Marketing, economia, administração, educação, política, música - enfim, um pouco de tudo.
11 de dezembro de 2012
Endosso do LinkedIn - ou o samba do crioulo doido
Por vezes somos surpreendidos por algumas felizes coincidências.....
Meu texto de ontem, sobre os perigos de indicar ou recomendar um profissional, me permitiu receber alguns comentários interessantes.
Mas a grande coincidência foi a coluna da Marion Strecker na Folha de São Paulo de ontem.
Ela exemplifica muito bem a insanidade que caracteriza algumas situações bastante corriqueiras hoje.
Vamos ao texto:
Não passo um dia sem receber pedidos pela internet. Muitos vêm de desconhecidos, disfarçados na forma de "convites".
Vão desde solicitações simpáticas, com promessas de alegrias ou recompensas, até propagandas disfarçadas ou pedidos de presente para casamentos aos quais não fui convidada. Muitos são mensagens grosseiras, ainda que feitas sem intenção de ofender.
Convites para jogar ou usar aplicativos no Facebook recebo aos montes. Só que não tenho tempo para jogar e estou traumatizada com apps que copiam informações pessoais e saem disparando mensagem a todos os nossos amigos, às vezes sem o nosso conhecimento. Cansei.
Convites para usar novas redes sociais? Esse é outro tema que entope o meu e-mail. Já uso três redes. Cansei de testar outras e não gostar. Só vou mudar para uma nova se alguém muito especial me convencer de que vale a pena.
Recomendações profissionais são outro trauma para mim. Antigamente, se alguém que tivesse trabalhado diretamente comigo precisasse de uma carta de recomendação para pleitear um emprego específico, a pessoa me procurava numa conversa bem franca.
Os pedidos eram raros e vinham de quem eu conhecia muito bem profissionalmente. Por isso eu atendia com prazer.
Hoje recebo esse tipo de pedido aos montes por mensagens automáticas na internet. Todas as redes sociais profissionais fornecem a "facilidade" ao público, para que, num só clique, você possa disparar pedidos impessoais de recomendação para Deus e o mundo, mesmo que não esteja pleiteando um emprego específico naquele momento.
Parecem pedidos de recomendação preventivos, para ficar ali expostos como propaganda pessoal.
São pedidos de recomendação profissional de pessoas com quem nunca trabalhei e nem sequer conheço. Não é uma loucura?
Um exemplo, omitindo sobrenomes por cortesia. Em 20 de agosto, recebi pela rede LinkedIn a seguinte mensagem particular, intitulada "Você poderia me recomendar?"
"Prezado (sic) Marion,
Venho através desta solicitar uma breve recomendação sobre meu trabalho para que eu possa adicioná-la ao meu perfil do LinkedIn. Se tiver dúvidas, entre em contato.
Agradeço desde já pela ajuda.
Paulo Victor"
Fiquei intrigada. Será que esse Paulo trabalhou comigo, e eu não me lembro dele? Será que escreveu "prezado" em vez de "prezada" por erro de digitação? Deixei a mensagem repousar numa imensa pilha, que nunca terei tempo de zerar.
Em 13 de setembro me deparei de novo com ela. Resolvi tirar a dúvida. Então escrevi secamente o seguinte:
"Paulo Victor,
Você me conhece? Eu te conheço? Refresque-me a memória, por favor.
Marion"
Em 25 de novembro recebi a resposta, que reproduzo exatamente como chegou.
"Desculpe, não nos conhecemos pessoalmente.
Sou Paulo,
Estudante de Jornalismo
Quero ser Jornalista Internacional
Prazer : )"
Resumo: o cara achou que eu era um homem, não se deu ao trabalho nem de "googlar" meu nome e queria que eu o recomendasse por aí para ser um jornalista internacional, na supostamente melhor rede profissional da atualidade.
Eu vou um passo adiante: no LinkedIn, já recebi pedidos de recomendação de gente que nunca conheci, mas o mais estranho é que agora, graças ao novo recurso "endorsements", recebi avisos do LinkedIn me alertando que "fulano" endossou minha habilidade em "marketing estratégico" ou "e-learning", ou qualquer outra coisa.
Detalhe: fulano que eu não conheço!
Ou seja: o camarada não me conhece, não tem a menor idéia se sou um pilantra como o descrito no post de ontem, não sabe se tenho a mínima competência no quesito, mas referendou minha suposta "habilidade"!!!!
É ou não é um samba do crioulo doido????
Sim, estou no LinkedIn, e acho uma ferramenta muito bem bolada, muito útil.
Mas tem gente que não se enxerga mesmo...
10 de dezembro de 2012
Indicações profissionais: o que não fazer. Ou: como entrei pelo cano tentando ajudar um pilantra
Indicações e recomendações de outros profissionais para certos cargos e/ou projetos é uma tradição. Algumas empresas, antes de iniciar um processo seletivo externo, preferem pedir aos seus atuais funcionários que façam indicações ou recomendações de profissionais que eles julgam qualificados para o cargo em questão.
Há quem PREFIRA contratar uma pessoa baseado na indicação feita por alguém “de confiança”.
Há alguns anos, surgiu a rede social LinkedIn, dedicada a desenvolver a rede de contatos (networking) profissionais de seus usuários. A idéia central é justamente facilitar contatos profissionais, recorrendo a ferramentas modernas, práticas e ágeis, baseadas na internet - o que, convenhamos, facilita muita coisa.
Mas quero tratar justamente dos perigos que rondam aqueles que resolvem recorrer às indicações, às recomendações - com ou sem o uso de ferramentas como o LinkedIn.
Pois bem. O LinkedIn pode ser extremamente útil para ajudar a controlar a networking, mas é preciso ter bom senso para usá-lo.
Eu não tive.
E errei noutros aspectos também. Vamos a eles.
No final de 2010, o marido de uma amiga minha de longa data estava planejando um novo negócio. Inicialmente ele me pediu algumas opiniões, e graças a isso tive algum contato com as idéias que ele e um sócio (Fred, que eu jamais conheci) tinham. Apontei alguns problemas nas idéias deles, mas sempre de forma superficial, pois não me foi solicitada uma opinião mais aprofundada, mais, digamos, “profissional”. Não me pareceu, na época, um negócio tão rentável quanto eles achavam que poderia ser, mas apenas viável, se tanto.
Como consultor empresarial, eu poderia, claro, fazer uma avaliação mais pormenorizada, mas aquela não era uma consulta formal, apenas algo baseado na amizade - inclusive porque as conversas acabavam acontecendo em situações sociais, completamente informais.
Em 2011, eles iniciaram o negócio para valer.
O Maurício e o sócio, Fred, se conheceram na empresa aonde ambos trabalhavam até 2010 - o Fred foi demitido no início de 2011, e o Maurício, em maio do mesmo ano.
Como eles já estavam elucubrando a empresa desde antes da demissão, havia tempo para fazer um planejamento. Mas não foi isso o que eles fizeram.
De qualquer forma, a demissão do Fred foi o “empurrão” definitivo para o início das atividades da empresa. Mesmo sem o planejamento que eu sugeri ao Maurício.
Começaram o negócio, e logo percebi que nenhum dos dois estava minimamente preparado para o período inicial de QUALQUER empreendimento - o que pressupõe dificuldades em fazer caixa, investimentos iniciais e paciência para aguardar o retorno.
O fato concreto é que em maio, após o Maurício ser demitido, acabou a única fonte de renda fixa da empresa - que, por estar começando, precisava ser “bancada” pelos sócios, o que é absolutamente esperado, normal.
A partir de junho, a situação começou a ficar mais complicada.
Em agosto o Maurício não tinha mais dinheiro para pagar as despesas PESSOAIS dele (aluguel, prestação do carro, água, luz, telefone etc). Aliás, nem a empresa tinha receita para cobrir seus próprios custos, nem os sócios tinham renda própria para sustentarem-se (excluindo o salário da esposa do Fred).
Deixando de lado vários detalhes irrelevantes, neste momento o Maurício pediu minha ajuda.
