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7 de maio de 2013

ENADE 2012 (1)

Hoje, finalmente, consegui ler a prova de Administração do ENADE 2012.

A prova, no geral, está entre ruim e péssima. O lado bom é que a anterior, de 2009, estava entre péssima e medonha. Portanto, houve uma melhora.
Para quem quiser verificar a prova, pode fazer o download AQUI. O gabarito pode ser baixado AQUI

Como eu havia feito em 2009, pretendo fazer uma análise mais detalhada das questões de marketing e TGA/Administração geral.

Em breve.

Por ora, todavia, quero ressaltar o que o MEC/Inep chama de "formação geral".

São 8 questões de múltipla escolha e 2 dissertativas, que, somadas, equivalem a 25% da nota geral do ENADE.

A questão 01 não passa de interpretação de texto. Só.
Basta saber interpretar as tabelas com proporção de leitores (de livros) no período 2007-2011 para escolher uma das alternativas.
A questão 02 também: pura interpretação de texto, assim como a 03.
Temas babacas, sem nenhuma relevância.

Na questão 04, porém, a coisa muda: a partir de um trecho curto de um documento do MEC sobre ética e cidadania, o aluno tem que avaliar 3 proposições, quais sejam:

I. Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes, a uma vida digna, a oportunidades de realizar seus projetos, mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometido delito criminal, com trâmite transitado e julgado.
II. Sem o estabelecimento de regras de conduta, não se constrói uma sociedade democrática, pluralista por definição, e não se conta com referenciais para se instaurar a cidadania como valor.
III. Segundo o princípio da dignidade humana, que é contrário ao preconceito, toda e qualquer pessoa é digna e merecedora de respeito, não importando, portanto, sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social, grau de instrução e orientação sexual.

A pegadinha: o trecho do documento do MEC remete aos "Direitos Humanos" - e a proposição I trata de presidiários ("mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometido delito criminal").
Se o sujeito cometeu um crime e está preso por isso, que projetos ele vai "realizar"?
Só se o projeto de vida do sujeito é ser preso! 

Essas perguntinhas cretinas que o MEC adora…...

A questão 05 é daquelas de arrepiar os cabelos do cu: pede-se o aluno que aponte uma relação causa-efeito entre globalização, desregulação de mercados financeiros e políticas neoliberais.
Evidentemente essa josta foi redigida por um desses desavisados que o PT alojou no MEC e que acredita que FHC, por exemplo, enquadra-se no perfil de "neoliberal".
Bobagem.
Como a questão toda, aliás.

A questão 06 trata de financiamento público de estudos nas áreas de "ciências básicas" (termo usado na pergunta). Questãozinha sem pé nem cabeça, que pretende que o aluno faça uma simplificação de um tema bem mais complexo - e provavelmente o aluno de 1o ano nem tem embasamento para tratar disso.

Aliás, o critério (ou ausência de um) do MEC é ridículo: alunos do 1o ano não tiveram, ainda, contato com 90% ou mais do que se pergunta nessa prova - não deveriam, evidentemente, ser obrigados a fazê-la.

As questões dissertativas tratam de "sustentabilidade" (questão discursiva 1) e violência (questão discursiva 2) - em ambas, novamente, pedem-se análises e propostas sem oferecer dados suficientes para sustentar argumentos minimamente razoáveis.

Em suma: um lixo.

Aliás, já adiantando uma questão da parte que compete efetivamente a um graduando em Administração, pulo para a questão 30.

Trata-se de uma questão sobre a Matriz BCG, assunto bastante básico de Marketing.

E qual o problema/falha com a questão?

Ela faz com que o aluno perca tempo desnecessariamente.
Porque: apresenta-se um texto de 3 parágrafos (retirado de uma matéria da Exame), e na sequência mostra-se a figura que sintetiza a Matriz BCG.
A seguir, uma suposição, e 5 alternativas.
A única alternativa sensata é a "A", mas a questão certamente obriga alunos possivelmente nervosos a ler um texto inútil e quiçá buscar nele a explicação para assinalar a alternativa correta.

Bobagem. Basta identificar que o produto VAI SER LANÇADO para enquadrá-lo como ponto de interrogação logo de cara.
Só isso. 

Mais uma vez, portanto, o graduando é obrigado a passar por uma provinha RIDÍCULA, mal-feita, incapaz de avaliar a capacidade do formando, incapaz de lidar com questões realmente importantes.
A educação no Brasil está uma desgraça.

E tende a piorar.

PS - Para quem se interessa pelo assunto EDUCAÇÃO, sugiro fortemente a leitura deste artigo AQUI. Trata-se de uma análise extremamente bem estruturada sobre essa praga que ganhou o apelido de "preconceito linguístico", um nome inventado por gente que quer manter os índices de analfabetismo funcional alarmantemente altos no Brasil do jeito que estão; pessoas que infelizmente estão em postos-chave da educação no país, mas que usam uma terminologia rasa e ignorante para tentar minimizar a importância da educação - em tese, isso seria uma contradição, mas no Brasil….

 

12 de setembro de 2012

Marketing político - POR DENTRO DE UMA CAMPANHA POLÍTICA

Já escrevi diversos posts aqui sobre essa coisa de "marketing político". Sempre disse que não passa de "propaganda" - geralmente "enganosa".

Bom, preciso registrar este texto IMPERDÍVEL: Por dentro de uma campanha política: Netinho de Paula, da agressão à… agressão, escrito BRILHANTEMENTE pelo Flávio Morgenstern.

Lendo este texto - que, a despeito de ser longo, é delicioso de ler! - ficará ainda mais claro porque eu chamo essa invenção tosca de "marketing político" pelo nome real, que, repito, geralmente não passa de "propaganda enganosa".

Vem vou me dar ao trabalho de reproduzir o texto. Deixo apenas o linK AQUI.
RECOMENDO FORTEMENTE A LEITURA.

Ali, o Flávio mostra não apenas a sujeira que sustenta as campanhas eleitorais no Brasil atualmente, incluindo a manipulação descarada de uma imensa massa de desinformados que são levados a acreditar em coisas irreais, mas especialmente a enganação desse conceito vazio de "marketing político".

Vá ler.

21 de agosto de 2012

Tirar as sacolas dos supermercados foi um ERRO ABSURDO

Li, agorinha, esta matéria, que reproduzo na íntegra (publicada originalmente AQUI) e, como de costume, faço grifos:
O vice-presidente de Relações Corporativas do Pão de Açúcar, Hugo Bethlem, classificou como “um erro absurdo” a decisão dos supermercados paulistas de parar de fornecer sacolas plásticas nos caixas. Na avaliação do executivo, a ideia de chamar a atenção do consumidor para o descarte adequado das sacolinhas é importante, entretanto, deveria ter sido melhor estruturada para promover uma mudança de hábito da população. “Quando você quer mudar hábitos de consumo todos os agentes da sociedade precisam sentar e discutir metas de longo prazo”, disse nesta terça-feira (21), durante o Encontro de Sustentabilidade promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo.
Hugo Bethlem acredita que a forma como a Associação Paulista de Supermercados (Apas) conduziu o tema foi errada, pois acabou gerando uma agenda negativa para o setor. “Queremos sair dessa agenda negativa, colocando o consumidor a favor do meio ambiente”, afirmou.
No mesmo sentido, o presidente do Lide, o empresário João Dória Jr, lamentou a execução da proposta do fim das sacolas plásticas. “Às vezes uma boa intenção que não é completa representa um passo atrás”, avaliou.
A distribuição de sacolas plásticas gratuitamente voltou a ocorrer no Estado de São Paulo no fim de junho, quando a juíza Cynthia Torres Cristófaro, da 1ª Vara Central da capital paulista, determinou a medida, válida a partir do dia 28 de junho e em vigor desde então.
Segundo o executivo do Pão de Açúcar, o grupo está fazendo sacolas sem o nome das redes de supermercados e com mensagens de conscientização do consumo, chamando atenção para o descarte adequado. “As pessoas precisam entender a importância do fim da sacolinha. Vamos oferecer alternativas para isso.”
(Por Último Segundo) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo
Eu cansei de escrever, neste blog, sobre o caso (basta ver a tag APAS).
Em todas as oportunidades, eu escrevi exatamente isso: a proposta de NÃO oferecer sacolinhas para os clientes é BURRA, HIPÓCRITA e CONTRAPRODUCENTE, sob todos os aspectos possíveis e imaginários.

A medida foi reprovada claramente pelos clientes - e a APAS, com sua visão monopolista, ainda assim segue achando que tem que banir as sacolas, sim. A APAS é tão burra que não percebeu que, se continuar insistindo nessa campanha idiota, vai queimar a imagem de muitos de seus membros (os supermercados).

23 de março de 2009

Marketing do fim do mundo

Uma dica de leitura: AQUI.
O texto em si é ótimo - e os comentários são ainda melhores !!!!!
Eis um trechinho:
Essa "sustentabilidade" é um eufemismo ideológico para bom senso. Não gastar mais do que se tem, não sujar mais do que se pode limpar. Um bom começo seria economizar esses gastos astronômicos com a eco-burocracia e sua indústria do alarmismo.

Relatórios, papéis, consultores, seminários, almoços, ONGs e mais ONGs estão consumindo com voracidade os recursos planetários e a paciência humana.

Os países da Cortina de Ferro destruíram seu meio ambiente com seu socialismo obscurantista. Bastou entrar um pouco de luz, liberdade e bom senso para a situação se reverter. O mundo está procurando (e encontrando) saídas econômicas e tecnológicas para a poluição. Foi assim com a camada de ozônio, com o ar das metrópoles (os índices de melhora nunca fazem barulho), com os agrotóxicos.

Mas isso estraga a onda do romantismo de aluguel. O marketing do fim do mundo fuzila tudo que o desminta.

