojas  dos  Estados
Unidos,  ouvimos  o  slogan:  “O  cliente  tem  sempre  razão.”  E  esse
cliente  é  o  mesmo  homem  que  produz,  na  fábrica,  os  artigos  à  venda
naqueles  estabelecimentos.  Os  que  pensam  que  a  grande  empresa
detém  um  enorme  poder  também  se  equivocam,  uma  vez  que  a  em-
presa  de  grande  porte  é  inteiramente  dependente  da  preferência  dos
que  lhes  compram  os  produtos;  a  mais  poderosa  empresa  perderia
seu  poder  e  sua  influência  se  perdesse  seus  clientes.

Há  cinquenta  ou  sessenta  anos,  era  voz  corrente  em  quase  todos
os  países  capitalistas  que  as  companhias  de  estradas  de  ferro  eram
por  demais  grandes  e  poderosas:  sendo  monopolistas,  tornavam  im-
possível  a  concorrência.  Alegava-se  que,  na  área  dos  transportes,
o  capitalismo  já  havia  atingido  um  estágio  no  qual  se  destruira  a  si
mesmo,  pois  que  eliminara  a  concorrência.  O  que  se  descurava  era
o  fato  de  que  o  poder  das  ferrovias  dependia  de  sua  capacidade  de
oferecer  à  população  um  meio  de  transporte  melhor  que  qualquer
outro.  Evidentemente  teria  sido  absurdo  concorrer  com  uma  des-
sas  grandes  estradas  de  ferro,  através  da  implantação  de  uma  nova
ferrovia  paralela  à  anterior,  porquanto  a  primeira  era  suficiente  para
atender  às  necessidades  do  momento.  Mas  outros  concorrentes  não
tardaram  a  aparecer.  A  livre  concorrência  não  significa  que  se  possa
prosperar  pela  simples  imitação  ou  cópia  exata  do  que  já  foi  feito  por
alguém.  A  liberdade  de  imprensa  não  significa  o  direito  de  copiar
o  que  outra  pessoa  escreveu,  e  assim  alcançar  o  sucesso  a  que  o  ver-
dadeiro  autor  fez  jus  por  suas  obras.  Significa  o  direito  de  escrever
outra  coisa.  A  liberdade  de  concorrência  no  tocante  às  ferrovias,
por  exemplo,  significa  liberdade  para  inventar  alguma  coisa,  para
fazer  alguma  coisa  que  desafie  as  ferrovias  já  existentes  e  as  coloque
em  situação  muito  precária  de  competitividade.

Nos  Estados  Unidos,  a  concorrência  que  se  estabeleceu  através
dos  ônibus,  automóveis,  caminhões  e  aviões  impôs  às  estradas  de
ferro  grandes  perdas  e  uma  derrota  quase  absoluta  no  que  diz  res-
peito  ao  transporte  de  passageiros.

O  desenvolvimento  do  capitalismo  consiste  em  que  cada  ho-
mem  tem  o  direito  de  servir  melhor  e/ou  mais  barato  o  seu  clien-
te.  E,  num  tempo  relativamente  curto,  esse  método,  esse  princípio,
transformou  a  face  do  mundo,  possibilitando  um  crescimento  sem
precedentes  da  população  mundial.

26 de maio de 2013

Frases venenosas - e geniais

Li isso na Revista Bula (na íntegra AQUI), e resolvi transcrever algumas, pois valem a pena:

— O adultério é a democracia aplicada ao amor.
H. L. Mencken

— Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive.
H. L. Mencken

— A guerra é a forma de Deus ensinar geografia aos americanos.
Ambrose Pierce

— Se as duas pessoas se amam, não pode haver final feliz.
Ernest Hemingway

— Qualquer idiota consegue ganhar a vida representando. Ora, Shirley Temple já fazia isso aos 4 anos!
Katharine Hepburn

— A cama é a ópera dos pobres.
Provérbio italiano

— Todo canalha é magro.
Nelson Rodrigues

— O casamento é a única aventura ao alcance dos covardes.
Voltaire

— Todos os casamentos são felizes. Tentar viver juntos depois é que causa os problemas.
Shelley Winters

— O filme é uma merda, mas o diretor é genial.
Paulo Francis

— Ser da classe média é achar Godard o máximo.
Paulo Francis

— Quando ouço falar em ecologia, saco logo meu talão de cheques.
Paulo Francis

— A ignorância é a maior multinacional do mundo.
Paulo Francis

— O balé é o beisebol das bichas.
Oscar Levant

— Todo homem se torna a coisa que mais despreza.
Robert Benchley

— Deus não existe e, se existe, não é muito confiável.
Woody Allen

— O que importa não é o fato, mas a versão.
José Maria Alkmin

— Se você tem de perguntar quanto custa, é porque não pode comprar.
J. P. Morgan

— A velhice é a paródia da vida.
Simone de Beauvoir

— Só há uma coisa mais rara do que uma primeira edição de certos autores: uma segunda edição.
Franklin P. Adams

— As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de uma eleição.
Otto Von Bismarck

— A mulher ideal é sempre a dos outros.
Stanislaw Ponte Preta

— Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto.
Otto Lara Resende

— Todas as coisas de que gosto ou são imorais e ilegais ou engordam.
Alexander Woollcott

— De vez em quando um homem inocente é escolhido para a legislatura.
Kin Hubbard

— A filosofia é composta de respostas incompreensíveis para questões insolúveis.
Henry Brooks Adams

— Na política é difícil distinguir os homens capazes, dos homens capazes de tudo.
Henri Béraud

— A maneira mais fácil de ficar livre da tentação é ceder a ela.
Tristan Bernard

— Fez o melhor que podia — é porque não foi bom o bastante.
Arthur Koestler

— Aquele que se casa por dinheiro, tem pelo menos um motivo razoável.
Gabriel Laub

— O homem se desenvolve, melhora ou corrompe, mas não cria nada.
Antoine Fabre d’Olivet

— Aplique o marxismo em qualquer país e você sempre encontrará um gulag no final.
Bernard-Henri Lévy

— O segredo do sucesso, nos negócios como no amor, é a dissimulação.
René Girard

— Nasce um otário a cada minuto.
P.T Barnum

— O patriotismo é o último refúgio dos canalhas.
Samuel Johnson

— Ao contrário do que se diz, pode-se enganar a muitos durante muito tempo.
James Thurber

— O objetivo do socialismo é elevar o nível de sofrimento.
Norman Mailer

— Perdoar, sim; esquecer, nunca.
John Kennedy

 
 

11 de dezembro de 2012

Endosso do LinkedIn - ou o samba do crioulo doido

Por vezes somos surpreendidos por algumas felizes coincidências.....