Ele queria que eu fizesse indicações de potenciais clientes para a empresa deles. Eles precisavam de clientes para gerar receita - e, assim, cobrir os custos da empresa e, com alguma sorte, conseguir uma renda mínima para cada um dos sócios.
Foi neste momento que começou o problema. Ou, ao menos, o primeiro.
Na ânsia de ajudar o Maurício, acabei deixando em segundo plano uma questão que JAMAIS deve ser ignorada.
Selecionei, em meio aos meus contatos, algumas possibilidades; fiz contatos diretos, por telefone ou e-mail, pedindo uma chance para que a empresa deles fizesse uma apresentação dos seus serviços; investiguei, junto a algumas pessoas, oportunidades para a empresa deles, e cheguei a intermediar algumas propostas. Mas deixei de lado a minha avaliação crítica.
O fato concreto é que, naquele momento, sob aquelas circunstâncias, e sob a gestão de 2 pessoas sem nenhuma capacidade ou experiência gerencial, a empresa estava fadada ao fracasso.
Eu, guiado pela amizade, acabei ignorando tudo isso, e tentei ajudá-los.
Hoje posso dizer que FELIZMENTE nenhuma das propostas e contatos que eu intermediara prosperou. Nenhum negócio foi fechado. Nada.
Ainda bem!
Por que eu digo “ainda bem”?!
Porque o tempo acabou me fazendo ver, forçosamente, aquilo que no primeiro momento eu ignorei - graças à amizade.
Primeira coisa: para recomendar uma pessoa (seja para um cargo, um projeto etc), você deve conhecer a pessoa suficientemente bem para saber se ela é CONFIÁVEL. Acabei descobrindo, em 2012, que o Maurício não é confiável. E, pelo que observei, o sócio dele também não era - mas este, como já disse, nem cheguei a conhecer.
A surpresa no quesito confiança veio em 2012: o Maurício invadiu minha conta no LinkedIn, alterou meu perfil, e colocou parte do meu currículo como se fosse dele. Volto a tratar disso mais adiante.
Segunda coisa: ainda que a pessoa seja confiável, é preciso avaliar se ela é a mais adequada para a indicação em questão.
Eu errei pois permiti que a amizade me cegasse no que tange à capacidade do Maurício em gerir a empresa. Eu achava que ela estava interessado em aprender, e que faria isso se tivesse oportunidades, mas eu estava errado.
Eu emprestei livros, mandei muita coisa para que ele lesse (inclusive materiais de aulas minhas), me coloquei à disposição para ensiná-lo, ajudá-lo, e o incentivei a fazer cursos - faculdade, inclusive.
Tudo à toa.
Uma cópia da minha dissertação de mestrado ficou perdida numa gaveta da casa dele por alguns meses, sem jamais ter sido tocada. Dezenas de artigos e links que enviei por e-mail tiveram o mesmo fim: o limbo da caixa de entrada.
Não apenas ele não tinha as competências e habilidades necessárias, como ele não tinha sequer interesse real em adquiri-las e/ou desenvolvê-las.
Em suma, a pessoa errada para dirigir uma empresa - não importa de qual tamanho.
É preciso notar o seguinte: eu criei o perfil dele no LinkedIn (neste momento, devo ter feito login no site usando o computador dele, e minha senha deve ter ficado armazenada, o que possibilitou a invasão do meu perfil), inicialmente eu mesmo atualizava muitas coisas porque ele não estava familiarizado com o site, e também usei a minha base de contatos no site para que ele conseguisse ter mais do que 2 ou 3 contatos apenas.
Fiz as “apresentações” por meio da plataforma, para ajudá-lo a começar a “networking”.
De uma certa forma, isso "transferiu" contatos meus para ele, mesmo sem que ele conhecesse aquelas pessoas - tenho ainda o e-mail de um amigo que respondeu o convite de contato do Maurício com a seguinte frase: "amigo do Munhoz é amigo meu".
Inicialmente, nosso acordo era de que eu daria este “ponta-pé” inicial, mas depois, paulatinamente, ele assumisse o controle. Mas depois percebi que nem mesmo nisso ele tinha interesse real (o problema do perfil inadequado: um empreendeor sem nenhuma vontade de aprender, e reduzida capacidade para melhorar, desenvolver-se).
Resumindo, uma pessoa nada confiável (que foi capaz de “roubar” minha conta na plataforma que eu apresentei a ele com uma finalidade que até hoje eu ainda não entendi), e com o perfil mais errado possível.
Eu errei, repito, ao não perceber isso antes.
Como eu não percebi que a mediocridade pessoal e profissional tinham a mesma causa?
Como eu ignorei o fato de que uma pessoa que nunca gerenciou nada, e que não tinha nenhum interesse efetivo em aprender, jamais poderia vir a gerir uma empresa de sucesso?
Olhando para trás, mea-culpa feita, só o que posso concluir é que deixei a ilusão suplantar a razão.
Racionalmente, nunca houve nenhum indício de que o Maurício tivesse a capacidade, a competência, a habilidade ou a vontade (real) ter uma empresa, de geri-la.
Mas deixei a racionalidade de lado.
Grande erro!
Assim, fica a lição: muito cuidado ao recomendar alguém.
Você pode estar prestes a colocar seu nome, sua credibilidade, em risco.
Não vale a pena fazer isso por um pilantra qualquer.
O segundo problema foi causado justamente porque eu fui querer ajudar um cara que trabalhava como analista de sistemas (a despeito de não ter formação nenhuma) a usar um simples site, o LinkedIn, mas não conseguia preencher uma porra de um currículo on-line!
Acabei deixando minha senha na memória do computador dele, possibilitando que ele “roubasse” meu perfil.
Portanto, além de ter cuidado com qualquer indicação ou recomendação, jamais confie uma senha à memória do computador de ninguém - mesmo que não seja um site com dados bancários, cartões de crédito etc. Consegui recuperar minha conta no LinkedIn, mas deu muito trabalho.
Um trabalho que um pilantra desse naipe simplesmente não merece.
PS: Enquanto eu tentava recuperar o acesso ao meu perfil no LinkedIn, recorrendo ao SAC da empresa, minha advogada fez alguns "print-screens" do perfil que o pilantra "roubou". Estão NESTE ARQUIVO.
Ressalto o seguinte: ele mudou o nome, que aparece bem no cabeçalho, mas todas as recomendações escritas pelos meus alunos e contatos (mais abaixo) citam o MEU nome, e não o dele!
Além de tudo, o pilantra não consegue nem mesmo forjar um currículo falso crível!
5 de dezembro de 2012
O papel dos empresários no relacionamento cliente-empresa
Analisando brevemente a evolução do marketing, pode-se perceber que ele tem se voltado cada vez mais para o foco no cliente: há alguns anos, o cliente passou a ser o “centro” de tudo. Isso é bom, pois nenhuma empresa consegue sobreviver sem clientes — ela pode até ser muito boa em produzir determinado produto, ou prestar um certo serviço, mas se não conseguir ninguém disposto a comprá-lo, fecha as portas.
Outra tendência histórica do marketing é estudar o relacionamento cliente-empresa, que deve oferecer benefícios para as duas partes: o cliente deve receber não apenas um produto ou serviço que atenda suas necessidades e anseios, mas deve ser tratado de tal forma que não tenha vontade de buscar uma solução (produto ou serviço) da concorrência; a empresa, por sua vez, deve beneficiar-se através de lucros maiores vindos de clientes satisfeitos que não se deixam seduzir por ofertas momentâneas de outras empresas.
Inclusive por isso, repete-se à exaustão o mantra que “preço baixo não fideliza clientes”. E não fideliza mesmo! O que fideliza clientes (e, portanto, oferece maiores margens de lucro às empresas) é o relacionamento cliente-empresa. No marketing, criou-se o termo “marketing de relacionamento”, que passou a designar esta preocupação com o cliente.