Fique no escuro, se quiser. Mas cuidado, porque daqui a pouco vão te convencer a almoçar dia sim, dia não, para reduzir os gases na atmosfera.
Depois, sugiro este link AQUI.
Neste blog, um trecho me chama a atenção:
Para auxiliar na redução de energia, o brasileiro busca: adquirir produtos mais econômicos (89%) desligar aparelhos ao invés de deixá-los em stand by (86%); comprar produtos feitos de material reciclado (84%) e usar transporte público (80%). A média global das principais ações nesse sentido é de desligar eletrodomésticos na tomada e usar dispositivos mais econômicos; reduzir o uso de ar condicionado e aquecedores, além de reciclar o lixo.
98% dos brasileiros alegaram que trocariam de fornecedor se um produto fosse certificado, com o objetivo de impactar menos as mudanças climáticas, contra 90% no mundo.
Dados do Brasil mostram que nos últimos doze meses consumidores trocaram de fornecedores (ex. automóveis, vestuário, alimentos, eletroeletrônicos), levando em consideração as mudanças climáticas, com a avaliação das seguintes ações: 48% pelo melhor uso de materiais reciclados, 40% pelo melhor uso de materiais mais amigáveis com o meio ambiente e 39% pelo melhor uso de materiais biodegradáveis.
Mais uma daquelas pesquisas sem pé nem cabeça: você, caro leitor, conhece alguém, uma única pessoa que seja, que prefere pegar ônibus DEVIDO À PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE ?
Veja: eu conheço pessoas que pegam ônibus por vários motivos - desde o mais óbvio, como "é o único meio de transporte que tenho à minha disposição" - até como alternativa ao rodízio (no caso de São Paulo). Eu mesmo, quando vou dar aula na zona leste, deixo o carro na Barra Funda e vou de metrô.
Mas é só para evitar o trânsito infernal da Marginal Tietê ou da Radial Leste - não tem nada a ver com "evitar a poluição".

19 de fevereiro de 2009

INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA OU MARKETING?

Primeiro, a contextualização.
Em Janeiro, publiquei aqui no blog um post tratando do freqüente problema de incompreensão do termo MARKETING.
Hoje recebi um e-mail da autora do artigo que eu comentei, Nathalie Nunes. Eis aqui a íntegra da mensagem que ela me enviou:
Bom dia Carlos,
Fiquei surpreendida com o seu comentário sobre o artigo que publiquei na revista RI pelas seguintes razões:
1.O seu caráter ofensivo num espaço tão público como a internet;
2.Você não ter entendido do que tratava o artigo;
3.Você não ter entrado em contato através do meu email que se encontrava no final do artigo para manifestar sua indignação.

Finalmente, considero que adotar um estilo irreverente e polêmico pode ser muito interessante. No entanto, acredito que qualquer que seja a personalidade de um profissional, respeito e ética são imprescindíveis. Lamento que, nesse caso, você não tenha adotado esse comportamento.

Estou à disposição para dialogarmos sobre os pontos levantados tanto por você quanto por mim através do email indicado no artigo. Se realmente dialogar era sua intenção ao criar o blog.

Nathalie Nunes
Nathalie,
A julgar pela mensagem que você me enviou, quem não entendeu o texto que postei no blog foi você.
O meu comentário estava analisando a costumeira confusão que leigos fazem no que tange ao conceito de marketing.
O seu artigo na Revista RI reforça esta confusão, pois você escreveu bobagem lá.
Desde o título, passando pelo conteúdo, o seu artigo confunde o conceito de marketing com "propaganda enganosa".

Não há, nem houve, caráter ofensivo.
Indique, por favor, aonde está a "ofensa".
Ela não existiu. Aliás, como eu poderia ofendê-la, se nem sequer a conheço ?

Talvez você esteja querendo dizer que eu fui ofensivo ao analisar o seu texto ?!
Será isso ?!
Bom, se for este o caso (não tenho certeza, pois sua mensagem apenas citou "O seu caráter ofensivo num espaço tão público como a internet"), novamente você está fazendo uma ligeira confusão.
Eu não fui ofensivo, eu fui CRÍTICO.
A despeito de, no Brasil, ser crítico é usualmente associado a ser ofensivo, o que eu fiz foi analisar o seu texto, e indicar os erros (crassos) que dele constam.

Ofensivo, por outro lado, é o seu texto: ele ofende a inteligência do leitor, ao imaginar que o este leitor não saiba a diferença entre marketing e propaganda enganosa.

O título do seu artigo já começa de forma errada, pois aponta uma escolha: A responsabilidade social das empresas e as parcerias estratégicas com o terceiro setor: INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA OU MARKETING?
Ora, o título aponta uma escolha: OU se trata de integração estratégica OU se trata de marketing.
Nitidamente, se você não vê nenhum erro nisso, você precisa pesquisar o que é marketing, e como ele se integra à estratégia empresarial.

Mais adiante, seu artigo traz o seguinte trecho: No entanto, a sinceridade e eficiência de muitas parcerias são questionadas, ao apontar o seu caráter marketeiro e qualificá-las de: window dressing, vitrine superexpondo ações sem valor agregado; greenwash, propaganda para encobrir um desempenho ambiental fraco; e bluewash, uso da credibilidade das Nações Unidas na declaração pública de abraçar os
princípios do Pacto Global, sem práticas consistentes.

O termo "caráter marketeiro" (além do erro gramatical, dado que o termo "marketeiro" não existe nem em português, nem tampouco em inglês) deixa clara sua intenção de associar o marketing à suposta propaganda enganosa.
Novamente, se é isto que você acha sobre marketing, falta uma ampla e detalhada pesquisa, alguns estudos e leituras.
Um bom começo seria este artigo AQUI, que eu costumo discutir nas primeiras aulas de marketing na graduação, justamente para desmistificar o termo marketing - que, no senso comum, na visão dos leigos, é frequentemente confundido com propaganda ou algumas outras coisas.
Aliás, como apontam os professores Campomar e Ikeda, neste artigo, não são apenas os "leigos" que cometem este tipo de erro: há aquela categoria dos "supostos especialistas", ou seja, pessoas que SE DIZEM experts no assunto, mas na realidade acabam cometendo os mesmos erros primários dos leigos (desta vez, sem aspas).
E foi justamente neste sentido que minha postagem no blog criticou os "supostos especialistas". A Revista RI, como eu descobri graças ao seu artigo, comprova a hipótese.

Por que não usei o e-mail para "manifestar indignação" (como você escreve) ?
Para quê ?
Não se trata de indignação com uma pessoa em particular (seja você, seja qualquer outra).
Conforme eu escrevi no blog, eu trato desta errônea confusão conceitual aqui no blog (inclusive, indiquei alguns links de posts anteriores, que versam justamente sobre isso). Num segundo nível, acho apenas patético e degradante que existam publicações (revistas, jornais etc) que não se dêem conta desta besteira atroz que é confundir marketing com propaganda (enganosa ou não), e acabem publicando textos travestidos de sérios e embasados quando, ipso facto, são apenas aglomerados de chavões dominados pelo mais ignóbil senso comum.

Mas sabemos que existem consumidores para diversos tipos de produtos e serviços.
Há consumidores de livros de auto-ajuda igualmente repletos de senso comum rasteiro.
Ok.
Mas eu não vou mandar e-mail para cada um, tratando disso, questionando ou criticando.
O problema é deles.
O meu problema, o meu objetivo aqui no blog, é tratar de marketing - não sob a visão deturpada de que se trata de "propaganda", mas discutindo a acepção ampla, correta, séria, e suas aplicações, resultados etc.
Esta função o blog tem cumprido. E continuará.

Inclusive para que meus alunos, e demais leitores do blog, passem a entender esta questão, discuti-la e, mais importante, trabalhar no sentido de minimizar (ou, quiçá, eliminar) estas falácias que cercam o marketing.

Quem sabe, desta forma, revistas como Exame ou RI passem a adotar um controle de qualidade que funcione.

O blog está, desde sempre, aberto às discussões deste tema tão amplo e mal-compreendido que é o marketing. O espaço de comentários é democrático, e se você (ou qualquer pessoa) quiser comentar, questionar, criticar ou elogiar o blog (e, por extensão, seu conteúdo), os meios para isso estão à disposição.

12 de janeiro de 2009

Petardos de "iguinorânssia" 2

A responsabilidade social das empresas e as parcerias estratégicas com o terceiro setor: INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA OU MARKETING?

Este é o título de um artigo publicado na Revista RI de Agosto/Setembro de 2008.