Meu texto de ontem, sobre os perigos de indicar ou recomendar um profissional, me permitiu receber alguns comentários interessantes.
Mas a grande coincidência foi a coluna da Marion Strecker na Folha de São Paulo de ontem.
Ela exemplifica muito bem a insanidade que caracteriza algumas situações bastante corriqueiras hoje.

Vamos ao texto:

Não passo um dia sem receber pedidos pela internet. Muitos vêm de desconhecidos, disfarçados na forma de "convites".

Vão desde solicitações simpáticas, com promessas de alegrias ou recompensas, até propagandas disfarçadas ou pedidos de presente para casamentos aos quais não fui convidada. Muitos são mensagens grosseiras, ainda que feitas sem intenção de ofender.

Convites para jogar ou usar aplicativos no Facebook recebo aos montes. Só que não tenho tempo para jogar e estou traumatizada com apps que copiam informações pessoais e saem disparando mensagem a todos os nossos amigos, às vezes sem o nosso conhecimento. Cansei.

Convites para usar novas redes sociais? Esse é outro tema que entope o meu e-mail. Já uso três redes. Cansei de testar outras e não gostar. Só vou mudar para uma nova se alguém muito especial me convencer de que vale a pena.

Recomendações profissionais são outro trauma para mim. Antigamente, se alguém que tivesse trabalhado diretamente comigo precisasse de uma carta de recomendação para pleitear um emprego específico, a pessoa me procurava numa conversa bem franca.

Os pedidos eram raros e vinham de quem eu conhecia muito bem profissionalmente. Por isso eu atendia com prazer.

Hoje recebo esse tipo de pedido aos montes por mensagens automáticas na internet. Todas as redes sociais profissionais fornecem a "facilidade" ao público, para que, num só clique, você possa disparar pedidos impessoais de recomendação para Deus e o mundo, mesmo que não esteja pleiteando um emprego específico naquele momento.

Parecem pedidos de recomendação preventivos, para ficar ali expostos como propaganda pessoal.

São pedidos de recomendação profissional de pessoas com quem nunca trabalhei e nem sequer conheço. Não é uma loucura?

Um exemplo, omitindo sobrenomes por cortesia. Em 20 de agosto, recebi pela rede LinkedIn a seguinte mensagem particular, intitulada "Você poderia me recomendar?"

"Prezado (sic) Marion,
Venho através desta solicitar uma breve recomendação sobre meu trabalho para que eu possa adicioná-la ao meu perfil do LinkedIn. Se tiver dúvidas, entre em contato.
Agradeço desde já pela ajuda.
Paulo Victor"

Fiquei intrigada. Será que esse Paulo trabalhou comigo, e eu não me lembro dele? Será que escreveu "prezado" em vez de "prezada" por erro de digitação? Deixei a mensagem repousar numa imensa pilha, que nunca terei tempo de zerar.

Em 13 de setembro me deparei de novo com ela. Resolvi tirar a dúvida. Então escrevi secamente o seguinte:
"Paulo Victor,
Você me conhece? Eu te conheço? Refresque-me a memória, por favor.
Marion"

Em 25 de novembro recebi a resposta, que reproduzo exatamente como chegou.
"Desculpe, não nos conhecemos pessoalmente.
Sou Paulo,
Estudante de Jornalismo
Quero ser Jornalista Internacional
Prazer : )"

Resumo: o cara achou que eu era um homem, não se deu ao trabalho nem de "googlar" meu nome e queria que eu o recomendasse por aí para ser um jornalista internacional, na supostamente melhor rede profissional da atualidade. 


Eu vou um passo adiante: no LinkedIn, já recebi pedidos de recomendação de gente que nunca conheci, mas o mais estranho é que agora, graças ao novo recurso "endorsements", recebi avisos do LinkedIn me alertando que "fulano" endossou minha habilidade em "marketing estratégico" ou "e-learning", ou qualquer outra coisa.
Detalhe: fulano que eu não conheço!

Ou seja: o camarada não me conhece, não tem a menor idéia se sou um pilantra como o descrito no post de ontem, não sabe se tenho a mínima competência no quesito, mas referendou minha suposta "habilidade"!!!!

É ou não é um samba do crioulo doido????

Sim, estou no LinkedIn, e acho uma ferramenta muito bem bolada, muito útil.
Mas tem gente que não se enxerga mesmo...

 

10 de dezembro de 2012

Indicações profissionais: o que não fazer. Ou: como entrei pelo cano tentando ajudar um pilantra

Indicações e recomendações de outros profissionais para certos cargos e/ou projetos é uma tradição. Algumas empresas, antes de iniciar um processo seletivo externo, preferem pedir aos seus atuais funcionários que façam indicações ou recomendações de profissionais que eles julgam qualificados para o cargo em questão.
Há quem PREFIRA contratar uma pessoa baseado na indicação feita por alguém “de confiança”.