O marketing de relacionamento busca gerar os seguintes resultados: maior percentual de clientes satisfeitos; maior lealdade dos consumidores; percepção do mercado de que a empresa oferece produtos de melhor qualidade; mais lucro para o vendedor. Trata-se de um processo contínuo, que requer que a empresa tenha contato constante com os consumidores para assegurar que os objetivos estejam sendo alcançados e exige também que haja real integração da filosofia do marketing de relacionamento em todos os processos da empresa. Este costuma ser o maior desafio: algumas empresas acham que o marketing de relacionamento deve concentrar-se num único departamento, ou num pequeno grupo de funcionários — por exemplo, apenas aquele grupo que lida diretamente com os clientes.
Não é verdade.
Precisamos entender que TUDO faz parte do relacionamento entre o cliente e a empresa. Algumas coisas mais óbvias e visíveis são aquelas relativas à aparência, educação, cortesia e eficiência no atendimento: cada funcionário representa a empresa, em todos os momentos, então é crucial que haja treinamentos capazes de mostrar as maneiras adequadas de tratar o cliente. Isso vale para os processos de pré-venda, venda e pós-venda. Quando o cliente está indeciso, comparando produtos e serviços, quem o atende deve estar preparado para esclarecer dúvidas sobre o funcionamento do produto, as características do serviço, preços, garantias etc.
Durante a venda, é preciso agilidade: o cliente não deve esperar meia hora para uma simples emissão de nota. Vender um item que não existe em estoque é um erro terrível, que demonstra completo desinteresse por parte do vendedor — pior do que isso, só mesmo deixar o cliente esperando 20 minutos para que se descubra que o item está indisponível. Faça isso e perca um cliente para sempre.
Porém, o grande desafio para a empresa interessada em fidelizar o cliente vem no pós-venda. Pode ser no momento de prestar assistência técnica (no caso de defeito do produto), ou então pode ser na identificação do grau de satisfação do cliente com o produto ou serviço — mas, por favor, espere o cliente ter tempo de experimentar o produto/serviço. Já vi casos de montadoras de automóveis que ficavam tão ansiosas em saber a opinião do cliente que ligavam 2 dias depois de o cliente retirar o carro novo da concessionária. Ora, em 2 dias o cliente não teve tempo, ainda, de avaliar seu grau de satisfação!
Contudo, mais importante do que apenas ligar para o cliente e perguntar sua opinião é saber o que fazer com esta opinião. Se sua empresa vai anotar a opinião dos seus clientes num pedaço de papel e depois deixar esta informação “na gaveta”, nem perca seu tempo ligando para o cliente ou enviando uma pesquisa de satisfação por correio ou e-mail/internet. O relacionamento cliente-empresa deve basear-se na VERDADE. Se a empresa não irá usar a informação DE VERDADE, deve economizar tempo e dinheiro e simplesmente NÃO procurar o cliente.
Digamos, por exemplo, que o cliente gostou do produto, mas tem 2 reclamações sobre o seu funcionamento. Isso indica que a empresa conseguiu uma informação — mas e se ela não sabe o que fazer com esta informação? Novamente perdeu-se tempo e dinheiro. Inclusive o tempo do cliente, ao responder o questionário de satisfação — mesmo que sejam apenas 3 ou 4 perguntas.
Há inúmeras pesquisas que demonstram que clientes que tiveram seus problemas solucionados se mostram mais fiéis do que clientes simplesmente satisfeitos; seria o reconhecimento da seriedade da empresa no pós-venda. Em suma, o marketing de relacionamento comprova que a correção do erro é mais bem recebida do que a perfeição.
O grande objetivo de criar uma relação entre a empresa e seus clientes é justamente beneficiar ambos os lados, o cliente e a empresa. Se o benefício é unilateral, o relacionamento não vai durar — e, pior ainda, vai acabar sendo prejudicial. Tanto a empresa quanto o cliente devem ser beneficiados pela relação criada. É bom repetir isso sempre, inclusive dentro da empresa, pois se trata do aspecto mais importante.
Artigo originalmente publicado na Revista Atitude Empreendedora (número 3, 2012).
3 de dezembro de 2012
Gestão empresarial: técnicas modernas e simples aplicadas à pequena empresa
Dentro do estudo da Administração de Empresas, é bastante comum a utilização de muitas siglas e nomes que parecem complicadíssimos: CRM, ERP, SCM, Balanced-Scorecard, Business Intelligence, Downsizing, Brand Equity e assim por diante.
Percebo que os gerentes e proprietários de pequenas e médias empresas, várias vezes, acham que esta “mania” de utilizar nomes e siglas complicadas escondem uma prepotência teórica típica de executivos de grandes empresas, ou acadêmicos (geralmente professores que vivem num “mundo à parte”, sem conhecimento das dificuldades do dia-a-dia das empresas, especialmente das pequenas). Isso acaba fazendo com que estas pequenas empresas, que tanto podem e precisam ser beneficiadas pelas técnicas de gestão mais modernas, acabem se distanciando de conhecimentos e ferramentas que poderiam ajudar na melhoria da administração de seus negócios.
Outras vezes, ironicamente, estas pequenas e médias empresas acabam praticando algumas destas teorias, mesmo sem saber o nome ou conhecer os detalhes dos conceitos. Como exemplo, creio que o mais significativo é o de CRM: Customer Relationship Management (traduzindo ao pé da letra é “gestão do relacionamento com o cliente”) tem como principal objetivo gerenciar o relacionamento entre a empresa e seus clientes, de maneira a oferecer benefícios mútuos. Muitas das práticas de fidelização apresentadas pelas teorias de CRM indicam que um dos fundamentos mais sólidos para o marketing de relacionamento é tratar os clientes de maneira individualizada, única – e muitos proprietários de pequenas empresas têm muito a ensinar sobre este aspecto, inclusive aos grandes executivos e “CEOs” de multinacionais.
As grandes empresas, aliás, têm sérias dificuldades em gerenciar o relacionamento com seus clientes. Um dos fatores que ajudam a explicar isso é exatamente o tamanho da empresa: em tese, quanto maior a empresa, maior o número de clientes que ela tem. Pensando num grande banco, por exemplo, em comparação a um pequeno prestador de serviços: um banco precisa lidar com 20 milhões de clientes (ou mais), enquanto o pequeno prestador de serviços atende no máximo uma centena de clientes. Para esta pequena empresa, conhecer as preferências dos clientes é muito mais fácil do que para o grande banco. Então, o primero passo já está dado; é preciso, a seguir, saber utilizar este conhecimento sobre o cliente para melhorar o atendimento, criar novos produtos ou serviços, corrigir erros etc.
Assim, o importante é que gerentes e administradores de todos os portes e tipos de empresas estejam permanentemente abertos à mudança de paradigmas e especialmente ao aprendizado – da mesma maneira que muitas pequenas empresas poderiam aprender com as grandes, a recíproca é verdadeira.
Grande parte das modernas técnicas administrativas (senão todas) são, na verdade, baseadas em conceitos bastante simples e uma boa dose de lógica. Vejamos o exemplo do “Balanced Scorecard”: nas palavras de Robert Kaplan, um dos criadores deste conceito, devemos pensar “no sistema integral chamado Balanced Scorecard como se fossem os instrumentos e indicadores de vôo da cabine de um avião. Para fazer um avião voar, os pilotos necessitam de informações detalhadas sobre muitos aspectos do vôo: combustível, velocidade, altitude, rumo, destino e outros indicadores que resumem o contexto atual e futuro. Confiar em um só instrumento poderia ser fatal”.