O início do texto está aqui:
Multiplicaram-se as iniciativas internacionais para promover a responsabilidade social empresarial (RSE) e as parcerias com governos, organizações não-governamentais (ONGs) e as Nações Unidas. Várias estruturas já existem no Brasil, para facilitar essas
relações, como o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE).
As parcerias intersetorais são desenvolvidas para traduzir o compromisso em RSE com ações concretas e guiar as empresas na melhoria de suas práticas socioambientais. Ainda responde às
expectativas dos seus públicos estratégicos, como indica a pesquisa do Instituto Akatu “Responsabilidade Social das Empresas”, realizada em 2006 e 2007, em que 63% dos consumidores brasileiros consultados declararam que o respeito por uma empresa aumentaria se ela fosse parceira de uma ONG ou instituição de caridade.
As empresas e o terceiro setor estão ultrapassando um histórico de desconfiança e relações tradicionalmente percebidas como conflitantes. “Alianças verdes” introduziram novos tipos de
colaboração, e as corporações entenderam que as parecerias com ONGs podem oferecer legitimidade aos seus esforços ambientais.
Os benefícios para a companhia podem ser tangíveis e intangíveis. Além de melhorar sua imagem, a companhia recebe competências específicas em questões socioambientais, otimizando a gestão de riscos. Também atrai e motiva talentos e, ao se abrir para a sociedade
civil, entende melhor as suas realidades.
A mudança de comportamento também veio das ONGs, ao deixar de lado uma posição de enfrentamento e desenvolver trabalhos conjuntos. A organização ambientalista Greenpeace, conhecida pelo seu ativismo, fornece exemplos significativos, como o carro ecológico “Smile”, desenvolvido com a firma suíça Wenko em 1997, ou a “geladeira verde” (greenfreeze), idealizada no início dos anos 1990 em colaboração com a empresa alemã Foron.
O terceiro setor está refletindo vários desafios e encontra-se em profunda mutação organizacional e financeira. A redução do apoio público o obriga a procurar novas fontes, e a sua profissionalização o instiga a se utilizar de métodos empresarias, como os imperativos de boa governança. Os benefícios da parceria com as ONGs ultrapassam o financiamento, com a
disponibilização dos recursos humanos pela empresa, que ainda participa da sensibilização à causa junto aos seus públicos estratégicos.
No entanto, a sinceridade e eficiência de muitas parcerias são questionadas, ao apontar o seu caráter marketeiro e qualificá-las de: window dressing, vitrine superexpondo ações sem valor agregado; greenwash, propaganda para encobrir um desempenho ambiental fraco; e bluewash, uso da credibilidade das Nações Unidas na declaração pública de abraçar os
princípios do Pacto Global, sem práticas consistentes.
O tal artigo é assinado por NATHALIE NUNES - que, segundo descrito na própria matéria, é consultora de
estratégia de Sustentabilidade da The Media Group, formada em Direito, com especialização em Relações Internacionais, e aluna do CEATS/FIA em Responsabilidade Social, Terceiro Setor e Avaliação de Projetos.
Puxa, tantas titulações e ela não sabe o que é marketing ?!

Trata-se de MAIS UMA associação indevida entre o conceito de "marketing" e o de "propaganda enganosa", erro básico, primário, mas freqüente entre pessoas que acham que entendem do assunto, colocam-se a escrever sobre isso, e acabam pagando este mico - publicar besteiras.
Já mostrei exemplos anteriormente: AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e também AQUI.

Estas pessoas prestam um desserviço ao país, pois não se dão conta de que muita gente pode acabar acreditando nas besteiras que elas escrevem !!!!
Como resultado, temos profissionais que acreditam estarem preparados para o mercado de trabalho - quando, na verdade, estão mal-informados.
E não por descaso ou preguiça, mas porque simplesmente acreditaram numa revista como RI, Exame ou quetais.

Estas publicações, aliás, deveriam ser mais rigorosas, filtrando petardos de "iguinorânssia" desta natureza....

11 de janeiro de 2009

Petardos de "iguinorânssia"

O destino é cruel.
Particularmente comigo.

Não pretendia retomar este assunto tão cedo, mas ontem tive que buscar alguns artigos sobre "sustentabilidade", para ajudar minha orientanda (Eliana).
E sempre que busco textos sobre este assunto, acabo me deparando com verdadeiros petardos de "iguinorânssia".

O primeiro é ESTE AQUI.
Se formos acreditar no que está escrito logo na primeira página, a autora tem mestrado. Para uma pessoa com pós-graduação completa, escrever tão mal é uma vergonha. Ainda que desconsiderássemos a falta de estilo, o pior mesmo é cometer tantos e tão graves erros de português.
Ainda na primeira página, o arquivo dá a entender que o trabalho foi premiado no concurso do Ethos. Porém, no site do Prêmio Ethos (http://www.premioethosvalor.org.br/), o trabalho citado no categoria de pós-graduação, na 5a edição do prêmio, é outro.
Não sei se a autora mentiu, ou se houve algum erro. Mas isso é o menos importante.

Ao ler o artigo propriamente dito, é fácil perceber que a autora não apresenta nenhuma definição para os principais conceitos, e infesta o texto com achismos e mais achismos.
Uma verdadeira lástima.
Só para ficar em um exemplo, veja o último parágrafo da página 5: um monte de afirmações taxativas, mas NENHUMA fonte. A ruindade já começa no título, que é redundante e não esclarece nada - parece ter sido redigido pelo meu priminho de 4 anos.

Vou "pescar" um trecho do artigo que me fez rir:
Hoje, tornou-se bastante comum o uso das ferramentas tradicionais de marketing pelas empresas, principalmente, quando possuem concorrentes. O consumidor, por sua vez, passa a ter variadas marcas de mesmo conteúdo em sua mente, sejam eles de valor racional (composição, qualidade, preço), ou subjetivos de signos e significados (beleza, embalagem estética, o melhor, traz felicidade). Assim, apenas ter o maior conjunto de ofertas dentro das tradicionais ferramentas de marketing não é mais diferencial.
Com a mudança do mercado e a ampliação de ofertas, o cliente não é mais fiel a uma única marca, principalmente se ela não demonstrar uma quantidade maior de valores que os já tradicionais. Como lembra Ottman (1997) os indivíduos estão agindo de acordo com seus valores quando exercem o poder de suas decisões de compra. Tudo isso tem levado as empresas a repensarem seus processos e suas filosofias, sob pena de perder mercado e capital.
Vou deixar de lado os erros de redação, e tratar apenas dos erros conceituais - que, obviamente, levam a conclusões equivocadas.
A afirmação "apenas ter o maior conjunto de ofertas dentro das tradicionais ferramentas de marketing não é mais diferencial" é ridícula - e meus alunos sabem disso. Sempre discuto isso depois de vermos o filme do Porter, que trata de estratégia.....
É muito simples: esta afirmação (que, além de tudo, NÃO é acompanhada de nenhuma fonte de referência, o que, por si só, basta para invalidá-la) pode ser verdadeira para alguns mercados/setores, mas para outros, não.
Isso é tão óbvio, tão ridiculamente básico !
Mas quem lê o texto e não se dá conta disso, pode ser levado a conclusões equivocadas.....
Aliás, ler este texto já é uma decisão equivocada, de tão ruim que ele é....!!!!

A pobre autora deste petardo prossegue seu deplorável textículo misturando conceitos.
E, pior, ignora debilmente a função da metodologia de trabalhos científicos.
Ela faz uma afirmação, mas não oferece NENHUMA comprovação. Apenas um exemplo do achismo:
Cresce, a cada dia, o número das empresas que exploram suas posturas ambientalmente corretas em comunicações institucionais, como forma de diferenciação no mercado. Esse novo comportamento é incentivado por veículos de comunicação, associações, conselhos e institutos, que criam prêmios, selos e certificados como forma de incentivar empresas a buscar uma atuação que leve em conta a conservação dos recursos naturais com que se relacionam no seu processo de produção.
Por acaso a autora fez algum tipo de levantamento amostral que indique o crescimento do número de empresas que exploram suas posturas ambientalmente corretas ?
Cadê o levantamento ?
Qual foi a metodologia adotada na referida pesquisa ?
O leitor deste petardo fica sem saber.
Será que o achismo da autora é suficiente ?

Mais um achismo:
As empresas estão buscando adotar posturas social e ambientalmente corretas (FIGURA 2) acreditando que essa comunicação de marketing venha a agregar valor diferencial para suas marcas.
Quais empresas ?
Qual a fonte da afirmação ?
Quais países foram pesquisados ?
Quais tamanhos de empresas ?
Quais setores econômicos ?
O coitado do leitor fica sem saber de nada disso.....

Será que a Joana d'Arc Bicalho Félix nunca cursou uma disciplina de "metodologia de pesquisa" na Universidade Católica de Brasília ?
Será que ela jamais leu um trechinho de qualquer bom livro do assunto ?
Teria ela obtido seu mestrado sem ter feito uma dissertação que seguisse às normas de métodos de pesquisa ?

Nunca saberemos.
Em tempo: a mesma autora teve a falta de bom senso, a cara de pau, a petulância de escrever outro artigo (http://www.empresaresponsavel.com/links/UNIVERSITAS%20Ganhos%20de%20Mercado%20COM%20-%2026.05.04.doc), que é igualmente tão mal-escrito e oco quanto o primeiro.

Vamos, agora, ao segundo petardo: ESTE AQUI.
Perceba, caro leitor, que se trata de uma dissertação de mestrado.
O autor poderia (aliás, DEVERIA) ter tomado o cuidado de fazer uma revisão do texto, de forma a evitar trechos como "Os autores mencionados, conceituam o termo divulgação, como veiculação de informação." (página 20).
Ao ler esta frase, lembrei de alguns dos meus alunos de primeiro ano da graduação, que, freqüentemente, separam verbo e sujeito com vírgula.....

Mas, seguindo com o enterro, vamos ao conteúdo per se.

Quando enviei esta dissertação para a Eliana, fiz a seguinte recomendação a ela:
Se você resolver resenhá-lo, POR FAVOR, não cometa os mesmos erros, especialmente de concordância !!!!!
E, por obséquio, não coloque palavras nem afirmações nas obras de autores clássicos (o cara diz, no finalzinho da página 77, que o Theodore Levitt apontava o aumento da consciência do consumidor para com o meio ambiente, mas o Levitt nunca escreveu isso !!!!!!), ok ?!
Pois é.....
Theodore Levitt, coitado, nem sabia que escrevera sobre "responsabilidade social" e "marketing social" em 1961 (quando publicou o artigo miopia em marketing).
Para um mestrando, NADA justifica distorcer afirmações de um autor, qualquer que seja este autor.
Porém, pior ainda é distorcer as afirmações de um autor/artigo clássico, como é o do Levitt.
Mais grave é distorcer as afirmações a ponto de torná-las a antítese da essência do texto original !!!!!