Há alguns anos, surgiu a rede social LinkedIn, dedicada a desenvolver a rede de contatos (networking) profissionais de seus usuários. A idéia central é justamente facilitar contatos profissionais, recorrendo a ferramentas modernas, práticas e ágeis, baseadas na internet - o que, convenhamos, facilita muita coisa.
Mas quero tratar justamente dos perigos que rondam aqueles que resolvem recorrer às indicações, às recomendações - com ou sem o uso de ferramentas como o LinkedIn.

Pois bem. O LinkedIn pode ser extremamente útil para ajudar a controlar a networking, mas é preciso ter bom senso para usá-lo.
Eu não tive.
E errei noutros aspectos também. Vamos a eles.


No final de 2010, o marido de uma amiga minha de longa data estava planejando um novo negócio. Inicialmente ele me pediu algumas opiniões, e graças a isso tive algum contato com as idéias que ele e um sócio (Fred, que eu jamais conheci) tinham. Apontei alguns problemas nas idéias deles, mas sempre de forma superficial, pois não me foi solicitada uma opinião mais aprofundada, mais, digamos, “profissional”. Não me pareceu, na época, um negócio tão rentável quanto eles achavam que poderia ser, mas apenas viável, se tanto.

Como consultor empresarial, eu poderia, claro, fazer uma avaliação mais pormenorizada, mas aquela não era uma consulta formal, apenas algo baseado na amizade - inclusive porque as conversas acabavam acontecendo em situações sociais, completamente informais.

Em 2011, eles iniciaram o negócio para valer.
O Maurício e o sócio, Fred, se conheceram na empresa aonde ambos trabalhavam até 2010 - o Fred foi demitido no início de 2011, e o Maurício, em maio do mesmo ano.
Como eles já estavam elucubrando a empresa desde antes da demissão, havia tempo para fazer um planejamento. Mas não foi isso o que eles fizeram.
De qualquer forma, a demissão do Fred foi o “empurrão” definitivo para o início das atividades da empresa. Mesmo sem o planejamento que eu sugeri ao Maurício.

Começaram o negócio, e logo percebi que nenhum dos dois estava minimamente preparado para o período inicial de QUALQUER empreendimento - o que pressupõe dificuldades em fazer caixa, investimentos iniciais e paciência para aguardar o retorno.
O fato concreto é que em maio, após o Maurício ser demitido, acabou a única fonte de renda fixa da empresa - que, por estar começando, precisava ser “bancada” pelos sócios, o que é absolutamente esperado, normal.

A partir de junho, a situação começou a ficar mais complicada.
Em agosto o Maurício não tinha mais dinheiro para pagar as despesas PESSOAIS dele (aluguel, prestação do carro, água, luz, telefone etc). Aliás, nem a empresa tinha receita para cobrir seus próprios custos, nem os sócios tinham renda própria para sustentarem-se (excluindo o salário da esposa do Fred).

Deixando de lado vários detalhes irrelevantes, neste momento o Maurício pediu minha ajuda.
Ele queria que eu fizesse indicações de potenciais clientes para a empresa deles. Eles precisavam de clientes para gerar receita - e, assim, cobrir os custos da empresa e, com alguma sorte, conseguir uma renda mínima para cada um dos sócios.

Foi neste momento que começou o problema. Ou, ao menos, o primeiro.

Na ânsia de ajudar o Maurício, acabei deixando em segundo plano uma questão que JAMAIS deve ser ignorada.
Selecionei, em meio aos meus contatos, algumas possibilidades; fiz contatos diretos, por telefone ou e-mail, pedindo uma chance para que a empresa deles fizesse uma apresentação dos seus serviços; investiguei, junto a algumas pessoas, oportunidades para a empresa deles, e cheguei a intermediar algumas propostas. Mas deixei de lado a minha avaliação crítica.
O fato concreto é que, naquele momento, sob aquelas circunstâncias, e sob a gestão de 2 pessoas sem nenhuma capacidade ou experiência gerencial, a empresa estava fadada ao fracasso.

Eu, guiado pela amizade, acabei ignorando tudo isso, e tentei ajudá-los.

Hoje posso dizer que FELIZMENTE nenhuma das propostas e contatos que eu intermediara prosperou. Nenhum negócio foi fechado. Nada.
Ainda bem!

Por que eu digo “ainda bem”?!
Porque o tempo acabou me fazendo ver, forçosamente, aquilo que no primeiro momento eu ignorei - graças à amizade.

Primeira coisa: para recomendar uma pessoa (seja para um cargo, um projeto etc), você deve conhecer a pessoa suficientemente bem para saber se ela é CONFIÁVEL. Acabei descobrindo, em 2012, que o Maurício não é confiável. E, pelo que observei, o sócio dele também não era - mas este, como já disse, nem cheguei a conhecer.
A surpresa no quesito confiança veio em 2012: o Maurício invadiu minha conta no LinkedIn, alterou meu perfil, e colocou parte do meu currículo como se fosse dele. Volto a tratar disso mais adiante.

Segunda coisa: ainda que a pessoa seja confiável, é preciso avaliar se ela é a mais adequada para a indicação em questão.
Eu errei pois permiti que a amizade me cegasse no que tange à capacidade do Maurício em gerir a empresa. Eu achava que ela estava interessado em aprender, e que faria isso se tivesse oportunidades, mas eu estava errado.
Eu emprestei livros, mandei muita coisa para que ele lesse (inclusive materiais de aulas minhas), me coloquei à disposição para ensiná-lo, ajudá-lo, e o incentivei a fazer cursos - faculdade, inclusive.
Tudo à toa.
Uma cópia da minha dissertação de mestrado ficou perdida numa gaveta da casa dele por alguns meses, sem jamais ter sido tocada. Dezenas de artigos e links que enviei por e-mail tiveram o mesmo fim: o limbo da caixa de entrada.
Não apenas ele não tinha as competências e habilidades necessárias, como ele não tinha sequer interesse real em adquiri-las e/ou desenvolvê-las.
Em suma, a pessoa errada para dirigir uma empresa - não importa de qual tamanho.

