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27 de abril de 2012

Invenção da Xerox, a empresa das copiadoras, que acabou sendo copiada

Ironia do destino: a Xerox, empresa que ficou mundialmente famosa como sinônimo de copiadora (ou máquina de "xerox" mesmo) acabou tendo uma de suas maiores invenções copiadas.

Anos depois, a Xerox enfrenta dificuldades. Enquanto isso, MicroSoft e Apple estão entre as maiores (e mais lucrativas) empresas do mundo - especialmente a Apple.

Eis o vídeo interessantíssimo de uma propaganda de 1972, na qual a Xerox apresentava sua visão sobre o futuro do "computador":

Interessante, não?!

Em abril de 2012 (alguns dias atrás!), leio esta matéria no Valor Econômico (íntegra AQUI):

A Xerox registrou lucro líquido de US$ 269 milhões no primeiro trimestre deste ano, uma queda de 4% na comparação com o mesmo período de 2011. As vendas da empresa de tecnologia apresentaram queda de 5%, também em bases anuais, para US$ 1,59 bilhão. Por outro lado, o faturamento com serviços e aluguéis, no entanto, subiu 4%, a US$ 3,77 bilhões.Logo xerox
Com isso, a receita líquida da companhia ficou quase estável, em US$ 5,50 bilhões, um avanço anual de 1%. No entanto, esses ganhos foram neutralizados também por um crescimento igual dos custos e despesas gerais, que finalizaram o trimestre em US$ 5,19 bilhões.

O balanço do primeiro trimestre mostrou uma redução da eficiência da Xerox. A margem operacional cedeu 0,6 ponto percentual na comparação com o mesmo período de 2011, até 8,5%.

Para voltar a se expandir, a empresa confirmou que vai continuar investindo no segmento de serviços. “Agora, os serviços representam mais de metade de nossa receita total e vão continuar sendo o motor de crescimento de nossa companhia, enquanto aumentamos nossa oferta de BPO (terceirização de processos de negócios, na sigla em inglês)”, afirmou Ursula Burns, presidente-executiva da Xerox.

No primeiro trimestre deste ano, a receita da companhia com BPO subiu 13%, frente aos mesmos meses de 2011. Enquanto isso, o ITO, que se refere à terceirização em tecnologia da informação manteve-se estável.

E como estão Apple e MicroSoft agora em 2012?!
Apple tornou-se maior do que MicroSoft e Xerox SOMADAS, por exemplo, e tornou-se aquela empresa capaz de influenciar resultados das maiores bolsas de valores do mundo todo:

A forte alta das ações da Apple e os comentários “suaves” (dovish) do presidente do Federal Reserve deram impulso aos mercados de ações e o índice Nasdaq Composite encerrou o pregão com a maior alta do ano.

O índice Dow Jones subiu 0,69% e fechou aos 13.090,723 pontos, enquanto o S&P-500 avançou 1,36% e fechou aos 1.390,69 pontos.

O Nasdaq subiu 2,30% e fechou aos 3.029,63 pontos, impulsionado pela alta de 8,87%, para US$ 610,00, das ações da Apple. Na noite de terça-feira, a gigante do setor de tecnologia anunciou robustos lucros no primeiro trimestre, que foram impulsionados pelas fortes vendas do iPhone e do iPad.

O balanço da Apple ajudou a dissipar os temores de uma potencial desaceleração nas vendas do iPhone e deram impulso as ações do setor de tecnologia nos Estados Unidos e ao redor do mundo.

A alta de hoje foi a maior das ações da Apple desde novembro de 2008 e ajudou a apagar boa parte das perdas acumuladas desde o início do mês. A Apple viu o seu valor de capitalização no mercado disparar quase US$ 50 bilhões hoje, acrescentando no mercado o valor equivalente a uma Hewllet-Packard em apenas uma sessão.

“A máquina da Apple está intacta”, disse Jeff Morris, gerente de carteira e chefe de transações com ações da Standard Life Investments. “De tempos em tempos, o mercado fica preocupado sobre a possibilidade da Apple ficar grande demais para crescer, mas o crescimento da receita, as margens e os lucros parecem ter silenciado” esses temores, acrescentou.