Vejamos aqui neste trecho (página 43 da dissertação):
No término da 2ª Guerra, as empresas se transnacionalizavam e passavam a adotar novos processos produtivos, desenvolvidos graças à tecnologia gerada durante o conflito.
Intensificava-se a busca de processos que pudessem suportar uma escala mundial, fazendo emergir grandes corporações multinacionais, industriais, estatais e financeiras. O lema era a máxima produção e o custo mínimo. Essa parecia ser a finalidade da atividade humana.
As empresas nesse período: “fixavam-se no próprio espelho, em vez de observar pela janela o que se passava do lado de fora”. Com esta afirmação, Levitt (1988, p.5) retrata bem a crescente desumanização resultante dessas estruturas organizacionais agigantadas.
Em primeiro lugar, o "lema" de máxima produção com custo mínimo vinha há tempos, e NÃO após a Segunda Guerra. Frederick Taylor, nos idos de 1900, já propunha este "lema". O autor deste petardo de "iguinorânssia" certamente não pesquisou o suficiente para saber disso.

Pior do que esta afirmação ridícula, contudo, é usar um trecho supostamente atribuído ao Levitt para ilustrar a equivocada idéia do autor da dissertação - referente à desumanização das organizações.
O artigo do Levitt trata da miopia das empresas em relação à observação dos anseios dos consumidores, e não tem NADA a ver com desumanização das empresas e "responsabilidade social". Porém, a citação está justamente sob a rubrica "2.2. A responsabilidade social".

Mais do que apenas um errinho de digitação ou congênere, isso é a mais grave desinformação absoluta ou, então, pura má-fé.

Ainda tenho um terceiro petardo da "iguinorânssia" para comentar, mas este fica para uma próxima vez......

Pois é, caro leitor...
Cada vez que me meto a ler qualquer coisa sobre sustentabilidade, mais e mais sou levado a crer que o assunto é INSUSTENTÁVEL.
Quanta ruindade !!!!!!!!!!

8 de dezembro de 2008

A sustentabilidade sumiu ?????

Não me contive - PRECISO comentar esta notícia:
A Petrobras foi excluída do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), índice que reúne empresas que se destacam por seu compromisso com a responsabilidade social e a sustentabilidade pelo não cumprimento por da resolução 315/2002 do Conama, que determina a redução do teor do enxofre no diesel comercializado no Brasil a partir de janeiro de 2009. A acusação foi feita pelo empresário Oded Grajew, presidente do Movimento Nossa São Paulo, um dos principais críticos ao não cumprimento do acordo.

Em carta encaminhada à imprensa Grajew afirmou que decisão foi tomada pelo Conselho do ISE, composto por Bovespa, International Finance Corporation (IFC), Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec), Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid), Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Instituto Brasil PNUMA). O Ministério do Meio Ambiente se absteve da votação.

Ainda segundo Grajew, no último dia 6 de novembro foi encaminhada ao Conselho do ISE uma carta assinada por onze entidades - Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado de Minas Gerais, Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo, Movimento Nossa São Paulo, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável - relatando a postura da Petrobrás em relação à resolução do Conama.

"Infelizmente, tal postura resultou no não cumprimento da resolução e na postergação por vários anos do início de uso de diesel mais limpo em nosso país. A grande quantidade de partículas de enxofre no diesel brasileiro é responsável por graves doenças respiratórias na população (especialmente crianças e idosos) e pela morte prematura de aproximadamente 10 mil pessoas por ano", afirma Grajew, completando que "esta notícia não nos alegra. Muito pelo contrário. Lamentamos que a postura arrogante e prepotente da atual direção da Petrobras, menosprezando o diálogo com a sociedade e insensível a um problema tão grave de saúde pública, manche de forma tão profunda a história de uma empresa brasileira que já deu tanto orgulho a todos nós por sua excelência tecnológica (mas que atualmente distribui combustíveis que se situam qualitativamente entre os piores do mundo) e seu compromisso com o desenvolvimento econômico e social do país"
A íntegra da notícia, da Agência Estado, está AQUI.
Outros detalhes podem ser lidos AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.

O leitor atento deste blog está familiarizado com este assunto, pois já tratei dele em outras oportunidades: AQUI, AQUI e AQUI.

Não pretendo, definitivamente, me arriscar a fazer previsões - afinal, não sou médium ou coisa que o valha.
Mas nem precisa ser paranormal para compreender a fragilidade deste modismo burro da "sustentabilidade".
Basta ver que as empresas andam tão desesperadas por "parecerem sustentáveis" (seja lá o que isso possa significar), que aceitam qualquer idiotice como verdade absoluta.

Pior ainda é a dependência que muitas empresas criam..... O Instituto Ethos, por exemplo.
Várias empresas fazem questão de pagar para terem seu nome (e imagem) associada ao Instituto Ethos, o que é uma burrice, pois esta é mais uma ONG inútil - que, no Brasil, prolifera mais do que vírus.
Cito apenas um levantamento do IBGE sobre o tema, AQUI.

Aí eu pergunto: quantas empresas que bancam ($$) o Instituto Ethos têm a mesma prática hipócrita da Petrobrás ?
Por que o Ethos não critica todas elas ?
Obviamente ele não faria isso - senão, perderia o financiamento, né ?!
Quem vai bancar o prêmio Ethos ?
Quem vai bancar o trabalho inútil de mais uma (entre milhões) ONG ?

Aliás, no Brasil, as ONGs deveria ter outro nome - deveria ser ORGANIZAÇÕES TOTALMENTE GOVERNAMENTAIS (OTG), pois dependem diretamente da verba do Estado para continuarem sustentando uma rede de parasitas que se beneficiam da ignorância e cordialidade do brasileiro.

Isso, sim, é "propaganda enganosa".

7 de dezembro de 2008

Férias (?)

Alguns podem pensar, erroneamente, que minha ausência dos blog foi devido a férias.
Ledo engano.

Confesso que estou bastante ansioso pelas férias, mas ultimamente andei soterrado pelo fechamento do semestre (e do ano).
Excesso de provas e trabalhos para corrigir (ahn, essa vida de professor!), orientações de TCCs, e outros afazeres têm me mantido tão ocupado que mal consigo ler e responder e-mails.

Aliás, só ontem fui ler a edição de 27 de novembro da Exame - e qual não foi minha "não-surpresa" ao me deparar com a seguinte matéria (na íntegra AQUI):
O executivo americano Ken Musgrave, chefe da área de design da Dell Computers - segunda maior fabricante de computadores do mundo, com faturamento de 61 bilhões de dólares em 2007 -, atravessa um labirinto de baias até chegar a uma sala com vários computadores sobre uma bancada. Seu objetivo é mostrar um dos produtos recém-lançados pela companhia.
Trata-se de um PC de mesa, mas que em nada lembra os desktops convencionais. Musgrave coloca o pequeno retângulo de acrílico vermelho ao lado de um PC normal, uma trivial caixa de alumínio cinza-chumbo. "Ambos têm as mesmas funcionalidades e capacidade de processamento", afirma Musgrave, em pé, diante das duas máquinas. "A diferença é que o modelo novo tem quase um quinto do tamanho do antigo e, portanto, precisa de muito menos material para ser fabricado. Fora isso, consome quase 70% menos energia."
O computador apresentado por Musgrave é considerado o que há de mais inovador do ponto de vista ambiental. "É o equipamento que melhor traduz o conceito de green IT (tecnologia da informação verde)", diz David Daoud, responsável nos Estados Unidos pela área de pesquisas da consultoria IDC, especializada em tecnologia da informação.

Segundo Daoud, o produto é diferenciado por reduzir o impacto ambiental de variadas formas - na menor quantidade de energia que será consumida durante sua vida útil, na redução de materiais que o compõem e até na embalagem, que é 95% reciclável.

Para o empresário Michael Dell, fundador e presidente da companhia, o Studio Hybrid, como foi batizado o novo computador, é apenas um dos exemplos de como a Dell hoje incorpora o conceito de responsabilidade ambiental. "Nossa missão começa com o design, passa pela fabricação e pela distribuição do produto e só termina depois que ele é descartado após anos de uso nas empresas ou nas casas de nossos clientes’’, afirmou Dell a EXAME em seu escritório, em Austin, capital do Texas, onde fica a sede da empresa que criou há pouco mais de duas décadas.
Nos últimos dois anos, Dell tem levantado a bandeira ambiental como nenhum outro empresário de seu setor.

Em junho de 2007, durante as celebrações do Dia Mundial do Meio Ambiente, anunciou o objetivo de transformar a empresa na companhia de tecnologia "mais verde do planeta’’, em suas palavras. Na época, a meta de Dell foi interpretada por analistas como uma jogada de marketing para conquistar clientes que valorizam a proteção ambiental.

Afinal, a companhia luta para voltar ao topo dos maiores fabricantes de computadores do mundo, posição em que permaneceu até 2006, quando foi desbancada pela rival HP. No ano seguinte, diante de resultados insatisfatórios aos olhos do mercado e de analistas, Dell se viu obrigado a retornar ao dia-a-dia da empresa após três anos de afastamento. Sua nova estratégia, além de responder a demandas ambientais, é transformar a imagem da empresa de uma fabricante de computadores corporativos sisudos numa marca moderna e de design "cool".

A metamorfose é um imperativo para a Dell conquistar mais mercado no segmento doméstico, eleito recentemente seu alvo estratégico. A versão de Michael Dell é outra, claro: "Os danos ao planeta recaem sobre nós mesmos, seres humanos, e acho que temos de evitar que o mundo se transforme num lugar insuportável de viver", afirma. "Fora isso, minha empresa leva meu sobrenome, e não quero vê-lo associado a problemas." O sobrenome começou a ganhar fama em 1984, quando o então estudante de medicina de 19 anos na Universidade do Texas passou a vender computadores fabricados em seu dormitório e, em pouco tempo, tornou-se um dos maiores mitos da bilionária indústria de tecnologia mundial e um dos maiores exemplos da força do empreendedorismo americano.
O trecho em negrito (com cor diferenciada) mostra que a Exame CONTINUA confundindo o conceito de marketing com "propaganda enganosa", exatamente como fizera algumas vezes antes (para os detalhes, ver AQUI e AQUI).