É preciso notar o seguinte: eu criei o perfil dele no LinkedIn (neste momento, devo ter feito login no site usando o computador dele, e minha senha deve ter ficado armazenada, o que possibilitou a invasão do meu perfil), inicialmente eu mesmo atualizava muitas coisas porque ele não estava familiarizado com o site, e também usei a minha base de contatos no site para que ele conseguisse ter mais do que 2 ou 3 contatos apenas.
Fiz as “apresentações” por meio da plataforma, para ajudá-lo a começar a “networking”.
De uma certa forma, isso "transferiu" contatos meus para ele, mesmo sem que ele conhecesse aquelas pessoas - tenho ainda o e-mail de um amigo que respondeu o convite de contato do Maurício com a seguinte frase: "amigo do Munhoz é amigo meu".

Inicialmente, nosso acordo era de que eu daria este “ponta-pé” inicial, mas depois, paulatinamente, ele assumisse o controle. Mas depois percebi que nem mesmo nisso ele tinha interesse real (o problema do perfil inadequado: um empreendeor sem nenhuma vontade de aprender, e reduzida capacidade para melhorar, desenvolver-se).

Resumindo, uma pessoa nada confiável (que foi capaz de “roubar” minha conta na plataforma que eu apresentei a ele com uma finalidade que até hoje eu ainda não entendi), e com o perfil mais errado possível.
Eu errei, repito, ao não perceber isso antes.

Como eu não percebi que a mediocridade pessoal e profissional tinham a mesma causa?
Como eu ignorei o fato de que uma pessoa que nunca gerenciou nada, e que não tinha nenhum interesse efetivo em aprender, jamais poderia vir a gerir uma empresa de sucesso?
Olhando para trás, mea-culpa feita, só o que posso concluir é que deixei a ilusão suplantar a razão.

Racionalmente, nunca houve nenhum indício de que o Maurício tivesse a capacidade, a competência, a habilidade ou a vontade (real) ter uma empresa, de geri-la.
Mas deixei a racionalidade de lado.
Grande erro!

Assim, fica a lição: muito cuidado ao recomendar alguém.
Você pode estar prestes a colocar seu nome, sua credibilidade, em risco.
Não vale a pena fazer isso por um pilantra qualquer.

O segundo problema foi causado justamente porque eu fui querer ajudar um cara que trabalhava como analista de sistemas (a despeito de não ter formação nenhuma) a usar um simples site, o LinkedIn, mas não conseguia preencher uma porra de um currículo on-line!
Acabei deixando minha senha na memória do computador dele, possibilitando que ele “roubasse” meu perfil.

Portanto, além de ter cuidado com qualquer indicação ou recomendação,  jamais confie uma senha à memória do computador de ninguém - mesmo que não seja um site com dados bancários, cartões de crédito etc. Consegui recuperar minha conta no LinkedIn, mas deu muito trabalho.

Um trabalho que um pilantra desse naipe simplesmente não merece.

PS: Enquanto eu tentava recuperar o acesso ao meu perfil no LinkedIn, recorrendo ao SAC da empresa, minha advogada fez alguns "print-screens" do perfil que o pilantra "roubou". Estão NESTE ARQUIVO.
Ressalto o seguinte: ele mudou o nome, que aparece bem no cabeçalho, mas todas as recomendações escritas pelos meus alunos e contatos (mais abaixo) citam o MEU nome, e não o dele!
Além de tudo, o pilantra não consegue nem mesmo forjar um currículo falso crível!

 

2 de abril de 2012

Os 100 maiores livros não ficcionais

O suplemento “Livros”, do jornal inglês “The Guardian”, publicou uma lista dos 100 maiores livros não ficcionais já escritos. A lista, que gerou uma grande polêmica, foi dividida em 17 categorias: arte, biografia, cultura, meio ambiente, história, jornalismo, literatura, matemática, memórias, mente, música, filosofia, política, religião, ciências, sociedade e viagens. 

Livros das últimas décadas como “Notícia de um Sequestro”, de Gabriel García Márquez, “Pós-Guerra”, de Tony Judt, “Os Anéis de Saturno”, de W.G. Sebald, “Uma Breve História do Tempo”, de Stephen Hawking, dividem a lista com clássicos literários dos últimos séculos como “As Histórias”, de Heródoto, “Assim falou Zaratustra”, de Friedrich Nietzsche, “Os Ensaios” de Michel de Montaigne, “Confissões” de Jean-Jacques Rousseau e “Elogio da Loucura”, de Erasmo. 

O site do jornal também disponibilizou um formulário para que os leitores que discordarem do resultado possam apontar livros que ficaram fora lista. Como em qualquer lista, o resultado pode até ser questionável, mas não menos divertido. 


Michel Eyquem de Montaigne (Saint-Michel-de-Montaigne, 28 de fevereiro de 1533 — Saint-Michel-de-Montaigne, 13 de setembro de 1592) foi um escritor e ensaista francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente nos seus "Ensaios", analisou as instituições, as opiniões e os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade como objecto de estudo. É considerado um céptico e humanista.

Montaigne começou a sua educação com o seu pai. Este tinha um espírito por um lado vigilante e metódico e por outro aberto às novidades. Após estes estudos enveredou pelo Direito. Exerceu a função de magistrado primeiro em Périgoux (de 1554 a 1570) depois em Bordéus onde travou profunda amizade com La Boetie.

Retirou-se para o seu castelo quando tinha 34 anos para se dedicar ao estudo e à reflexão. Levou nove anos para redigir os dois primeiros livros dos Essais. Depois viajou por toda a Europa durante dois anos (1580-1581). Faz o relato desta viagem no livro Journal de Voyage, que só foi publicado pela primeira vez em 1774.