O balanço da Apple deu impulso as ações da Broadcom, uma fornecedora da cadeia de produção do iPhone, que subiram 6,07%. Isso, por sua vez, fez o setor de tecnologia registrar o melhor desempenho no S&P-500, em um dia que todos os 10 setores do índice fecharam em território positivo.

Matéria do Valor Econômico de 25/04/2012, na íntegra AQUI.

Quanto à MicroSoft....

A Microsoft teve uma receita de US$ 17,41 bilhões em seu mais recente trimestre fiscal - o terceiro do ano de 2012, segundo o calendário da companhia. Já o lucro teve uma ligeira retração de 2,3%, ficando em US$ 5,1 bilhões (foram US$ 5,23 bilhões no mesmo período do ano passado).

O resultado satisfez analistas, já que o lucro por ação divulgado pela companhia ficou acima das estimativas compiladas pela Bloomberg: foi de US$ 0,60, contra projeções de US$ 0,57. Às 17h33, as ações da companhia subiam 2,90% nas negociações que acontecem após o fechamento do mercado, o after market.

Das cinco linhas de operação da empresa, apenas a de Entertainment & Devices teve queda nas receitas: 16%, para US$ 1,62 bilhão. De acordo com a companhia, a unidade foi impactada pela desaceleração nas vendas do console Xbox 360. O melhor desempenho ficou com a área de Server and Tools - que vende softwares para os departamentos de tecnologia da informação (TI) das empresas. A receita cresceu 14%, para US$ 1,73 bilhão.

"Com a proximidade do lançamento de novos PCs e tablets equipados com o Windows 8, a chegada da nova versão do Office e uma grande variedade de produtos e serviços para empresas e consumidores residenciais, vamos entregar muita coisa para nossos consumidores ao longo do ano", escreveu Steve Ballmer, executivo-chefe da Microsoft em comunicado.
Extraído do Valor Econômico de 19/04/2012, na íntegra AQUI.


RESUMINDO: A HISTÓRIA PODE SER MUITO CRUEL COM EMPRESAS QUE TÊM BOAS INVENÇÕES MAS FALHAM AO TRANSFORMÁ-LAS EM INOVAÇÕES.

 

6 de agosto de 2008

Patentes e inovação

Excelente artigo publicado no Valor Econômico de 05/08/08:

Em matéria publicada recentemente no presente jornal ("Queda no registro de patentes frustra política industrial" publicada no Valor de 13/06/08) fica evidenciado que há uma queda considerável no triênio (2005/07) do número de patentes depositadas pelo Brasil nos Estados Unidos, refletindo portanto questionamentos a respeito da política de incentivo à inovação no país.

A utilização do número de patentes como indicador de inovação de um país pode ser absolutamente questionável por diversos motivos. Primeiro, porque há países, a exemplo do próprio EUA, que estabelecem critérios muito abrangentes para análise dos pedidos depositados, permitindo assim uma grande permeabilidade e grande número de concessões de patentes sem que seja acompanhada de uma qualidade, tanto do conteúdo da patente como da invenção em si. Assim, vários depósitos podem cercar uma única invenção, reivindicando diferentes proteções. Ou seja, o número de patentes não é necessariamente equivalente a várias invenções.

Outra consequência igualmente grave é que a possibilidade de se patentear qualquer coisa por um sistema muito permeável, tal como pequenas variações de produtos já consolidados no mercado, incentiva mais uma perpetuação do monopólio e do mercado do que realmente o desenvolvimento de reais inovações.

Segundo, porque nem toda patente leva a uma inovação, além de proteger suas invenções pelo sistema de patentes. Pesquisadores são julgados pelo número de patentes depositadas mesmo que não sejam concedidas ou licenciadas para futuras comercializações.

Ou seja: a patente é um fim ou um meio?