Alô, dona Cristiane Correa, Editora-Executiva da Exame: até quando a sua revista vai insistir nesse erro burro ??

Enfim, a Exame está a cada dia mais próxima de perder mais um leitor/assinante. A cada edição há menos e menos matérias sérias, que valham pelo valor cobrado...


A despeito da minha ausência, não poderia deixar de registrar a nova lei do SAC.
Uma ótima notícia.
Algumas leituras interessantes estão AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.

Pessoalmente, achei estas novidades, com relação ao SAC, excelentes.
Contudo, já foi possível perceber que as empresas, em sua maioria, não têm cumprido a nova regulamentação.
Os levantamentos que andei vendo indicam que a Telefônica foi a pior.

Alguma novidade nisso ?????
Eu mesmo já escrevera sobre a Telefônica, AQUI.

Na verdade, a Telefônica é uma das empresas que sabe que está acima do bem e do mal. Ela não precisa cumprir a lei, porque tem certeza de sua impunidade.
E, claro, quem paga o preço somos nós, consumidores.
A Telefônica não tem clientes, tem apenas otários que têm o azar de morar na região que ela, Telefônica, atende.
Isso é uma velharia. Que não parece que mudará.
Querem uma leitura interessante sobre a Telefônica ?! Ei-la: AQUI

24 de outubro de 2008

Neuromarketing

Começo diretamente pela reprodução da notícia, que li no Meio & Mensagem:
O publicitário norte-americano Martin Lindstrom lançou o controverso livro Buyology: Truth and Lies About What We Buy, que traz à tona os três anos de um estudo de US$ 7 milhões sobre neuromarketing, conduzido por ele próprio. Com um time de pesquisadores de Oxford, ele utilizou tecnologias como ressonância magnética e eletro-encefalograma em 2 mil pessoas de cinco países num esforço para melhor entender o comportamento dos consumidores.

O diferencial do estudo foi poder analisar a eficácia de mensagens de alerta de saúde em produtos, efeitos do product placement e de mensagens subliminares, dentre outras coisas.

Uma descoberta é que os consumidores são dirigidos não somente por motivações conscientes, mas subconscientes também. "A maioria das decisões que tomamos todos os dias ocorrem basicamente numa parte do cérebro onde não estamos sequer cientes delas", afirma. "Eu realmente quis encontrar o que faz uma marca ter apelo para nós. Você não pode perguntar isso para a mente consciente ou depender de uma resposta verbal".

Mas você pode depender do cérebro, diz ele, lembrando o porquê de o chamado neuromarketing, que é o estudo de como o cérebro responde ao marketing, ter vindo para ficar.

Lindstrom afirmou que uma das descobertas mais surpreendentes envolveu os maços de cigarro com mensagens fortes. Quando os pesquisadores perguntavam se o aviso funcionava, a maioria disse que sim. Essa era a resposta do consciente. Mas o subconsciente trouxe respostas diferentes. Isso porque quando os pesquisadores repetiram a mesma pergunta e exibiam flashes de imagens de embalagens com fotos fortes, tudo captado pela ressonância magnética, a imagem do exame ativava "manchas de desejo" no cérebro, indicando que os avisos fazem os fumantes quererem fumar mais, e não menos, como se supõe.

Em outros estudos, pesquisadores também apontaram que os anúncios anti-fumo tem efeito contrário.

A "Comprologia" também diz que o logo de uma marca não é tão importante como muitos julgam ser. O senso de som e cheiro dos consumidores pesquisados era muito mais poderoso que o senso de visão.

Outra conclusão é que o product placement nem sempre funciona. Por exemplo, quando os pesquisadores de Lindstrom analisaram essa estratégia em American Idol descobriram que a Coca-Cola foi mais efetiva na hora de cativar os consumidores do que a Ford, mesmo sabendo-se que ambas pagaram valores próximos a US$ 26 milhões em suas campanhas. A razão: a marca Coca-Cola e suas cores foram vistas continuamente, enquanto a Ford, que patrocinou videos no programa, era menos visível e integrada à ação.

Lindstrom compreende que as pessoas podem ter medo de usar o neuromarketing, mas segue convencido de que isso pode ser usado, desde que de maneira ética. A dvertising Research Foundation não vai comentar o assunto até ter acesso ao livro.
Ahn, essa coisa de "maneira ética" é uma lindeza.........
Afinal, qual seria a acepção de "ética" para o autor do livro ?

Típica leitura para momentos fecais ou, no limite, num período de escassez intelectual ou preguiça de usar os neurônios......

20 de outubro de 2008

Besteirol e modismos em colapso ?

O tema é recorrente aqui no blog, e, mais uma vez, volto a ele: MODISMOS.
Começo destacando um trecho de artigo publicado no Valor Econômico do último dia 17/10, de autoria de Lucy Kellaway, colunista do "Financial Times" (na íntegra, aqui, para assinantes):
Enquanto a economia está correndo no ar, uma outra coisa aconteceu e ninguém percebeu. Outro mercado explodiu, colocando um fim em um dos períodos de alta mais longos da história: o dos modismos administrativos. Nas últimas semanas, não recebi nenhum e-mail ou convite idiota para participar de um curso de treinamento baseado em um estudo sobre tribos antigas. Nenhuma teoria estúpida, nenhuma árvore de estratégia, nenhum jargão novo, nenhuma coisa sem sentido. Como eu comecei a monitorar essas coisas há 15 anos, nunca vi tamanha escassez de idiotices.

O período de alta do nonsense administrativo começou há cerca de 26 anos, com a publicação de "In Search of Excellence". O livro desencadeou todo um movimento de gurus e charlatões e resultou em administradores dizendo coisas como "precisamos alavancar a felicidade do cliente."

O mercado da tapeação não se comporta como os outros. Normalmente, quando os preços ficam muito instáveis há uma correção. Mas nesse mercado eu já invoquei uma correção muitas vezes, acreditando que as coisas haviam ficado tão estúpidas, que logo o bom senso iria prevalecer.

Até agora, o mercado dos modismos não vem dando respostas à recessão. As grandes demissões nos EUA nos anos 80 o encorajaram, semeando a linguagem do downsizing e a idéia moralmente neutra da reengenharia.

Então, o quê está acontecendo de diferente desta vez? Não é só o dinheiro -ou a falta dele-, embora isso seja parte. A tapeação administrativa tem um preço. Quando não há dinheiro, não há muito sentido em mandar uma equipe inteira para um curso de dois dias para aprender lições de liderança com, digamos, o Rei Lear.

O outro ingrediente é o medo. Se você estiver lutando pela sobrevivência, vai se concentrar nas coisas essenciais. Você vai querer objetividade; enquanto os modismos administrativos prosperam na confusão. Nas últimas semanas, as reuniões nas empresas têm sido as mais curtas e objetivas em décadas. A soberba não está mais sendo tolerada.

No devido momento o dinheiro voltará, os temores cessarão assim como a necessidade da administração dizer besteiras. É tentador prever que a indústria do besteirol administrativo retornará antes dos bancos de investimento. Mas quando isso acontecer, ela poderá não ser a mesma. Os dias de glória acabaram: as melhores idéias já foram tidas. A maioria delas por Peter Drucker há muito tempo, e deverá haver um limite à freqüência com que elas poderão ser reprocessadas. Não houve modismos interessantes nos últimos anos, na verdade, a indústria dos modismos está se parecendo um pouco com a da música. A Qualidade Total foi equivalente aos Rolling Stones: sólida e com capacidade de perdurar. Os modismos mais recentes, como o Gerenciamento de Lealdade, são equivalentes do HearSay -derivado de alguma coisa, e com um certo mau gosto.
E não é que eu não estou sozinho nesta batalha contra os modismos imbecilizantes ?????!!!!!
Modismos burros, vazios, estúpidos - lamentavelmente, eles proliferam como pragas na administração, no geral, e no marketing, em particular.

Andei tratando do "marketing político" quando, recentemente, uma desesperada e despreparada Marta Suplicy Favre andou apelando para baixarias para tentar reverter os números desfavoráveis de todos os institutos de pesquisa.
Reitero: o que o PT sempre faz é TERRORISMO, e não tem NADA a ver com marketing.
Os detalhes podem ser lidos aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo.

A PTralha MarTAXA, desesperada pela derrota iminente, atribuiu à "equipe de marketing" a exibição de vídeos vergonhosos durante o horário político-eleitoral. Ela não se responsabilizou pelas perguntas levantadas pela sua campanha, da mesma forma que o Lulla jamais se responsabilizou pelo mensalão, ou pelo caixa 2 comprovado em sua campanha presidencial. Nem preciso lembrar do "dossiê dos aloprados", pelo qual o senador Aloizio Mercadante também não se responsabilizou, né ?!
É costume, como vemos, que os candidatos do PT não se responsabilizem por nada.

Porém, que ninguém atribua essa irresponsabilidade ao "marketing" - ou, pior, ao "marketing político".
É apenas e tão somente a baixeza típica do PT.

Não tem relação alguma com marketing
.

Este blog tem discutido, também, outros modismos imbecis, como responsabilidade social, sustentabilidade, marketing viral, marketing pessoal etc.......
E o leitor atento poderá localizar diversos questionamentos aos tais modismos que, parece, os defensores destes modismos não têm condições de esclarecer.

Pois é......
Olha aí o problema dos modismos imbecilizantes...... São inexplicáveis !!!!

4 de setembro de 2008

Verdade ou apenas marketing ?

Novamente, me deparo com uma reportagem num veículo de imprensa de grande prestígio, mas escrita com base numa premissa equivocada - o que, por conseqüência, gera resultados igualmente equivocados.

No jornal "O Estado de São Paulo" de hoje, 04/09, foi publicado um caderno especial sobre "sustentabilidade".