Foi presidente da Câmara em Bordéus durante quatro anos. Depois, regressou ao seu castelo e continuou a corrigir e a escrever os Essais, tendo em vista o estilo parisiense de exposição doutrinária. Os seus Ensaios compreendem três volumes (três livros). Os seus Ensaios vieram a público em três versões: Os dois primeiros em 1580 e 1588. Na edição de 1588, aparece o terceiro volume. Em 1595, publica-se uma edição póstuma destes três livros com novos acréscimos.

Os Essais são um autorretrato. O autorretrato de um homem, mais do que o autorretrato do filósofo. Montaigne apresenta-se-nos em toda a sua complexidade e variedade humanas. Procura também encontrar em si o que é singular. Mas ao fazer esse estudo de auto-observação acabou por observar também o Homem no seu todo. Por isso, não nos é de espantar que neles ocorram reflexões tanto sobre os temas mais clássicos e elevados ao lado de pensamentos sobre a flatulência. Montaigne é assim um livre pensador, é um pensador sobre o Humano, sobre as suas diversidades e características. E é um pensador que se dedica aos temas que mais lhe apetecem, vai pensando ao sabor dos seus interesses e caprichos.

14 de julho de 2011

Raciocínio e discussões

Um excelente texto, publicado na Folha de São Paulo de 25 de junho trata da evolução do raciocínio humano. Lendo esta matéria, lembrei muito de Schopenhauer.
De qualquer forma, vale a leitura:

Raciocínio evoluiu por causa de discussões
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Num artigo impactante, que vira do avesso alguns dos pressupostos da filosofia e da psicologia evolucionista, os pesquisadores franceses Hugo Mercier (Universidade da Pensilvânia) e Dan Sperber (Instituto Jean Nicod) sustentam que a razão humana evoluiu, não para aumentar nosso conhecimento, mas para nos fazer triunfar em debates.
Desde alguns gregos, mas especialmente com René Descartes (1596-1650), consolidou-se a ideia de que a razão é um instrumento pessoal para nos aproximar da verdade e tomar as melhores decisões possíveis. "Penso, logo existo" é a divisa que celebrizou o pensador francês.
Se esse esquema é exato, como explicar que o pensamento humano erre tanto? Como espécie, fracassamos nos mais elementares testes de lógica, não conseguimos compreender noções básicas de estatística e nascemos com uma série de vieses cognitivos que conspiram contra abordagens racionais.
A situação não melhora quando quando abandonamos o reino das abstrações para entrar no terreno do interesse pessoal. Vários estudos têm mostrado que a maioria das pessoas comete verdadeiros desatinos lógico-financeiros ao administrar seus fundos de pensão.
Mercier e Sperber afirmam que é possível explicar esse e outros paradoxos se deixarmos de lado a noção clássica para adotar o que chamam de teoria argumentativa. Apresentam uma convincente massa de estudos e evidências em favor de sua tese.
A ideia básica é que a capacidade de raciocinar é um fenômeno social e não individual, cujo objetivo é persuadir nossos semelhantes e fazer com que sejamos cautelosos quando outros tentam nos convencer de algo.


SOLUÇÕES
A teoria, dizem os autores, não só faz sentido evolutivo como ainda resolve uma série de problemas que há muito desafiavam a psicologia.
O mais importante deles é o chamado viés de confirmação, que pode ser definido como "buscar ou interpretar evidências de maneira parcial, para acomodar crenças, expectativas ou teorias preexistentes". O fenômeno está na base daquela mania irritante de políticos de só responder o que lhes interessa.
O viés de confirmação é ainda uma das razões de persistência no erro, mesmo quando ele nos prejudica.
Temos dificuldade para processar informações que contrariam nossas convicções. Em suas versões extremas, ele produz pseudociências, fé em religiões e sistemas políticos e também teorias da conspiração.
Sob o modelo clássico, o viés de confirmação é uma falha de raciocínio mais ou menos inexplicável.
Mas, se a razão foi selecionada para nos fazer vencer em debates, então faz sentido que eu busque apenas provas em favor da minha tese, e não contra ela.
Adotada a lógica da produção de argumentos, o que era erro se torna um dos pontos fortes da teoria.
FENÔMENO SOCIAL
O modelo tem, evidentemente, implicações fortes. A mais evidente delas é que a razão só funciona bem como fenômeno social. Se pensarmos sozinhos, vamos muito provavelmente chafurdar cada vez mais fundo em nossas próprias intuições.
Mas, se a utilizarmos no contexto de discussões, aumentam bastante as chances de, como grupo, nos dar bem. Ainda que nem sempre, por vezes as pessoas se deixam convencer por evidências.
Trabalhos mostram que, quando submetidas a situações nas quais é preciso chegar a uma resposta correta (testes matemáticos ou conceituais), pessoas atuando sozinhas se saem mal, acertando em torno de 10% das respostas (Evans, 1989).
Quando têm de solucionar os mesmos problemas em grupo, o índice de acerto vai para 80%. É o chamado efeito do bônus de assembleia.
Teoria tem várias aplicações em educação e política
A teoria dos franceses pode ter aplicações práticas na educação e na política.
Crianças se beneficiariam de mais trabalhos em grupo na escola -desde que bem desenhados, é claro.
Já a política, ganharia se conseguíssemos enfatizar situações deliberativas, em vez de apenas coletar opiniões.
O pensamento coletivo é um bom caminho, concluem os autores. Mas naturalmente não existem garantias.
Embora as grandes realizações da humanidade tenham vindo através do exercício coletivo da razão, apenas esforçar-se para utilizá-la não basta. Os sucessos dependeram em boa medida de sorte epistêmica.
REPERCUSSÃO
O artigo de Mercier e Sperber foi publicado na edição de abril de "Behavioral and Brain Sciences", que costuma trazer um texto de fôlego e vários comentários menores de especialistas das mais variadas áreas.
Como não poderia deixar de ser, eles apontam uma série de dificuldades e pontos controversos da teoria.
Um dos mais lembrados é que os autores parecem subestimar a possibilidade de a razão -sob as condições certas- nos levar a decisões individuais corretas, mesmo que ela não tenha exatamente evoluído para isso.
Há também quem conteste as próprias bases da pesquisa, como a cientista Darcia Narvaez, da Universidade Notre Dame, na França.
De acordo com a pesquisadora, os estudos sobre raciocínio são deterministas e enviesados, ignorando grande parte das situações em que usamos a razão. (HS)

3 de agosto de 2009

Goodbye.......Back!!!!

