21 de dezembro de 2008

Para que servem revistas volúveis ?

O título do post é a pergunta que eu me fiz quando vi a capa da Exame de 27 de Novembro (edição 932). A matéria de capa perguntava "para que servem os analistas".
Abaixo, alguns trechos da referida matéria (que está na íntegra AQUI):
Parece que foi num passado distante, mas há apenas seis meses uma espécie de euforia coletiva tomou conta do mercado acionário brasileiro. Para a premiada equipe de análise do banco de investimento UBS Pactual, as ações de empresas brasileiras eram uma pechincha em maio de 2008. As razões para tanto otimismo eram de uma clareza científica. As economias de países emergentes, como se sabia, descolavam-se do desempenho dos países ricos. O Brasil havia acabado de receber o tão sonhado selo de país com grau de investimento, e o investidor estrangeiro invadiria a bolsa local na nova fase. A expansão do crédito garantia dinheiro a todos, dos compradores de carros àqueles que financiavam seu primeiro apartamento. O futuro, portanto, sorria para a bolsa brasileira.

O UBS Pactual, então, cravou sua previsão para o fim do ano. O Índice Bovespa, que reúne as principais empresas do país e estava em seu recorde histórico, de 70 000 pontos, chegaria a 85 000 pontos até o fim de dezembro. Entre as dez empresas que se destacariam no período estavam as varejistas Lojas Americanas e B2W, bancos e companhias do setor imobiliário. Por alguns dias, a coisa pareceu fazer um baita sentido. A bolsa brasileira continuou subindo até meados de maio - quando começou a descer a ladeira e não parou mais. Quem acreditou no sonho do "Ibovespa 85 000" perdeu dinheiro de gente grande. Das ações recomendadas, todas caíram até o fim de novembro. A que caiu menos despencou 50%. A pior, a construtora Rossi, perdeu mais de 80% do valor de mercado desde então. E o Índice Bovespa rastejava em 34 000 pontos no dia do fechamento desta edição. A projeção se provou errada da premissa à conclusão.

Esse, infelizmente, é apenas um exemplo do circo de horrores que vem sendo o trabalho dos analistas do mercado financeiro em 2008. Seguir recomendações de oráculos das finanças tem sido um péssimo negócio. Não importa se essas avaliações vêm de economistas agraciados com o prêmio Nobel, magos das planilhas ou investidores bilionários. A crise financeira global varreu do mundo trilhões de dólares em investimentos e levou junto a reputação de analistas econômicos de toda espécie. O macho alfa da turma, o apresentador de TV americano Jim Cramer, destacou-se nos últimos meses por sua capacidade de errar bisonhamente. Em outubro, quando o índice Dow Jones ficou abaixo de 10 000 pontos, Cramer berrou: "Peguem todo o seu dinheiro e comprem ações! Agora!".
No dia seguinte, o índice caiu outros 500 pontos - no final de novembro, beirava os 8 000 pontos, queda de 20% em relação ao fundo do poço identificado por Cramer.

Por onde se olhe, pipocam exemplos de trapalhadas de calibre semelhante feitas por iluminados que deveriam entender do que estavam dizendo.
Esta frase aqui em cima......esplêndida !
Isso é, SERIA esplêndida se a Exame não fosse mais uma das tantas fontes de previsões bisonhas.

Antes de eu mesmo tecer meus comentários, aproveito uma carta publicada na edição 933:
Em relação ao tema proposto pela capa da última edição, cabe mencionar também o papel dos meios de comunicação e de revistas especializadas que, contagiados pela euforia, outorgam espaço a esses mesmos analistas. A mídia também precisa fazer sua autocrítica.
Bernardo Tanis, São Paulo, SP
Bernardo: concordo PLENAMENTE com você !!!!!!!!
Eu começaria, aliás, pela própria Exame, que frequentemente abre espaço para opiniões estapafúrdias e insiste na burrice de clamar por "gurus".
Preciso mencionar, novamente, o pilantra Jim Collins ?

Em Setembro, eu já havia publicado um post sobre o tema - veja AQUI.
A Exame abordou o assunto no final de Novembro.
Rápida, né ?!

Mas, pior do que a lerdeza para tratar de algo tão óbvio, foi a reportagem eximir-se de tentar produzir um mea-culpa, ainda que tardio e superficial:
Se economistas e analistas erram tanto, por que insistimos em ouvir suas previsões e atribuir a elas um caráter científico? (Os jornalistas de EXAME são réus confessos no caso.) Uma história ajuda a ilustrar a resposta. Durante a Segunda Guerra Mundial, o economista americano Kenneth Arrow (que ganharia um Nobel em 1972) foi convocado para liderar um grupo de pesquisadores. A missão era prever as condições meteorológicas nos campos de batalha com um mês de antecedência. Os estatísticos do grupo logo perceberam que as previsões não tinham o menor valor - ou seja, não eram diferentes de um chute qualquer. O grupo mandou um relatório a seus superiores informando que não enviaria as inúteis previsões. Veio, então, a resposta. "O comandante-geral sabe que as previsões não são boas. No entanto, ele precisa delas para fins de planejamento." Tomamos decisões baseadas em previsões o tempo inteiro. Aceito aquela oferta de emprego? Devo ter filhos agora? Faço um financiamento? As empresas dependem de cenários para tomar decisões de investimento, contratações ou aquisições. Governos precisam de previsões para formular políticas. E o mercado financeiro usa expectativas para sua formação de preços. O futuro, portanto, vale muito dinheiro. "Previsões econômicas constituem parte vital do dia-a-dia de empresas e famílias", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Diante das incertezas que o futuro apresenta, é preciso avaliar os cenários, assumir o risco e decidir. Ou seja, apesar da crise atual, os economistas vão seguir tentando adivinhar o que vai acontecer. Os analistas continuarão recomendando ações. E empresários, jornalistas e consumidores continuarão levando essas previsões a sério - essa é a única previsão que esta reportagem se arrisca a fazer.
A matéria não chega nem perto de lembrar ao seu leitor que a própria Exame adora as análises malucas desses "gurus" fabricados às dezenas nos últimos anos. Alguns poucos exemplos das previsões estapafúrdias e conclusões equivocadas da própria Exame estão AQUI, AQUI e AQUI. Isso para ficar apenas em alguns poucos......

Alô, dona Cristiane Corrêa (editora-executiva da Exame) !!! A coisa só está piorando !!!!!!
Eu já tratei disso, AQUI.
Aparentemente, nada vai mudar...... (exceto o número de assinantes da Exame)