Primeiro, reproduzo alguns trechos da matéria que abre o suplemento, em versão digitalizada da própria página (para ver em tamanho real, basta clicar):



Como pode ser lido, ao final do primeiro parágrafo, a repórter Giovana Girardi escreve esta pérola:
Sustentabilidade. O consumidor tem ficado atento e quer produtos que tenham essa "marca", enquanto as empresas já notaram que podem aumentar seu valor de mercado com isso. Mas será que a palavra, e o conceito que ela carrega, são bem compreendidos ? E, mais do que isso, o que de fato é atitude concreta e o que é apenas marketing para ficar bem diante do consumidor?
A repórter pretendia, justamente, apontar uma diferença entre o conceito e uma palavra - mas para isso recorreu a uma outra palavra, e aplicou "marketing" achando que o conceito fosse igual a "propaganda enganosa".

Mais uma desinformada que se mete a escrever sobre um assunto que desconhece.
Ê tristeza !!!!!!!

Para ler outros equívocos, seguem algumas das páginas do caderno: capa, página 2, página 3, página 6, página 7 e página 8.

Exatamente como uma repórter da Exame havia feito (como mostrei aqui e aqui), a repórter Giovana Girardi mostra que não fez a lição de casa - ou seja, não pesquisou sobre um assunto antes de se meter a escrever sobre ele. Se ela conhecesse o assunto, isso poderia passar despercebidamente; como ela obviamente não conhece.......

Confundir "marketing" com "propaganda enganosa" não foi o único erro da repórter.
Loooooonge disso.
Ela dá a entender, em sua "reportagem" [sic], que empresas que valorizam a sustentabilidade têm valor de mercado superior, APENAS E TÃO SOMENTE graças à sustentabilidade.

Mentira.

Propaganda enganosa.

Ou, na torpe acepção da repórter, "marketing".

30 de agosto de 2008

IRresponsabilidade social

Vou apenas transcrever 2 singelos trechos de textos disponíveis na internet.

Primeiro:
A Responsabilidade Social é um dos pilares de atuação da Companhia, junto com crescimento integrado e rentabilidade. Dentro do Plano Estratégico 2020 e seus atributos de Visão, traçou-se desafios de gestão específicos em Responsabilidade Social.

Em sua Política de Responsabilidade Social, a Companhia passou a reunir diretrizes específicas nas áreas de gestão integrada, desenvolvimento sustentável, direitos humanos, diversidade, trabalho decente, investimento social sustentável e compromisso da força de trabalho. Antes, as diretrizes de responsabilidade social estavam descentralizadas nas diferentes políticas corporativas.

Reconhecida pela sua marca de excelência na produção de petróleo, gás e derivados, a Petrobras divulga sua Política de Responsabilidade Social visando atingir o desafio de ser referência internacional em responsabilidade social na gestão dos negócios, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Fonte: aqui.
Segundo:
Comboio composto por policiais federais e auditores do Ministério do Trabalho localizou ao menos 40 trabalhadores em condições precárias numa área de 44 hectares pertencente à Petrobrás no interior do Paraná. A empresa fez um acordo com antigos proprietários para o desmate do terreno, que será utilizado para exploração de xisto. Apesar disso, a Petrobras foi notificada por trabalho escravo.

O grupo estava sem botas, luvas, e, principalmente, sem carteira assinada. A irregularidade não poupa nem menores, pois até um menino de 16 anos foi encontrado. Ele tinha calos nas mãos. Para os trabalhadores, a jornada termina em barracos de lona, carroças, casebres abandonados e até num antigo galinheiro, onde se acomoda um casal.

Funcionários da Petrobras estiveram no local, mas não quiseram gravar entrevista. "A gente não tem a informação do que está acontecendo e não tem como dizer", afirmou um deles.

Denúncias como esta são mais comuns em regiões isoladas do Centro-Oeste e Norte do Brasil. Mas já há casos no Sul. Foi por isso que o Ministério do Trabalho criou um grupo especial móvel só para atender a essa região do país. As ações se concentram no Paraná, que lidera o número de trabalhadores resgatados: em julho, 228 cortadores de cana foram libertados numa usina em Porecatu. Eles eram transportados junto com veneno agrícola, trabalhavam sem equipamentos de segurança, e não tinham água nem banheiro.

"Nós esperamos que, ao encontrar essas condições, elas desapareçam numa velocidade muito maior do que nós temos conseguido na região norte", disse o coordenador da fiscalização Benedito de Silva Filho.
Fonte: aqui.
Acho que nem preciso comentar, não é ?!
A discrepância é tão grande........

O título do post poderia ser "Teoria versus prática".
E depois vem alguém falando em "marketing social" ou qualquer coisa equivalente......

7 de julho de 2008

Marketing político: de volta a ele

Já tratei, aqui no blog, sobre diversos "tipos" de marketing - a relação completa pode ser visualizada ao buscar todos os posts agregados sob a rubrica da "Campanha anti-modismo imbecil", aqui; ou então, na égide "Marketing de QUALQUER COISA", aqui.

Mas agora, retomo o tema do MARKETING POLÍTICO, a partir de um comentário que recebi da Laura, num artigo meu publicado no Portal Administradores, aqui.

Antes de entrar no mérito dos comentários que troquei com a Laura, por e-mail, sugiro a leitura de posts anteriores, nos quais já tratei do "marketing político": aqui, aqui e aqui.

Agora, vamos aos comentários da Laura:
Olá, Carlos, você discorda da existência do marketing político só pelo termo? Será que não é uma opinião limitadora? Será que o marketing não pode ser 'dividido', de acordo com seus objetivos? Sou publicitária e, se pensassemos como você, não existiriam as campanhas de publicidade institucional, por exemplo, afinal ela não é unicamente voltada a venda de um produto, mas da melhoria ou manutenção da imagem de uma empresa. E aí, isso deixaria de ser publicidade? Meu e-mail está aí e gostaria muito que vc respondesse o meu comentário via e-mail.
Obrigado,
Laura Utsch
Respondi, por e-mail, o seguinte a ela:
Oi, Laura, como vai ?
Com relação ao seu comentário, no Portal Administradores, sobre o meu artigo, na verdade o artigo aponta justamente para o oposto: limitador seria acreditar em marketing político, pessoal, odontológico, canino, bancário e outras terminologias afins. Isso seria extremamente limitador justamente porque indicaria, hipoteticamente, que existe um "conjunto" de conhecimentos, técnicas e ferramentas que limitam-se a uma área de atuação (político, bancário, canino, odontológico, sexual, pessoal, jurídico, industrial, plúmbeo, automobilístico etc).
Isso não procede.
Marketing é marketing, e pode ser aplicado a empresas do setor industrial, do comércio, prestadores de serviços ou agronegócios. As ferramentas são as mesmas; o princípio é o mesmo; as técnicas de aplicação das ferramentas são as mesmas - tudo independentemente do setor econômico no qual seja utilizado.
O marketing é, por definição, amplo, abrangente - e usar terminologias como "marketing político" seria limitar as ações do marketing a um ramo específico.

Quanto à publicidade institucional, em detrimento da publicidade "visando à venda", não vejo nenhum empecilho.
Simplesmente porque são coisas diferentes, conceitos diferenciados, com objetivos diferentes, processos igualmente diferentes.....

Perceba que uma coisa é pretender "limitar" o marketing a um ramo de atuação (indústria, comércio etc); outra coisa é diferenciar o marketing dentro do escopo de processos internos da empresa (no nível estratégico, tático ou operacional, por exemplo). A questão do tipo de propaganda e publicidade (se institucional ou com objetivo de incentivar o consumo de produtos e serviços) também serve para identificar objetivos e ações diferenciadas, EXCLUSIVAS a uma ou outra ação.
No marketing político, por acaso, haveria alguma ação ou objetivo DIFERENTE daquilo que se pratica no "marketing não político" ?
Não.
Por isso não há razão para usar uma terminologia que não significa nada, que não implica rigorosamente nenhuma diferença, não agrega novos conhecimentos, não demanda ferramentas diferenciadas etc.

Entendeu, agora ?!

Abs,
Carlos Munhoz
Ela me mandou outro e-mail dizendo o seguinte:
Oi Carlos,
Agradeço pela sua explicação, mas gostaria de dizer que, não acho limitador denominar como marketing político ações de marketing realizadas para conquistar um objetivo político, no caso uma eleição e/ou manutenção da imagem de um candidato perante os eleitores.

Enxergo que a necessidade sentida por alguns profissionais de marketing em denominar a área em que estarão atuando como uma forma de simplificar um pouco aos leigos; Nós, que temos contato com a extensa área da comunicação, realmente não precisaríamos que houvesse nomenclaturas diversas, mas imagino que, para o leigo - que diversas vezes não entende absolutamente nada, em publicidade ou em marketing - esta diferenciação pode fazê-lo perceber que os objetivos podem ser diferentes, mesmo quando as técnicas utilizadas são as mesmas, ou não agreguem novos conhecimentos etc..

Talvez, eu esteja errada em pensar assim, mas além de ver todos como consumidores - e o são - os vejo também como seres humanos que podem sentir a necessidade de uma terminologia mais esmiuçada. Pensando em nós profissionais, realmente concordo contigo, mas pensando nas outras pessoas, defendo o meu ponto de vista.

Falo isso, Carlos, por ter sentido isso dentro de minha própria casa, escutando a minha família; Fiz como costumo fazer com a publicidade: utilizo os meus familiares que, vez ou outra olham pra mim - com um ponto de interrogação na testa - e é nesse momento que percebo o quanto determinada comunicação, determinado VT foi ineficaz ou deixou a desejar, pois se minha mãe - que tem nível superior de educação - não conseguiu entender uma propaganda, ou uma piadinha dalgum VT, imagino que o desentendimento pode ter ocorrido também em diversas outras residências, tornando a propaganda um tanto ineficiente, visto que, mesmo que o público-alvo não tenha sido o de pessoas como minha mãe e ela não conseguiu compreender o que foi tentado passar, imagino que grande parte do restante dos consumidores também não.