E acabaram-se as férias.
Triste.



Na verdade, o fim destas férias é mais do que triste, é DEPLORÁVEL.
Ainda tinha tantas coisas a fazer !!!!!
Acho que vou começar a reservar alguns dias de descanso, a cada 2 meses..... Li um post semelhante, no blog do Cherto (AQUI), e concordo com ele.

Há alguns anos, eu via as férias (ou até mesmo feriados) como um entrave - verdadeira perda de tempo.
Acho que os anos estão pesando, e começo a QUERER as férias, feriados, descansos......



Bom, isso tem a ver não apenas com a idade - mas também com a cambada de incompetentes com os quais temos que lidar em nosso dia-a-dia. Na minha modesta opinião, pelo menos, este ano de 2009 tem sido incrivelmente difícil.

MUITO tempo não me deparava com tantos incompetentes e picaretas profissionalmente.
Acho que a última vez que senti isso foi lá pelos idos de 1998 ou 1999, com um certo sindicato de médicos - um cliente daqueles que simplesmente não pagam a dor de cabeça que causam.

Desde então, 2009 foi, de longe, o pior momento.
Foram tantos incompetentes que perdi a conta........

Mas, agora, é preciso encarar alguns destes incompetentes novamente........
Plagiando o magnífico AC/DC......

16 de julho de 2009

Reflexões filosóficas (02)

Depois de escrever algumas linhas sobre o TALENTO, quero tratar, agora, de outro ponto, ainda que correlato - mas diferente.
TESÃO.

Não sei quanto a você, caro leitor, mas eu sou movido a tesão.
Qualquer tarefa a ser realizada, desde a mais simples e banal, até a mais complexa, deve vir acompanhada de TESÃO - vontade real de fazer aquilo, sejá lá o que for.
Para lavar o carro, preciso estar com tesão - caso contrário, levo ao lava-rápido (isso se a preguiça não for maior, como ontem).
Para escrever um artigo, preparar uma prova, fazer um relatório ou análise etc....para tudo isso, preciso estar com tesão.
Senão, sento no sofá, ou então vou tomar uma Coca, fumar um cigarro, olhar para o infinito.....

Isso vale para tarefas profissionais, pessoais e quaisquer outras. Sem tesão, não há solução (era esse o título de um livro, não ?!).

Mas aí, fico pensando o seguinte: diante desse cenário lastimável da falta de talento (ou excesso de gente incompetente no mundo, tanto faz), como manter o tesão ?

Quando comecei a lecionar, tinha um tesão inexplicável, incomensurável.
Chegar mais cedo na faculdade ? Maravilha !
Aceitar atender um aluno em horários alternativos para ajudar num trabalho qualquer ? Sem problemas.
O plano de aulas estava sempre prontinho 2 semanas antes do início do semestre letivo, e os materiais de todo o semestre já estavam prontos, revisados...... Provas, trabalhos e atividades das aulas ?! 100% prontas, planejadas, impressas (ou digitalizadas).

Mas como MANTER isso com o passar do tempo - pior ainda: como manter isso ao longo do tempo, quando vemos gente incompetente, sem nenhum talento, atrapalhando-nos diariamente.
Pior do que atrapalhar é aquela gente que trabalha CONTRA, ou seja, faz o possível e o impossível para minar o nosso trabalho - seja de forma aberta, "descarada", seja veladamente.

O que fazer, então, quando o tesão se perde ?!



Para ser sincero, agradeço quaisquer sugestões para manter o tesão em alta, a despeito dessas adversidades. Confesso que, neste ano, tive tantos contratempos, tanta gente (sem talento, incompetente) trabalhando contra, conspirando (puxa, que dramático!), que fui perdendo gradativamente o tesão em muitas coisas.

Adoro estar em sala de aula, lecionar - mas não tenho mais o menor saco para corrigir provas, trabalhos, ler porcarias, lutar contra a burrocracia...... Lecionar ainda me dá MUITO tesão, mas junto com essa tarefa prazerosa acabam vindo outras, chatas, irritantes.
Como contornar isso ?!

Como continuar fazendo aquilo que dá tesão ("thrill"), e concomitantemente escapar das porcarias que irritam, atrapalham ?!
E quando essas porcarias avolumam-se, sobrepujando o tesão ?

O que fazer quando se perde "that loving feeling" ?!



Não quero nem ouvir aquele amontoado de besteiras do povo do RH, sobre "motivação" e afins.
Não há motivação que supere tantas cagadas, tanta gente incompetente nas posições de chefia, tantos incompetentes trabalhando para atrapalhar o NOSSO trabalho.
Impossível falar em motivação neste contexto. Devido a tantos incompetentes, sem talento, só resta a desmotivação.

No meu caso, confesso, a única coisa que mantém a vontade de seguir lecionando é justamente o feedback que recebo dos alunos.
Tirando isso, não sobra NADA.
Absolutamente NADA.

E aí, o que fazer ?!

13 de julho de 2009

Reflexões filosóficas (01)

Eu estava para iniciar, aqui no blog, uma série de posts mais "intimistas", por vezes até "filosóficos".
A falta de tempo nos últimos meses (em particular nos 2 últimos) me impediu.
Agora, em férias, tive tempo de atualizar algumas coisas, inclusive a cabeça.