O conceito do Balanced Scorecard, então, deveria ajudar as empresas (todas, independentemente de porte, segmento de atuação, localização geográfica etc) a criar e melhorar “medidas de desempenho” que possam efetivamente, indicar quais os pontos fortes e fracos de cada empresa, com vistas à melhoria – e, consequentemente, à lucratividade. A proposta original do Balanced Scorecard (BSC) sugere quatro perspectivas importantes:
1) Como os nossos clientes nos vêem? ➔ PERSPECTIVA DO CLIENTE
2) Em que devemos melhorar? ➔ PERSPECTIVA INTERNA
3) Podemos continuar melhorando e criando valor? ➔ PERSPECTIVA DE INOVAÇÃO E APRENDIZAGEM
4) Como os acionistas nos vêem? ➔ PERSPECTIVA FINANCEIRA
Pelo menos 2 destas 4 perspectivas são idênticas para pequenas empresas e grandes conglomerados multinacionais: a perspectiva do cliente e a interna. A perspectiva financeira, para a pequena empresa, deve fazer referência não “aos acionistas”, mas “aos proprietários” (haja vista que geralmente as pequenas e médias empresas não têm “acionistas” da mesma maneira que grandes empresas, que negociam ações em bolsas e geralmente mantêm certa distância entre a administração da empresa efetiva e os proprietários destas ações). Já a terceira perspectiva, que diz respeito à inovação e aprendizagem, possivelmente tem maior distanciamento das pequenas empresas comerciais, mas deveria estar muito próxima da realidade nos setores de serviços e na indústria.
Ao analisar tais perspectivas, a empresa ganha a possibilidade de determinar como se orientar para o cliente, como reduzir o tempo de resposta, como melhorar a qualidade, enfatizar o trabalho de equipe, reduzir o tempo de lançamento de novos produtos e administrar a longo prazo. Além disso, o BSC pode ajudar a criar uma proteção contra sub-otimização: nenhuma área operacional da empresa ficará livre de gerar resultados que contribuam com o todo, de maneira a valorizar todos os setores/áreas e identificar aqueles com mais problemas. Em muitos casos, resultados ruins ou medíocres numa área (ou departamento) ficam escondidos sob um resultado geral satisfatório, mas perdem-se oportunidades de melhorar ainda mais o resultado total – situação que pode ser detectada e combatida ao adotar-se uma estratégia de indicadores diversificados, como proposto pelo BSC.
Portanto, o importante é compreender que qualquer empresa pode, sim, ser beneficiada se souber usar as modernas ferramentas de gestão existentes – não importando a nomenclatura.
Artigo originalmente publicado na Revista Atitude Empreendedora (Número 2, Dezembro de 2012).
Para fazer download do original (arquivo ZIP contendo capa da revista mais 2 páginas internas) CLIQUE AQUI.
16 de novembro de 2012
O apagão da incompetência da Dilma e do PT
Saímos do apagão no fornecimento de energia elétrica de anos atrás e nos avizinhamos de um apagão jurídico no setor elétrico.
Recentemente foi editada a Medida Provisória 579 que estabeleceu a possibilidade de prorrogação dos contratos de concessão de grande parte do sistema de geração, transmissão e distribuição no país. Envolve cerca de 112 usinas, 73 mil quilômetros de linhas e 37 distribuidoras, o que corresponde a 28% da geração e a 82% da transmissão de energia elétrica no país.A matriz energética brasileira, a despeito de ser limpa - fortemente baseada em geração hidrelétrica - é uma das mais caras do mundo. A busca normativa foi de redução do custo da energia e a prorrogação dos contratos.Ocorre que entre essa intenção normativa e a realidade há um abismo que deve ser destacado uma vez que gera importantes inseguranças jurídicas. Dentre outras, pode-se destacar:1) O instrumento normativo utilizado, a Medida Provisória, caracteriza-se por algo que requer urgência e relevância para seu uso. Inegavelmente trata-se de matéria relevante, mas será urgente? Não haveria tempo suficiente para um debate no Congresso Nacional acerca dessa matéria? O uso de um projeto de lei teria sido mais adequado, ou mesmo a organização de uma licitação, nos moldes preconizados pela Constituição. Essa seria a fórmula jurídica mais adequada para evitar esse impasse, uma vez que as medidas provisórias são um instrumento avesso ao debate parlamentar, lugar adequado para a discussão dos grandes temas nacionais.
2) É indiscutível que o preço da energia elétrica no Brasil é escorchante e aterroriza qualquer empresa que pretenda implantar uma indústria eletro intensiva no país. Atualmente, considerado um universo relevante de países, estamos no desagradável 4º lugar da energia mais cara do mundo. Todavia, em face do aperto tarifário pretendido pelo governo federal existe o risco da obsolescência do sistema. Se a justa remuneração prevista na Constituição não for implementada, como manter o sistema ampliado e funcionando? Eis outro problema que deve ser equacionado. Há uma diferença abissal entre o que se paga e o que se recebe no mundo das tarifas em face dos encargos fiscais sobre o preço final. O consumidor de energia paga caro, mas o produtor/gerador/transmissor dessa energia não recebe todo o valor que o consumidor paga. Entre um ponto e outro existe uma carga fiscal muito grande, que fica com o governo - é o Grande Irmão Estado, sempre presente em todas as transações econômicas. Logo, uma coisa é a redução das tarifas - parte que cabe a quem gera e distribui a energia - outra coisa é a redução dos encargos fiscais - parte que cabe aos governos. Se a tarifa ficar muito baixa, o risco para a manutenção e a necessária expansão do sistema é real.
3) Aqui entra o componente do custo fiscal - diverso do tarifário. Louva-se a redução da carga fiscal, afastando encargos obsoletos sobre a conta de energia. Todavia, o principal custo fiscal sequer foi tocado, que é o ICMS, receita dos Estados. Esse é o custo tributário vilão de toda a história. O governador de São Paulo declarou que 9% de toda a arrecadação estadual provem dessa incidência e que não fará sua redução. Os demais Estados devem seguir a mesma trilha. Aqui há uma frontal infringência à Constituição, pois a energia, como bem essencial que é, deveria receber menor tributação - ao contrário do que ocorre, verdadeiro monopólio fiscal.
4) Na sequência de todas essas incertezas, existe a questão da indenização dos investimentos. O valor de R$ 20 bilhões reservado pelo governo federal para esse mister é um montante respeitável. Todavia, trata-se de uma análise que só caso-a-caso pode ser feita. Por exemplo, será que a usina de Xingó, entregue durante a presidência de Fernando Collor, já foi integralmente amortizada? Só uma avaliação técnico-contábil poderá afirmar isso. Ademais, quais os critérios para ser feita essa indenização? As tarifas previam a amortização de todos esses investimentos? A teoria responde que sim, mas, e a realidade? O montante destacado pelo governo federal é um teto a ser rateado entre as concessionárias ou há mais dinheiro em jogo que ainda não foi destacado?
5) Outro aspecto contestável foi o prazo dado pelo governo federal para que as empresas optassem pela prorrogação dos contratos. A Medida Provisória foi editada em 11 de setembro, concedendo prazo até 15 de outubro (cerca de 30 dias) para que as empresas optassem pela renovação dos contratos. Ocorre que esses contratos não foram divulgados! Ou seja, as empresas deveriam optar pela prorrogação de um contrato cujas cláusulas desconhecem - mas que certamente serão alteradas em face das condicionantes estabelecidas na norma. E a assinatura dos contratos está prevista para 4 de dezembro.
6) Existe ainda a diferença de tratamento entre as várias unidades de negócio das mesmas empresas. Bom exemplo é a Cemig, que tem três usinas que ficaram fora do prazo estabelecido para a renovação das concessões. Entende essa empresa que sua concessão pode ser prorrogadas com base nas normas anteriores, que garantem maior tarifa; o governo federal entende de forma diferente.
7) Por fim, nesse rol, que poderia ser estendido, a intervenção abrupta nos contratos de concessão acabou por fazer desabar o preço das ações das empresas de energia elétrica nas bolsas. Incertezas regulatórias geram incertezas jurídicas, que se traduzem em insegurança nos mercados, refletindo no preço das companhias. A fórmula jurídica adotada acarretou esse problema.
Enfim, esse é, ao mesmo tempo, um terreno fértil para o debate jurídico, um campo minado para o governo federal e algo estratégico para a sociedade. Espera-se que os próximos passos permitam reduzir substancialmente o preço da energia elétrica, com respeito à ordem jurídica. Afinal, tanto o custo da energia quanto a incerteza jurídica fazem parte do famigerado custo Brasil, que se busca reduzir.