No caso do setor farmacêutico, vários estudos evidenciam que o crescente fortalecimento do sistema de proteção patentária ao longo dos últimos 15 anos não acompanha a taxa de inovação no setor, que é cada vez mais decrescente. Os mesmos ressaltam um aumento do número de medicamentos do tipo "me too" ("eu também" em português) - princípios ativos que seguem um padrão de estrutura molecular já estabelecido num grupo terapêutico, apresentando um mesmo mecanismo de ação farmacológica - com pouco ou nenhum ganho terapêutico.

Um inquérito publicado em abril de 2005 pela La Revue Prescrire concluiu que 68% dos 3.096 novos produtos aprovados na França entre 1981 e 2004 não trouxeram "nada de novo" em relação às preparações previamente disponíveis. De forma similar, a revista científica British Medical Journal publicou um estudo no qual demonstra que nem 5% de todos os medicamentos recentemente patenteados no Canadá podem ser considerados como reais inovações. Além disso, uma análise detalhada de uma centena de novos medicamentos aprovados pela Agência dos Estados Unidos para Regulação de Medicamentos e Alimentos (FDA), entre 1989 e 2000, revelou que 75% não apresentavam benefício terapêutico em relação aos produtos já existentes.

Um terceiro ponto de questionamento é a concessão de patentes injustificadas que apenas estendem o monopólio de objetos já protegidos anteriormente, podendo afetar negativamente políticas sociais - tais como a de acesso a medicamentos -, componente fundamental de uma política de desenvolvimento de um país.

Práticas monopolistas neste setor vêm cada vez mais refletindo uma dificuldade na promoção do acesso a ferramentas essenciais de saúde, em virtude da prática de preços altos por partes das empresas farmacêuticas transnacionais, bem como diminuição do número de fornecedores no mercado internacional.

Ainda que existam as chamadas flexibilidades para proteção da saúde pública previstas no acordo sobre propriedade intelectual (Acordo Trips) da OMC, como é o caso da licença compulsória, muitos países em desenvolvimento vêm sofrendo ataques infundados por parte de países desenvolvidos e suas empresas farmacêuticas.

Não por acaso, foi conduzido durante dois anos um processo de negociação entre os países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS), plantado principalmente pelo governo brasileiro - que propôs junto com o Quênia a resolução -, sobre saúde pública, inovação e propriedade industrial. A base que fundamentou essas discussões partiu de um relatório publicado em 2006 por uma Comissão de especialistas internacionais (conhecida como CIPIH), igualmente comanditada por iniciativa desses países na OMS, chegando a um diagnóstico muito simples: o atual sistema de patentes, que permite a concessão de monopólios, não estimulou o desenvolvimento de inovações em saúde orientadas para as necessidades dos países em desenvolvimento e afetou o preço e o acesso a produtos essenciais, tal como presenciamos com o caso dos anti-retrovirais para Aids.

Em maio de 2008, chegou-se, após luta árdua, a uma Resolução da Assembléia Mundial de Saúde que solicita a criação de um grupo de trabalho com especialistas para avaliar "propostas para fontes novas e inovadores de financiamento para estimular a Pesquisa e Desenvolvimento" para enfrentar as necessidades em saúde dos países em desenvolvimento. O desafio agora é estudar modelos de incentivo à inovação que sejam orientados pelas necessidades em saúde, e não pela lucratividade potencial do mercado. Também estão na mesa propostas ainda incipientes de estudiosos de diferentes partes do mundo, que buscam desvincular o custo da inovação do preço dos medicamentos, tais como modelo de prêmios, pool de patentes e outros. Além disso, também foi a oportunidade de garantir apoio da OMS para que os países em desenvolvimento possam utilizar as flexibilidades do Trips de proteção à saúde pública.

Espera-se, portanto, que o Brasil tenha coerência interna no âmbito da nova política industrial que contempla o novo complexo industrial de saúde, para que sejam buscadas inovações voltadas para as necessidades do país e dos demais países em desenvolvimento, muito embora isso não vá significar necessariamente um aumento no número de patentes.

Gabriela Costa Chaves é farmacêutica da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais de Médicos Sem Fronteiras