E, ao assistir a algumas coisinhas no YouTube, além do que tenho refletido sobre várias coisas, resolvi iniciar a tal "série" - que, já aviso, não garanto fazer de forma sequencial, "bunitinha".

Mas eu queria falar sobre o TALENTO, para iniciar.....
Bom, comecei a pensar sobre isso ao ver esse vídeo aqui:



Sou fã de longa data do Dire Straits. Desde que o álbum Brothers in Arms foi lançado, em 1985, ouço direto. Um dos últimos álbuns da banda, On Every Street, eu acho genial - e lembro de tê-lo comprado, assim que foi lançado, em VINIL. Eu ainda não tinha CD (nem lembro se já existia ou não, mas EU não tinha).

E hoje, cada vez que vejo Mark Knopfler tocando (seja no Dire Straits, seja em carreira solo), fico pensando sobre o TALENTO.

O cara nunca foi considerado (nem quis) nenhum "virtuoso" na guitarra. Mas seu estilo de tocar é SENSACIONAL.
Não me refiro apenas à velocidade, mas ao feeling, à técnica, à harmonia.....
Contudo, ninguém pode dizer que Mark Knopfler é um cantor de voz potente, um showman (pelo menos se tivermos como base de comparação nomes como Freedie Mercury, Bruce Dickinson, Ronnie James Dio, David Coverdale etc).
Ainda assim, o cara "inaugurou" a MTV (americana) nos anos 80, compôs músicas geniais, é um guitarrista respeitado (que já tocou ao lado de gente como Clapton, Phil Collins, Luciano Pavarotti, Sting, Paul McCartney etc), e faz shows incríveis.

O que sustenta tudo isso ?!
TALENTO.

É difícil DEFINIR o que é talento, mas é impossível não reconhecê-lo ao ver demonstrações simples, práticas, reais.

O passar do tempo não "enfraquece" o talento - pelo contrário, só o desenvolve mais.



Ainda assim, o talento é pouco valorizado. Ao menos na prática.
Em particular no Brasil (conquanto não seja "apenas" aqui), o talento é preterido, geralmente em benefício de algo mais "comercial", vendável.
Músicos talentosos não têm apelo comercial, mas os tchans, os créus, as bundas têm.
BBBs, aprendizes e outros lixos têm espaço garantido na TV, mas coisas de qualidade ficam escondidas na madrugada, ou em canais "alternativos" (em tempo: recomendo a minisérie "Som e Fúrua", da Globo - genial!).

Vemos isso não só na música, aliás.

Nas empresas, pessoas com talento são preteridas em prol do "cunhado do vizinho do diretor" ou algo equivalente.
Pessoas com competência e talento não acham espaço, seja pela politicagem do pior tipo (os "QI"s), seja pela incapacidade assombrosa que o RH tem em selecionar os ruins em detrimentos dos talentosos.

O resultado dessa falta de preocupação com o talento, com a competência, no caso da música é mais fácil de perceper - basta ligar a TV e ver as bundas balançando, as "modelos-manequins-atrizes-apresentadoras" nas capas de Playboys (nada contra a Playboy em si, claro!) e afins.

E quando nós temos que conviver com profissionais sem talento nenhum, vexatoriamente incompetentes e incapazes, como "pares" ?!

Há alguns anos, quando decidi minha incursão pelo universo acadêmico, como docente, eu tinha esta (falsa) impressão de que no mundo acadêmico, diferentemente do "mercado", o talento e competência seriam mais relevantes do que a politicagem, e as bundas.
Eu estava redondamente (sem trocadilho) enganado.

O mundo acadêmico também é repleto de bundas, créus, BBBs, fazendas e aprendizes.

O maior problema, contudo, é que os professores têm a árdua tarefa de formar as próximas gerações.
Contudo, é lamentável ver o tipo de professores que hoje estão a cargo desta tarefa - árdua, sem dúvida, mas extremamente prazerosa, recompensadora.
Pessoas despreparadas, verdadeiros PICARETAS, que tomam ações ridículas, falam bobagens vexatórias - mas têm pose, se acham verdadeiros "líderes do BBB".

Quantas e quantas vezes eu não presenciei certos "professores" falando besteiras inacreditáveis para alunos - que, muitas vezes, têm uma forte crença de que seguir as orientações e conselhos daquele professor é uma quase obrigação ?!

Mas e o TALENTO ?
Devido à relação de proximidade e confiança que tenho com (muitos dos) meus alunos, acabou ouvindo certas "confissões" e relatos sobre outros professores. Eles incluem elogios, indiferença, e críticas.
Obviamente, todos devem ser contextualizados, e não podem ser tomados como verdade absoluta - são pontos de vista. Mas são os pontos de vista DOS ALUNOS - aqueles a quem, EM TESE, os professores devem servir, ou seja, os "clientes finais".

Posteriormente, somando-se estes relatos e informações à observação do comportamento efetivo de alguns destes docentes BBBs, porém, fica evidente que as críticas dos alunos, em grande medida, eram mais do que procedentes - por vezes, inclusive, eram críticas até suaves demais, dada a arrogância, o despreparo e a completa falta de talento dos professores.


Contudo, não é APENAS em nível docente que falta talento.....na gestão (ou gerência, ou coordenação, direção etc) destes professores, também.


Reunião de professores em pleno sábado (por quê ?! Não tem um dia pior para isso ?! Digamos domingo, às 8 da noite ??????). OK.

Todo aquele blábláblá que não leva a lugar nenhum.