Fernando Facury Scaff, doutor em direito e professor de direito financeiro da Universidade de São Paulo, é sócio de Silveira, Athias, Soriano de Melo, Guimarães, Pinheiro & Scaff - Advogados.
As intervenções feitas pelo governo federal em alguns setores da economia, em nome do aumento da competitividade, já custaram R$ 61,6 bilhões para as empresas. A cifra corresponde ao valor de mercado perdido pelos setores elétrico, bancário e de telecomunicações na Bolsa.Para especialistas, as incertezas geradas pelas mudanças de regras afugentam investimentos e prejudicam o ambiente de negócios no País. Para o governo, no entanto, essas medidas podem dar uma nova cara à economia brasileira.Desde o início do ano, as ações das empresas do setor elétrico caíram, em média, 24%. A queda foi de 21,4% nas telecomunicações e de 9,8% nos bancos, revela estudo feito por Sérgio Lazzarini, professor do Insper, e pela assistente de pesquisa Camila Bravo Caldeira. No mesmo período, o índice Ibovespa teve uma queda de apenas 0,8%.
14 de setembro de 2012
Comercial - o meu!
Que fique claro, desde o título, que este post trata de comercial. O meu.
Fui convidado a assinar uma coluna mensal na nova revista Atitude Empreendedora, cujo foco é o empreendedorismo e gestão de pequenas e médias empresas.
Neste mês de Setembro, o artigo trata dos benefícios que a TI (Tecnologia de Informação) pode trazer às pequenas e médias empresas.
O artigo na íntegra pode ser lido nos 2 arquivos em PDF que estão AQUI (página 1) e AQUI (página 2).
Aproveito para agradecer a toda a equipe da revista, especialmente a Bruna Borgheti, que foi extremamente prestativa e atenciosa com este escriba prolixo e enrolado com datas de fechamento :-))
13 de setembro de 2012
A vitória do capitalismo
Graças ao vídeo que mostra a Presidanta falsificando um discurso de 7 de setembro (post anterior), acabei lendo alguns comentários sobre a questão da privatização feita pelo FHC no fim da década de 1990.
Junto com as bobagens de sempre (menção ao livretinho vagabundo "A Privataria Tucana" é uma das bobagens recorrentes, o que é compreensível inclusive pela alarmente quantidade de analfabetos funcionais que temos no Brasil), especialmente em momentos de crise, vejo gente pregando o socialismo como "solução".
Se essa gente pelo menos soubesse o que é o socialismo, OK. Mas 90% nem faz idéia!
Assustador.
De qualquer forma, reproduzo esta matéria da Ilustríssima de 02/09/2012, tratando de um livro que parece ser muito interessante:
A vitória do capitalismo
Para jornalista, "nenhum outro arranjo social produziu ganhos tão sustentáveis"
DIOGO BERCITO
A lista de piores livros já escritos, para a jornalista americana Sylvia Nasar, autora do best-seller "Uma Mente Brilhante", inclui "O Capital", de Karl Marx, ao lado de "Minha Luta", de Adolf Hitler.
A falta de carinho em relação ao teórico do marxismo resultou do susto que Nasar, com formação em literatura e economia, tomou ao se aprofundar em sua obra. "Venho de um ambiente acadêmico marxista, então fiquei chocada quando percebi que Marx não entendeu conceitos básicos, como a ideia de juros", diz à Folha, em entrevista por telefone, de Nova York.
Nos últimos anos, Nasar organizou quase dois séculos de historia do pensamento econômico na obra *"A Imaginação Econômica" [trad. Carlos Eugenio Marcondes de Moura, Companhia das Letras, 584 págs., R$ 54,50]*, que chega agora ao Brasil.
O trabalho foi tão extenuante que ela prometeu a si mesma nunca mais escrever outro livro. Os questionamentos sobre Marx, no fim das contas, acabaram se tornando o elemento divertido da pesquisa. "Karl Marx e Friedrich Engels são grandes personagens, cheios de contradições", ela diz.
Contraditórios ou não, ambos foram, para Nasar, "fios constantes" na narrativa econômica nos dois últimos séculos -parte da mesma tradição que levou às manifestações do estilo "Ocupe Wall Street", que tomaram as ruas no ano passado para protestar contra o capitalismo.
Mas a acumulação de capital é um dos heróis de "A Imaginação Econômica". A autora afirma que "nunca houve outro arranjo social que tenha produzido ganhos tão sustentáveis". Essa é a "grande busca" a respeito da qual o título, em inglês, se referia ("Grand Pursuit"). Em português, sumiu a ideia de uma epopeia rumo a um mundo melhor.
Na entrevista a seguir, Nasar fala sobre o resgate de personagens esquecidos pela historiografia econômica, como Alfred Marshall e Beatrice Potter -e sobre aqueles que, acredita, deveriam ser menos lembrados.
Folha - Uma das ideias por trás de "A Imaginação Econômica" é a de que o capitalismo melhorou o padrão de vida no mundo. Mas temos visto protestos de quem pensa o contrário, como o movimento "Ocupe Wall Street".
Sylvia Nasar - Não há nada de novo nessas manifestações. Esse tipo de protesto começou ao mesmo tempo em que ocorreu a revolução nos meios de vida, no século 19. Essas críticas, como as encarnadas por Engels e Marx, foram fios constantes nessa narrativa. Isso é paradoxal. Nunca houve um arranjo social e um conjunto de instituições e de práticas que tenham produzido ganhos tão sustentáveis. Isso não apenas no que diz respeito a consumo material -hoje, a maior parte das pessoas pode fazer escolhas.
Por que então o capitalismo é visto por alguns como um mal?
Toda recessão, não importa se severa ou branda, produz questionamentos sobre se estamos realmente fazendo o melhor que podemos. Isso não é ruim. Um dos temas de "A Imaginação Econômica" é que os gênios da economia sempre pensaram que nós poderíamos fazer melhor.
Mas não acho que esses protestos sejam comparáveis às demonstrações de fúria que foram vistas durante a Grande Depressão, nos anos 30. Hoje, há uma rede de proteção muito maior. Muitos países podem proteger a população.
É o caso do Brasil?
Sim. A grande motivação de John Maynard Keynes e Irving Fisher para advogar pela intervenção estatal como modo de limitar a recessão -opondo-se à ideia de Friedrich Hayek e Joseph Schumpeter de deixar a natureza seguir seu curso- era evitar os riscos políticos.
Não é que eles pensassem que a economia não se recuperaria sozinha, mas que as pessoas iriam buscar soluções que tornariam os desastres piores. Na América Latina, o maior risco político sempre foi o populismo. Na Europa Ocidental e na Ásia, o comunismo.
A sra. diria que o socialismo perdeu a batalha como alternativa ideológica?
O que está falido é a ideia de que um sistema controlado pelo governo poderá produzir uma performance econômica superior, uma performance social superior.
Essa grandiosidade, a não ser para um número pequeno de pessoas, está morta por ora. A ideia de que há um modelo único que será seguido por todos para atingir sucesso econômico não é comprovada por evidência empírica.
Mas, se você está falando sobre socialismo como aquele do Estado de bem-estar social, acho que ele está aqui para ficar.
Recentemente você citou "O Capital", de Marx, como um dos piores livros já escritos.
Eu me diverti enquanto escrevia sobre marxismo. Marx era realmente esperto. Mas, infelizmente, ele nunca entendeu, ou quis entender, a coisa a que ele se dedicava, que era a economia inglesa.
Estudei economia depois de me formar em literatura. Estava em desvantagem. Era tão difícil, para mim, que nunca terminei meu PhD. Mas fiquei chocada quando percebi que Marx não entendeu conceitos básicos, como a ideia de juros. Os erros dele são tão elementares!
As pessoas têm suspeitado da economia como ciência, dizendo que não previu a crise.
Fazemos o melhor em termos de resolver as questões econômicas, e não há uma alternativa real ao pensamento econômico. Não é como na psicologia ou na engenharia, em que teorias competiram por território.
Você disse durante uma entrevista que, se pudesse escolher um livro para o presidente dos EUA ler, seria "A Imaginação Econômica". Em que essa leitura mudaria a política econômica americana?