E, ao comentar com minha mãe sobre a minha intenção de aprofundar meu conhecimento na área de marketing, ou seja, fazer um mestrado, me foi preciso explicar pra ela como funciona, o que é e pra que serve realmente, pois fui metralhada com suas dúvidas.

Há alguns anos, venho trabalhando o marketing na área política e este ano, provavelmente, trabalharei em novas campanhas. E, às vezes preciso detalhar o que faz um profissional de marketing na área da política, pois diversas pessoas amigas ou conhecidas, demonstram-me suas duvidas e solicitam-me explicações; Uma dessas até me aconteceu ontem, com um colega do centro espírita que frequento - ele é administrador de empresas - e ele veio me perguntar como o marketing poderia ser útil e eficiente em uma campanha política.

Entende o porquê defendo que para os não-profissionais da nossa área, pode ser difícil entender o marketing como uma 'coisa' só, uma ciência bastante ampla?
Bem, aguardo os seus comentários sobre as minhas colocações.
Como conheço a nossa rotina 'corrida' de trabalho, não se incomode em responder urgentemente; aproveite o seu final de semana e responda-me assim que possível.
Abraços, Laura
Depois desses e-mails, perguntei à Laura se ela autorizaria que eu publicasse isso no blog, para continuar a discussão por aqui. Ela, muito gentilmente, consentiu.

Portanto, cá estamos.

Concordo com as idéias iniciais da Laura: MUITA gente não entende a amplitude de ações do marketing.
Essa situação, grosso modo, se aplica a diversas outras áreas do conhecimento - ou será que todo mundo sabe a amplitude de ações de um historiador, geógrafo, geólogo, engenheiro, médico, sociólogo, antropólogo etc ?!
Duvido.

Porém, não me recordo de ver abundância de terminologias restritivas e errôneas sobre as diferentes áreas de trabalho destes profissionais.....

E quanto às pesquisas de opinião e intenção de voto ?
Uma das coisas mais comuns, em institutos de pesquisas, é haver SOCIÓLOGOS para trabalhar no planejamento e análise de pesquisas de mercado. Ibope, DataFolha e outros institutos fazem diversos tipos de pesquisas - e eles têm sociólogos, estatísticos e uma grande e variada gama de profissionais envolvidos.
Alguém por acaso já ouviu falar em "sociólogo político" ? Bom, seria o sociólogo que lida EXCLUSIVAMENTE com pesquisas de mercado envolvendo intenção de voto e afins...... Não seria restringir a competência do sociólogo a apenas uma ação ?

Se temos "marketing político" como uma área DISTINTA do marketing, por que não temos ESTATÍSTICA POLÍTICA, para delimitar a área da estatística que lida EXCLUSIVAMENTE com pesquisas de intenção de voto ?
Simples: por que não é necessário.
O conjunto de conhecimentos, técnicas e ferramentas das quais dispõe um estatístico é suficiente para que ele analise qualquer tipo de pesquisa (seja de intenção de voto, satisfação do consumidor, recall de uma marca etc).
O mesmo raciocínio permeia a questão do tal "marketing político"...... ou não ?! O BOM profissional de marketing pode lidar com produtos ou serviços.... não ?!

Especialmente porque, em se tratando de política em particular, TUDO o que vejo sob a alcunha de "marketing político" refere-se, na verdade, a COMUNICAÇÃO e PROMOÇÃO de ações de um político/candidato. Coisa que, não raro, é chamada simplesmente de "propaganda política" - o que, sabemos, é diferente.
Por que chamar de "marketing político" quando se trata de "comunicação política" ? Este ponto, em particular, já foi comentado aqui.

Aliás, não seria absurdamente restritivo chamar um publicitário de "publicitário político" ?
Isso me passa a impressão de que o cara não é publicitário, mas "publicitário político" - ou seja, só está capacitado a lidar com propaganda POLÍTICA, e nenhum outro tipo. Se perde o emprego com o fim da campanha política, tem que esperar mais 2 ou 4 anos para ter outro emprego em vista........

Sempre que vejo algum texto que deixa implícito que se trata de "propaganda" e emprega-se, ao invés disso, o termo "marketing", já desconfio.... Como dizia o (célebre e sábio) filósofo de Pindamonhangaba, uma coisa é uma coisa; outra coisa, é outra coisa.

Agora, voltando à questão central da mensagem da Laura...
Será que é necessário criar a terminologia APENAS E TÃO SOMENTE para que os "leigos" façam distinção das atividades ?

Rebato com a seguinte questão: será que a desinformação que cerca os "leigos" sobre as atividades do marketing não tem origem, em grande medida, na profusão de terminologias vazias ?
Todo mundo, talvez inconscientemente, sabe o que faz um médico - independentemente da sua especialidade clínica (ortopedista, cardiologista, oncologista, obstetra etc).
Se alguém pergunta a uma pessoa qual sua profissão, e a pessoa responde "sou médico", não restam dúvidas, certo ?
Infelizmente, o mesmo não se aplica ao profissional de marketing (detesto "marqueteiro", porque ganhou conotação de "pilantra", especialmente graças à desinformação da mídia sobre a participação de publicitários nas campanhas políticas - sendo que um dos nomes mais citados nesta seara, Duda Mendonça, nem mesmo é publicitário: ele NÃO tem nenhuma formação superior).

Por quê ?

Será que isto se deve única e exclusivamente ao fato de as atividades de marketing serem tão mais amplas do que as atividades do médico ?
Claro que não.

Será que não é pela desinformação dos meios de comunicação que, muito freqüentemente incentivados por maus profissionais, criam uma imagem sobre os profissionais de marketing que geralmente é associada à (execrável) prática de "propaganda enganosa" ?

Quantas vezes não lemos/vemos/ouvimos coisas que associam "marketing" a "propaganda" ?
Pior ainda: muitas vezes, quando a pessoa faz referência ao "marketing", está, nas entrelinhas, querendo dizer "propaganda enganosa" ?
Citei um exemplo recentemente, aqui. Um outro link que eu localizei, por acaso, me chamou a atenção, aqui. Mais outro, aqui.

Comecei o meu artigo, lá no Portal Administradores, tratando justamente disso... Há diversos trechos de matérias jornalísticas que associam as atividades do "marketing político" a uma suposta "enganação" feita nas campanhas eleitorais.
Junte-se isso à desinformação da média da população, e temos aí o resultado: marketeiro vira mentiroso !!!!

Inclusive pelos exemplos e situações que a Laura descreveu muitíssimo bem, envolvendo as dúvidas sobre as ações reais do profissional de marketing, acredito que precisamos banir estas terminologias vazias.
Simplificar, sim, o entendimento sobre a profissão - e criar "tipos" inexistentes de marketing só atrapalha isso.

O leigo é bombardeado por termos como "marketing político", "marketing educacional", "marketing bancário", "marketing jurídico", "marketing pessoal" e outras dezenas (senão centenas), e acha que são coisas diferentes.

NÃO SÃO.

Contudo, os leigos acabam "perdidos" entre tantos "tipos", e acabam achando que marketing é um negócio complicado demais para entender, cheio de "sub-divisões".

Por essas e outras, fico com a definição do Regis McKenna, para quando é perguntado "o que é marketing, afinal?".

É TUDO.

14 de junho de 2008

Olhe-se pra você no espelho

Já faz tempo que não trato de um dos meus modismos imbecilizantes preferidos: o MARKETING PESSOAL.
Vou começar diretamente pelo vídeo:



Este vídeo é simplesmente IMPAGÁVEL.
Logo no começo (13 segundos, mais ou menos), o "olhe-se pra você no espelho" me fez gargalhar por uns 4 minutos......

Quando eu menciono aqui no blog que esse bando de idiotas que se dizem "especialista em marketing-de-alguma-coisa" não passam de uma corja de aproveitadores, me refiro exatamente a este tipo de situação.....
O cara coloca um vídeo no YouTube (que já foi visto mais de 8.500 vezes) para supostamente ensinar a fazer "marketing pessoal" - e em menos de 30 segundos solta uma pérola desse tipo......

O resto do vídeo também é engraçado, porque patético.

O pior é que tem gente que acredita que isso exista, e compra livrinho (do tipo "Monge e executivo") para "aprender a fazer o seu marketing pessoal" !!!!!!!!!!!!

Como pode ????????????



Este vídeo do Max Gehringer trata de pontos que eu já comentei aqui, há bastante tempo.
Volto a perguntar: é "marketing pessoal" ou um conjunto de obviedades com uma roupagem "bonitinha" - conquanto ordinária ?

22 de maio de 2008

Responsabilidade social ou política de descontos

Quando eu achava que já tinha visto, lido e ouvido toda a sorte de modismo vazio e sem sentido, acabo sendo surpreendido......
Eis o que eu li (os grifos, em negrito, são meus):

Para saber a diferença entre o Faturamento Potencial e o Faturamento Bruto de sua Instituição de Ensino Superior, de forma simples e objetiva.
1. Faturamento Potencial. Multiplique pelo número de matriculados em sua escola o valor da mensalidade que você anuncia. O preço cheio (que em muitas escolas é meramente ilustrativo).

2. Faturamento Bruto. Obtém-se com as mensalidades pagas pelos seus alunos (descontando a inadimplência e a evasão). Ao dividir-se o Faturamento Bruto pelo número de alunos da escola têm-se o Ticket Médio da Escola.

Por fim subtraia o valor “Ideal”, do Faturamento Potencial, do valor “concreto” do Faturamento Bruto. Esse Delta é a renúncia de receita que a IES concede por meio de Bolsas e Descontos que oferece aos seus estudantes.