Reunião termina; nenhuma decisão relevante, nenhuma informação minimamente útil. 4 horas perdidas.
Na saída, por acaso, caio na besteira de ir confirmar, na Secretaria, o horário da minha aula da segunda-feira, se a primeira ou se a segunda (esclarecendo: a reunião do sábado antecedia o início do ano letivo, na segunda-feira posterior).
Só então (repito: POR ACASO) sou informado de que a minha disciplina teria sofrido uma alteração, e ela NÃO teria espaço na grade naquele semestre.

Ninguém teve a gentileza, a educação, a competência, o TALENTO GERENCIAL de avisar o professor da disciplina.
Ninguém teve o bom senso de imaginar que o professor (no caso, este otário que vos escreve) já estava com o planejamento da disciplina PRONTO para o semestre inteiro.
Ninguém avisou nada. Acabei sabendo por ACASO - e um acaso bastante improvável, pois a reunião já havia acabado, e supostamente eu já deveria ter ido embora.
Fui discutir um outro assunto, sem nenhuma relação, e acabei perguntando sobre o horário apenas para desencargo de consciência, confirmação daquilo que eu achava já estivesse absolutamente confirmado.


Será que isso foi um fato isolado ?!
NÃO.

Este exemplo é capaz de tipificar a absoluta e vexatória falta de talento - que, em muitos casos, confunde-se com COMPETÊNCIA.

Falta talento (e/ou competência e/ou ambos) à pessoa (teoricamente) responsável pela coordenação (gestão, gerenciamento etc) das atividades, das pessoas.
Contudo, estas pessoas que DEVERIAM ser responsáveis por isso geralmente são aquelas que em seus discursos enfatizam a importância dos RECURSOS HUMANOS.

Isso acontece nas empresas, com gestores de RH, mas acontece TAMBÉM no mundo acadêmico-universitário - e, neste caso, usualmente envolvendo professores com títulos e mais títulos, cursos e mais cursos, cujos conteúdos teoricamente são repletos de técnicas de psicologia, antropologia, sociologia, educação, pedagogia etc.....
Pessoas que em seus discursos falam de gestão de aprendizagem, de pessoas, de liberdade, respeito, competência e muito mais - porém, na prática, "esquecem" de gerir as pessoas.
Esquecem de detalhes como informar o professor que ele não terá aquela disciplina - de preferência, ANTES que o otário do professor prepare as aulas, o planejamento etc.

Outro exemplo: minha aula foi cancelada/transferida, mas eu fico sabendo disso por meio dos alunos, DEPOIS que já estou instalado na sala de aula.
A coordenação "esqueceu" de me avisar - mas combinou tudo com os alunos, com a Secretaria, com o faxineiro, com o porteiro, com a "tia" do dog...... Só o otário aqui não foi avisado!
Resultado: recolhi minhas coisas, e fui embora para casa - o que significa que perdi 4 horas entre o trânsito enfrentado para CHEGAR na faculdade, comer um cachorro-quente e voltar para casa. Nunca gastei tanto tempo (e gasolina, dinheiro do estacionamento, paciência de ficar parado na Marginal) para comer um cachorro-quente !!!!

É ou não é falta de talento ?!

O que dizer, então, daqueles professores saboneteiros ?!
Eu, na graduação, tive alguns.
O perfil desse tipinho é sempre o mesmo: tem algum diploma/título de uma faculdade de renome, mas nunca fez nenhum trabalho, pesquisa, artigo ou tese minimamente relevante; o pior, contudo, é que o tipinho se acha a terceira bolacha do pacote - mas, na prática, não tem NENHUM talento ou competência para ensinar.

Tive um professor de gestão de produtos assim, na graduação - Rittner.
Só sabia falar de Dove. Para as aulas medíocres dele, o único exemplo para qualquer teoria era o Dove.
Qualquer pergunta sobre outro tipo de produto era descartada. Só Dove interessava.

Para quem é da área de marketing, não é preciso explicação adicional.
Para quem não é, eu explico a fixação pelo Dove: sabonete é o tipo de produto que cabe de exemplo para virtualmente todas as teorias básicas de gestão de produtos (um dos Ps do mix de marketing). Isso significa o seguinte: o cara tinha preguiça para pesquisar qualquer outro exemplo para ilustrar as teorias, então ficava sempre no Dove. Mas o pior é que ele se achava a terceira bolacha do pacote, a última Coca-Cola do deserto - e suas aulas eram incrivelmente chatas, soníferas, e desprovidas de conteúdo.

Esse é o tipo picareta: enche os alunos de xerox de matérias de jornais e revistas, mas não dá rigorosamente nenhum embasamento teórico; fica sempre nos mesmos exemplos maçantes nas aulas, para não ter que se arriscar a tratar de exemplos que possam demonstrar que ele não domina o assunto; tem aquele tom monocórdico nas aulas, que faz com que qualquer um durma em no máximo 30 minutos; enche a lousa de bobagens sem sentido, para dar a impressão de "ter conteúdo"; faz provas complexas, ilegíveis, para parecer que "exige" muito dos alunos.

Estes poucos exemplos que eu narrei aconteceram comigo, na vida acadêmica (como aluno, no caso do saboneteiro, ou como professor). Mas eles são exemplos que valem para o mercado de trabalho "normal" (empresas).
Passei por situações semelhantes/análogas na vida profissional, como consultor e/ou empregado (se bem que "empregado" foi por pouquíssimo tempo).
Incompetentes como "pares", como chefes..... E eu, de mãos atadas.

Todos nós passamos por situações assim. Temos que conviver com os incompetentes, os sem-talento que se metem a fazer alguma coisa para a qual não têm nenhum preparo, nenhuma vocação - inclusive atendentes do SAC, funcionários de banco, atendentes do SAC, atendentes do SAC etc...

Novamente, pergunto: E O TALENTO ?

Ahn, é só um detalhe, né ?!
Afinal, temos as bundas do tchan, os bichinhos da fazenda, as modelos-manequins-atrizes-apresentadoras da vida.

Não precisa de talento, basta ter bunda.