Eu disse isso? [Risos] Foi realmente sagaz. Acho que, em tempos de crise, ter liderança é realmente importante.
As políticas de Franklin D. Roosevelt não fizeram nada para terminar com a Grande Depressão. As de Herbert Hoover, idem. As pessoas não sabiam o que fazer. Mas eles exalavam otimismo -não um otimismo ingênuo, de que o céu está limpo, mas a confiança de que, na economia de mercado e na democracia, há fundamento para sermos otimistas.
O que eu gostaria de ver é o presidente dos EUA, seja ele quem for, inspirar esse tipo de confiança. Será útil para as pessoas enxergarem que esse não é o fim do progresso. É um problema solucionável.
Na Europa, a impressão que se tem é de que não há solução.
Me surpreende que ainda haja quem argumente que não fazer nada é melhor do que fazer. Que equilibrar o Orçamento é prioridade máxima. Essa ideia não funcionou nos anos 1930!
As pessoas falam em uma "crise europeia", mas hoje há coisas como o seguro-desemprego. A crise não está causando o tipo de sofrimento visto na década de 30. Agora, há um grande colchão. Eles [os europeus] são tão ricos! As pessoas têm tempo de pensar no que funciona melhor. Não foi assim nos EUA.
Estive na Polônia, no outono passado. Todas as vitrines, nos shoppings, tinham como alvo o público jovem. Todas tinham descontos para estudantes. Minha filha me perguntou: "Ei, mãe, mas como estudantes conseguem comprar aqui?"
"Uma Mente Brilhante" era sobre uma pessoa. "A Imaginação Econômica", sobre uma ciência. São abordagens opostas?
Sim. Foi isso o que me deu trabalho. "Uma Mente Brilhante" foi uma tarefa de repórter. Só um jornalista conseguiria fazer. Não havia textos de referência, foram necessárias centenas de entrevistas.
Em "A Imaginação Econômica", lidei com ideias. Foi como escrever dez biografias diferentes. Organizar tantos personagens e teorias em uma história linear exigiu muito esforço. Não sou uma grande pensadora. Sou boa para os detalhes e para as conexões.
Qual seria o resultado de "A Imaginação Econômica", se você não fosse jornalista?
Nenhum economista escreveria esse livro. Eles não dedicariam o tempo deles para isso. É preciso ser um generalista. Cada pessoa, cada evento sobre os quais escrevi no livro tem uma indústria de acadêmicos por trás dele.
Acadêmicos não fazem isso, e não deveriam -mas jornalistas podem entrar em um assunto em "estado de ignorância", confiando na sua habilidade de reunir informações e contar histórias.
Nesse processo, você resgatou personagens esquecidos pelas narrativas tradicionais, como Beatrice Potter e Alfred Marshall.
E Irving Fisher. Quando entrevistei [o economista] Milton Friedman, ele me disse voluntariamente que o maior economista americano do último século foi Fisher. Mas ninguém fora do meio econômico sabe quem ele é. Ele desapareceu do conhecimento popular.
É como Alfred Marshall, que todos tratam como um vitoriano fora da realidade, mas que era muito mais consciente sobre a situação inglesa do que Marx.
Acho isso engraçado. Como é que Marx, o cara que estava errado, terminou como um santo e Marshall, o cara que era realmente uma força criativa, teve suas contribuições minimizadas?
Você esteve ocupada com grandes projetos nos últimos 15 anos. Qual é o impacto na sua vida?
No final de "A Imaginação Econômica", disse aos meus filhos -se eu disser que vou escrever um livro de novo, por favor peguem uma arma e atirem em mim.
Quando você está fazendo uma reportagem, pode entregar o texto ao editor e aproveitar o fim de semana. Quando escreve um livro, está sempre se sentindo culpado. Ou está trabalhando, ou está evitando trabalhar.
Mas foi bom que eu tenha demorado tanto para escrever esse livro. A única época em que as pessoas se interessam por economia é durante recessões.
Novo produto, mesma estratégia
- Antes do evento, instala-se o desespero para tentar "adivinhar" quem acerta mais rumores;
- Durante o evento, é uma briga para oferecer as novidades em primeira mão, chegando a congestionar twitter, sites, blogs etc;
- Depois do evento, a própria Apple disponibiliza a íntegra da apresentação em vídeo, para quem quiser assistir (se você quiser ver, está AQUI).
12 de setembro de 2012
Marketing político - POR DENTRO DE UMA CAMPANHA POLÍTICA
Já escrevi diversos posts aqui sobre essa coisa de "marketing político". Sempre disse que não passa de "propaganda" - geralmente "enganosa".Bom, preciso registrar este texto IMPERDÍVEL: Por dentro de uma campanha política: Netinho de Paula, da agressão à… agressão, escrito BRILHANTEMENTE pelo Flávio Morgenstern.
Lendo este texto - que, a despeito de ser longo, é delicioso de ler! - ficará ainda mais claro porque eu chamo essa invenção tosca de "marketing político" pelo nome real, que, repito, geralmente não passa de "propaganda enganosa".
Vem vou me dar ao trabalho de reproduzir o texto. Deixo apenas o linK AQUI.
RECOMENDO FORTEMENTE A LEITURA.
Ali, o Flávio mostra não apenas a sujeira que sustenta as campanhas eleitorais no Brasil atualmente, incluindo a manipulação descarada de uma imensa massa de desinformados que são levados a acreditar em coisas irreais, mas especialmente a enganação desse conceito vazio de "marketing político".
Vá ler.
11 de setembro de 2012
Primeiro, falsificava currículo. Agora, falsifica discurso!
Começou falsificando currículos. O dela mesma (mais detalhes, abaixo).
Depois, falsificou agenda (lembram da Lina Vieira ?! Mais detalhes, também, mais adiante).
Agora, falsifica DISCURSO!
O vídeo não deixa dúvidas - mas, ainda assim, o Implicante explica em detalhes AQUI.
O ano era 2006.
Dilma era Ministra de Minas e Energia.
Primeiro, um texto da Lúcia Hipólito (os grifos são meus):
Dilma Rousseff parece ter especial vocação para se deixar envolver em situações esquisitas. Vive cercada de histórias mal contadas, versões retocadas, relatos conflitantes.
No início de 2008, ministros do governo Lula foram apanhados pagando despesas privadas com dinheiro público, através de cartões corporativos. Episódio que ficou conhecido como o “escândalo da tapioca”.
Em 16 de fevereiro daquele ano, jantando com 30 industriais, a ministra Dilma afirmou que “o governo não vai apanhar calado”. E revelou que as contas do governo anterior sofreriam uma devassa.
Dias depois começou a circular o famoso dossiê com os gastos do ex-presidente Fernando Henrique e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Confrontada com os fatos, Dilma afirmou que se tratava de um banco de dados para organizar as despesas com cartão corporativo, a fim de responder à CPI dos Cartões – que sequer tinha sido instalada.
Mesmo depois da publicação do dossiê, restando provado que tinha sido fabricado na Casa Civil, Dilma continuou jurando de pés juntos que se tratava de um banco de dados.
Ninguém acreditou, mas ela continuou insistindo no conto de fadas.
O segundo episódio que confrontou Dilma Rousseff com a realidade aconteceu recentemente. Foi o caso do currículo falsificado.
Descobriu-se que, na Plataforma Lattes do CNPq, que abriga currículos de professores universitários e pesquisadores de pós-graduação, o currículo de Dilma Rousseff registrava um mestrado e um doutorado em economia. Até o título da tese de mestrado estava lá.
Este currículo estava também estampado nas páginas do Ministério das Minas e Energia e da Casa Civil.
Era falso. Dilma Rousseff não concluiu o mestrado, não defendeu tese. Não concluiu o doutorado. Não defendeu tese.
Confrontada com a realidade, ela reagiu dizendo que não sabia quem tinha invadido a Plataforma Lattes e as páginas do governo para escrever mentiras no seu currículo.