Essa renúncia pode ser classificada como um investimento em “responsabilidade social”, posto que permite o acesso ao Ensino Superior a estudantes sem condições de pagar o valor concreto da mensalidade
. Ao Multiplicar essa renúncia mensal, pelas parcelas de todo ano letivo os números tendem a ser estratosféricos. E deveriam se contabilizados no balanço social da escola, parte de suas ações de Marketing Educacional.


A Renúncia de Receita tornou-se uma prática de mercado. Das faculdades privadas, 91% oferecem desconto e as “Bolsas” são estratégia para atrair clientes em um mercado cada vez mais concorrido.

Entre os valores anunciados (ideais) e aqueles praticados (reais), existe uma diferença, que deve ser contabilizada na conta da responsabilidade social da Instituição.


[...] Os critérios utilizados hoje são internos e, por vezes, pouco criteriosos. Na maioria das vezes, os benefícios são dados pela própria instituição - e não por programas governamentais - por razões como mérito acadêmico, idade ou até para alunos transferidos de outras universidades.


[...] O crescimento no número de bolsas e descontos acompanha a explosão da oferta. Quanto mais vagas, menos candidatos, mais as escolas irão brigar por preços.


Por questões de espaço e foco, reproduzi apenas alguns trechos do texto original, que está aqui na íntegra.
Vou me abster de comentar o trecho "os critérios (...) são pouco criteriosos" porque não sou especialista em critérios criteriosos e critérios pouco criteriosos. Não apenas não sou especialista nisso, como sequer entendo o que seriam "critérios pouco criteriosos".....

Agora, as menções à (maldita!) "RESPONSABILIDADE SOCIAL" são de matar.
Quer dizer que baixar preços é uma ação de RESPONSABILIDADE SOCIAL ?
O raciocínio é o seguinte: se eu baixo meus preços, um número maior de clientes potenciais pode tornar-se cliente efetivo (mercado penetrado); com isso, mais gente tem acesso ao meu produto....o que seria, neste raciocínio torpe, uma ação de "inclusão social".....

É isso mesmo ?!
Então se a Daslu baixar o preço de uma bolsa Louis Vuitton de R$ 10.000,00 para R$ 4.000,00, ela estaria tomando uma ação de RESPONSABILIDADE SOCIAL ???????

Ora, é lógico que com um preço menor, um maior número de pessoas pode comprar a bolsa, certo ?! Então..... Cada vez que eu concedo algum tipo de desconto eu estaria promovendo responsabilidade social ??????????

Essa coisa de RESPONSABILIDADE SOCIAL é, além de um termo absolutamente vazio, inexpressivo e sem nenhum sentido, uma bobagem. Um modismo burro.

A empresa que contribuiu financeiramente com alguma "instituição de caridade" (que atenda crianças, doentes, idosos ou qualquer outro segmento) se acha no direito de alardear que pratica "responsabilidade social", mas omite, via de regra, que consegue um belíssimo desconto no imposto de renda a pagar ao final do exercício-fiscal.

Como se não bastasse, o próprio conceito de RESPONSABILIDADE SOCIAL é um acinte à inteligência.
Senão, vejamos: segundo o Instituto Ethos (aqui), observar a lei em todos seus aspectos já é uma base de responsabilidade social. Como assim ????????
Cumprir a lei é uma OBRIGAÇÃO CIVIL de todos os cidadãos e empresas, e não tem NADA a ver com responsabilidade social !!!!!!!
Trata-se do mesmo tipo de confusão criada pela busca desenfreada de aparecer na mídia - mas não deixa de ser uma burrice patética, como fica muito claro aqui.

Para aqueles que ainda não pararam para refletir sobre o vazio conceitual que representa a RESPONSABILIDADE SOCIAL, recomendo a leitura de um artigo: da autoria de Elvira Cruvinel Ferreira Ventura, intitulado Responsabilidade social das empresas sob a óptica do “Novo Espírito do Capitalismo”, o artigo foi publicado no Encontro Anual da ANPAD, de 2003.

Usei este artigo para escrever uma análise sobre a RSE (Responsabilidade Social Empresarial), que ainda não posso disponibilizar aqui na íntegra pois foi remetido a um evento que exige ineditismo do paper. Porém, um pequeno trecho eu posso adiantar:

Para Ventura (2003), o isomorfismo é uma das explicações para a propagação do conceito e disseminação da prática de RSE: as organizações podem muitas acabar adotando o discurso da responsabilidade social sem questionar o que este conceito realmente significa, sem rever valores ou crenças, com o objetivo exclusivo de se legitimar perante a sociedade.

Em conclusão, Ventura analisa que, sob o aspecto coercitivo, as organizações mais fortes obrigam as empresas de sua cadeia produtiva (geralmente composta por inúmeras organizações menores, com menos poder de negociação e menos recursos) a adotar práticas similares às suas, impondo ações que considerem importantes sob a alcunha de responsabilidade social.

Sob o aspecto mimético, para a autora, as organizações copiam as práticas de outras, que julgam de ponta, inclusive como estratégia de posicionamento de mercado. Muitas dimensões da RSE — como, por exemplo, a dimensão pública/política — são deixadas de lado nas análises existentes até o momento, sendo o movimento inquestionavelmente aceito como positivo para o bem comum, pela maioria das pessoas. Assim sendo, uma empresa que não se insere no movimento pela responsabilidade social passa a ser criticada e punida — mais em decorrência da institucionalização e aceitação da idéia da RSE do que pela motivação e relevância intrínsecas às suas proposições.

Ademais, o movimento pela RSE não seria fruto simplesmente de uma mudança desejada pela sociedade, da crítica, mas também um deslocamento do capitalismo visando combater a crítica. Ou seja, os deslocamentos do capitalismo e as transformações nos dispositivos que os acompanham contribuem para desmantelar a crítica, que se torna inoperante, dando-lhe uma nova possibilidade de acumulação e lucros. Esta seria uma forma de o capitalismo sobreviver, transformando-se todas as vezes em que tiver que atentar para a crítica que lhe é feita, conformando um novo espírito legitimador e justificador de suas práticas, que garanta o engajamento das pessoas.

A construção de um novo espírito do capitalismo é necessária não apenas do ponto de vista humanista, mas também para perpetuação do próprio capitalismo — e são exatamente os movimentos críticos que informam o capitalismo dos riscos que o ameaçam. No âmbito da RSE, seguindo esta linha de raciocínio, são inúmeros atores sociais alertando que é preciso mudar o comportamento da organização — e, não tendo sido mais possível fugir desta crítica, acabou-se por acatá-lo. Diante disso, as empresas passam a agir conforme estipulam as novas demandas, o que, no limite, resulta na legitimação o movimento pela em prol da RSE.



Como se não bastasse esse acúmulo de "petardos da ignorância", temos o tal "BALANÇO SOCIAL".....

Sobre este "instrumento" de divulgação da (maldita!) RSE, localizei este texto (aqui, na íntegra):
A função principal do balanço social da empresa é tornar público a responsabilidade social da empresa. Isto faz parte do processo de por as cartas na mesa e mostrar com transparência para o público em geral, para os atentos consumidores e para os acionistas e investidores o que a empresa está fazendo na área social. Assim, para além das poucas linhas que algumas empresas dedicam nos seus balanços patrimoniais e dos luxuosos modelos próprios de balanço social que estão surgindo, é necessário um modelo único - simples e objetivo. Este modelo vai servir para avaliar o próprio desempenho da empresa na área social ao longo dos anos, e também para comparar uma empresa com outra. Empresa que cumpre seu papel social atrai mais consumidores e está investindo na sociedade e no seu próprio futuro. E mais ainda, tem o direito, antes do dever, de dar publicidade às suas ações. Porém, esta propaganda será cada vez mais honesta e verdadeira, na justa medida em que utilizar parâmetros iguais e permitir comparações por parte dos consumidores, investidores e da sociedade em geral.


Palavras que se pretendem contundentes, mas infelizmente são vazias.
Como eu já cansei de dizer: não conheço NINGUÉM que tenha escolhido ser cliente do Bradesco ou do Itaú por conta da "responsabilidade social" propagada nas campanhas de comunicação destes bancos.
Portanto, quando se diz que uma "empresa que cumpre seu papel social atrai mais consumidores", trata-se de uma tentativa mentirosa, hipócrita e falsa utilizada como subterfúgio à vã tentativa de convencer um incauto desavisado.

Por acaso o atento leitor se recorda do caso da Nike, na década de 1990 ? A empresa foi acusada de recorrer a mão-de-obra infantil em países asiáticos como forma de reduzir os custos de produção de seus tênis (que eram vendidos no resto do mundo, especialmente países ricos, com margens de lucro altíssimas).
Por acaso houve um "colapso" nas vendas da empresa ?
Os consumidores deixaram de comprar produtos da Nike ?
NÃO.
O consumidor não está nem aí para estas bobagens inventadas pelos desesperados por barulho.

Contudo, o mais grave MESMO é afirmar que redução de preços (seja na forma de bolsas, descontos, cupons, seja na forma de preços promocionais por tempo determinado) representa uma ação de RESPONSABILIDADE SOCIAL.
Afirmar isso é de uma ignorância que dói.

Redução de preços tem relação com tentativa de aumentar a base de clientes, gerar um incremento no fluxo de caixa, atraiar a atenção dos clientes potenciais etc.
Mas não tem NADA a ver com responsabilidade social !!!!!

Mas as faculdades viram o número de concorrentes aumentar, mais vagas sendo oferecidas...
É tão lógico, tão básico e tão óbvio que se trata apenas e tão somente de uma estratégia de precificação mais ousada, mais agressiva, em virtude do aumento da concorrência no setor.

Por que muitas pessoas tentam complicar (e florear, inventar, ludibriar) coisas tão simples ?!