Para inscrever o currículo na Plataforma Lattes é necessário uma senha individual. Tudo bem, um hacker poderia ter invadido as páginas. Invadem até o site do Pentágono!
Mas a ministra Dilma Rousseff compareceu duas vezes ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2004 e em 2006. O vídeo dos dois programas circula na internet.
Para os que não estão familiarizados com o programa, no início o âncora lê o currículo do convidado. Nos dois o jornalista Paulo Markun lê o currículo falso de Dilma Rousseff.
E ela ouve sem mover um músculo. Impassível. Nem pisca.
Depois de apanhada, mandou retirar das páginas do governo as menções a um mestrado e um doutorado. Falsos.
Mas continua a sustentar a versão de que alguém invadiu as páginas e falsificou seu currículo.
Finalmente – será mesmo que acabou? – Dilma envolveu-se em mais uma confusão de versões desencontradas.
A ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, cuja demissão nunca foi bem explicada, afirmou que foi chamada para uma conversa com a ministra-chefe da Casa Civil. No encontro a ministra lhe pediu que “acelerasse” as investigações sobre a família Sarney.
(Deixemos de lado a estranheza de uma chefe da Casa Civil chamar para uma reunião uma subordinada de outro ministro, sem que seu chefe esteja presente.)
A ex-secretária Lina Vieira entendeu que era para encerrar as investigações. Um processo desses é longo, e acelerar pode muito bem significar “acabar rapidinho”.
Dilma poderia dizer que tinha encontrado a ex-secretária, mas que tinham conversado sobre outros assuntos. Poderia dizer que tinha sido um encontro informal, por isso não estava na agenda de nenhuma das duas.
Isto é comum entre autoridades. Semana passada mesmo, o presidente Lula recebeu, fora da agenda, o senador Fernando Collor.
Mas não, Dilma Rousseff reagiu como Dilma Rousseff: autoritária, peremptória, categórica. Segundo ela, jamais teve uma conversa individual com a ex-secretária da Receita.
Mas Lina Vieira confirmou o encontro, em entrevista ao Jornal Nacional. E citou como testemunhas o motorista da Receita, sua chefe-de-gabinete e, mais importante, a principal assessora de Dilma Rousseff, Erenice Alves Guerra – aliás, envolvida também na elaboração do dossiê com as despesas de Fernando Henrique e Ruth Cardoso.
Diante disso, das duas uma. Ou bem Lina Vieira está mentindo, e Dilma Rousseff está moralmente obrigada a processá-la por danos morais.
Ou bem Lina Vieira está falando a verdade. E neste caso, Dilma Rousseff cometeu crime de prevaricação, quando um agente público toma conhecimento de um ilícito, ou propõe um ilícito e não tenta coibi-lo, para tirar proveito próprio.
E qual seria o proveito próprio? O apoio do PMDB à sua candidatura em 2010.
O agravante no caso da ministra Dilma é que, se Lina Vieira estiver dizendo a verdade, trata-se de interferência direta da ministra numa investigação muito séria, que envolve a Receita Federal e a Polícia Federal.
Dilma Rousseff ambiciona a presidência da República. Tem todo o direito.
Mas tem também o dever de dizer a verdade, esclarecer os fatos, para não entrar numa campanha que é tradicionalmente muito dura — mas o prêmio é alto — como alguém que tem relações cerimoniosas com a verdade.
10 de setembro de 2012
Vamos tratar o cliente como otário? Ele nem vai perceber!
Mas a verdade é que as empresas me perseguem, entregando as cagadas em domicílio!
Na semana passada, recebi um e-mail da Editora Abril, me oferecendo a renovação da minha assinatura da Quatro Rodas. Eis aqui o print-screen do e-mail (do dia 04 de Setembro, portanto 6 dias atrás):
Como pode ser visto na imagem (basta clicar para ampliar), a "oferta" era para renovar a assinatura por 3 anos (36 edições), pagando 12 parcelas de R$ 29,10, o que totalizaria R$ 349,20.
Hoje, fui até o site da Editora Abril, para simular qual seria o custo de uma NOVA assinatura.
Selecionei duas opções, que mostro abaixo:
(1a) Assinatura de 36 edições (3 anos) apenas da edição impressa, que custaria 12 parcelas de R$ 24,00, totalizando R$ 288,00, e
(2a) Assinatura de 36 edições (3 anos) da edição impressa + digital, que custa R$ 331,20, divididos em 12 parcelas de R$ 27,60.
As imagens abaixo comprovam ambos os valores:
Basicamente, a Editora Abril está sinalizando o seguinte: ou eles acham que o cliente é tão otário, tão idiota, a ponto de NÃO verificar qual seria o custo de uma NOVA assinatura antes de renovar a sua, ou eles acham que o cliente GOSTA de pagar mais caro para ter o mesmo produto.
Bom, na verdade, outro produto: se eu ficasse quieto e aceitasse a renovação por R$ 349,20, (se eu não entrasse em contato com o setor de assinaturas, a renovação seria automaticamente enviada para o meu cartão de crédito) eu pagaria APENAS a edição impressa mais caro do que um novo assinante que escolhesse o "pacote" composto pela edição impressa mais a edição eletrônica.
Pois bem, liguei no 0800 para perguntar por que uma NOVA assinatura seria bem mais barata do que a renovação de um assinante de longa data (são mais de 15 anos!).
A menina que me atende, Jaqueline, disse que no momento em que a oferta me foi enviada por e-mail, era a melhor oferta disponível; provavelmente, DEPOIS de ter sido enviado o e-mail houve uma alteração nos preços do site (para novas assinaturas).
Sei, sei.....
Relembrando: o e-mail foi enviado no dia 04 de Setembro - SEIS dias atrás, portanto!
A Editora Abril é a única empresa que faz isso?
NÃO.
Contudo, erros alheios não justificam os seus próprios.
Quando as empresas vão parar de tratar seus clientes como otários?
21 de agosto de 2012
Tirar as sacolas dos supermercados foi um ERRO ABSURDO
Eu cansei de escrever, neste blog, sobre o caso (basta ver a tag APAS).O vice-presidente de Relações Corporativas do Pão de Açúcar, Hugo Bethlem, classificou como “um erro absurdo” a decisão dos supermercados paulistas de parar de fornecer sacolas plásticas nos caixas. Na avaliação do executivo, a ideia de chamar a atenção do consumidor para o descarte adequado das sacolinhas é importante, entretanto, deveria ter sido melhor estruturada para promover uma mudança de hábito da população. “Quando você quer mudar hábitos de consumo todos os agentes da sociedade precisam sentar e discutir metas de longo prazo”, disse nesta terça-feira (21), durante o Encontro de Sustentabilidade promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo.Hugo Bethlem acredita que a forma como a Associação Paulista de Supermercados (Apas) conduziu o tema foi errada, pois acabou gerando uma agenda negativa para o setor. “Queremos sair dessa agenda negativa, colocando o consumidor a favor do meio ambiente”, afirmou.No mesmo sentido, o presidente do Lide, o empresário João Dória Jr, lamentou a execução da proposta do fim das sacolas plásticas. “Às vezes uma boa intenção que não é completa representa um passo atrás”, avaliou.A distribuição de sacolas plásticas gratuitamente voltou a ocorrer no Estado de São Paulo no fim de junho, quando a juíza Cynthia Torres Cristófaro, da 1ª Vara Central da capital paulista, determinou a medida, válida a partir do dia 28 de junho e em vigor desde então.Segundo o executivo do Pão de Açúcar, o grupo está fazendo sacolas sem o nome das redes de supermercados e com mensagens de conscientização do consumo, chamando atenção para o descarte adequado. “As pessoas precisam entender a importância do fim da sacolinha. Vamos oferecer alternativas para isso.”(Por Último Segundo) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo
14 de agosto de 2012
Comigo ninguém iPod - David Kupfer
A recente entrada em cena do tema do conteúdo local como protagonista do debate mais geral sobre os rumos da política econômica merece ser comemorada em si mesmo, como uma evidência animadora de que, enfim, a agenda macro não mais monopoliza as atenções e que o interesse na discussão de assuntos além de inflação, juros ou câmbio está se reconstituindo no país. Nem tão animadora, porém, é a constatação de que esse debate, embora mais presente, ainda é dominado por posições muito simplistas, que opõem defensores da opção nacional versus a global como se o Brasil se visse obrigado a fazer escolhas binárias, autoexcludentes.
De fato, na perspectiva do sistema fragmentado de produção, também conhecido como especialização vertical, que dá a tônica da organização industrial nos setores mais dinâmicos da indústria contemporânea, haja vista especialmente o que ocorre com as tecnologias microeletrônicas e de informação e comunicação, supor que os países façam ou precisem fazer tal tipo de opção parece extemporâneo ou mesmo ingênuo.
Extemporâneo porque o debate sobre vantagens e desvantagens da produção local versus a global iniciou-se ainda na década de 1980, tendo como marco a experiência, por sinal, fracassada, do carro mundial da GM e esgotou-se em meados dos anos 1990 com o surgimento de diversas soluções mistas bem sucedidas, ditas "glocais". Um exemplo desse tipo de solução, apenas para ficar no setor automobilístico, foi o modelo do consórcio modular, testado e aprovado na experiência piloto realizada pela VW na fábrica de caminhões montada no Brasil (Resende).
Ingênuo porque opor local e global desconhece a complexidade da manufatura contemporânea, não somente no chão de fábrica mas em tantas atividades que se estruturam no seu entorno com o intuito de fazê-lo funcionar com alta produtividade e inovatividade. Estão nesse caso, etapas vitais como engenharia, projeto de produto, licenciamento de propriedade intelectual, software e diversos outros serviços empresariais, geralmente de alto valor adicionado, muito além dos equipamentos de processo e dos insumos industriais.
Na especialização vertical, as empresas especializam as diferentes fábricas instaladas em diferentes países ou regiões para a manufatura de diferentes produtos. Diversamente do modelo da maquila, no qual as unidades são meras montadoras, a realização descentralizada das atividades produtivas e tecnológicas propicia que cada sistema local de produção cumpra um determinado papel em uma grande cadeia global de valor. Um bom exemplo é a cadeia global de valor do iPod da Apple. Montado na China e vendido no mercado americano, o iPod de 30 giga constituiu um caso meticulosamente estudado em uma pesquisa realizada nos EUA em 2007. Dentre outras conclusões, o estudo permitiu comprovar o fato de que nenhum pais individualmente é fonte da totalidade das inovações incorporadas no produto.
Como resultado, a especialização vertical mostra-se como um modelo superior de organização da produção, não somente devido às suas implicações favoráveis sobre a eficiência industrial. Ela também constitui um modelo de divisão internacional de trabalho que contempla a dimensão nacional, proporcionando aos países a capacidade de se apropriar mais amplamente dos ganhos proporcionados pela atividade industrial, incluindo principalmente os decorrentes das externalidades positivas que comumente acompanham a indústria. Por essa razão, a coordenação eficaz dessas cadeias de valor apoia-se necessariamente na firme adesão dos Estados nacionais, por meio de políticas industriais formatadas com essa finalidade. Não sem razão, é visível o esforço americano visando retomar a atividade industrial em vista da sensação hoje prevalecente de que a transferência da manufatura para a Ásia está trazendo um custo significativo em termos de perda de efetividade do sistema de inovação do país.
Nos anos 1960 ou 1970, os teóricos do desenvolvimentismo costumavam afirmar, corretamente, que um mero aumento do peso da indústria no PIB não seria suficiente para configurar um processo de industrialização. Seria necessário muito mais: a indústria teria que se tornar o centro dinâmico do padrão de crescimento econômico, o que significa exercer um papel motriz no modelo de desenvolvimento. Isso exigia, à época, uma crescente internalização da indústria pesada, especialmente os bens de capital, indutores do progresso técnico requerido para a firme expansão da produtividade.
Por essa razão, uma rápida expansão industrial, mesmo que condição necessária, poderia não ser suficiente para configurar um processo de industrialização. Exemplos muito claros de mais indústria sem industrialização eram proporcionados por países que experimentaram rápido crescimento da produção baseado na exploração de mão de obra barata, geralmente em setores ligados às indústrias tradicionais ou, posteriormente, na constituição de maquilas, que são indústrias restritas à montagem local de partes e componentes inteiramente importados.
De modo análogo, na atualidade, a mera redução do peso da indústria no PIB não deve ser considerada como evidência suficiente para configurar um processo de desindustrialização. É necessário que outras transformações no padrão de crescimento da economia tenham lugar e, principalmente, que a atividade industrial perca capacidade de constituir o núcleo dinâmico da economia. No século XXI, evitar essa possibilidade deve ser a "rationale" das políticas de conteúdo local.
David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br/ www.ie.ufrj.br/gic. As opiniões expressas são do autor e não necessariamente refletem posições do BNDES.
http://www.valor.com.br/opiniao/2785688/comigo-ninguem-ipod#ixzz23ZqXB3VV
8 de agosto de 2012
A crise do Brasil e as oportunidades que ela traz
O amor adolescente que os administradores de fundos tinham pelo Brasil está se esvaindo. À medida que o crescimento econômico fica aquém das expectativas, esse latino corpulento que foi objeto da afeição dos investidores está começando a parecer rude e imaturo.
Agora a relação comercial mais importante do país, com a vizinha Argentina, está emperrando. Isso deve dar mais dor de cabeça à economia.O Brasil ainda promete bastante, graças na maior parte ao seu capital humano. Suas instituições permaneceram em pé nos últimos anos ainda que os aliados ideológicos mais próximos do partido governante, o Partido dos Trabalhadores — aliados esses que estão no poder na Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e Argentina — destruíram as bases institucionais nos seus próprios países. Um julgamento das supostas práticas corruptas de membros do PT do ex-presidente Lula da Silva, marcado para o mês que vem, demonstra a separação saudável entre os poderes. A inflação baixa também deu força à classe média.Mas aí há o estado monstro, que intervém em tudo, consome os recursos e torna impossível o tipo de crescimento de baixo para cima liderado pelos empreeendedores. Particularmente preocupante hoje é a agressiva expansão do crédito canalizada para privilegiados escolhidos pelo banco de desenvolvimento brasileiro, o BNDES.A Argentina está numa situação pior ainda. Ela flertou com os mercados nos anos 90. Mas, desde a desvalorização do peso de 2002, sucessivos governos argentinos vêm se comportando como amantes rejeitados, sendo hostis e vingativos com os investidores. Os contratos e os direitos de propriedade praticamente não significam nada num tribunal argentino.
As coisas podem facilmente degringolar ainda mais para os habitantes de ambos os países se, como parece provável, a união de livre comércio do cone sul, o Mercosul, que inclui ainda o Paraguai e o Uruguai, se dissolver. No longo prazo, o fim do Mercosul será uma boa coisa se isso levar seus membros a abrir seu comércio para o resto do mundo. Mas, no curto prazo, com tantas indústrias fortemente comprometidas com as regras do Mercosul, um rompimento seria certamente prejudicial.
O problema mais recente para o Mercosul começou no mês passado, quando o Congresso do Paraguai aprovou o impeachment do presidente Fernando Lugo. Lugo era um aliado de Hugo Chávez. Para o ditador venezuelano, foi mais um sinal de que seu movimento regional bolivariano chegou ao limite e que seus opositores vêm tendo cada vez mais sucesso nas investidas contra ele — como eles fizeram ao remover Manual Zelaya da presidência de Honduras, em 2009. Assim, quando Lugo foi retirado do poder, Chávez entrou em ação, mobilizando seus aliados através de canais diplomáticos para isolar e punir o novo governo do Paraguai.
Um efeito material do ativismo de Chávez foi a decisão do Mercosul de suspender "politicamente" o Paraguai, que se opôs à entrada da Venezuela no grupo. Depois da suspensão, o Brasil votou junto com a Argentina e o Uruguai para admitir a Venezuela.
O ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa fez comentários duros sobre a decisão. Como presidente do conselho de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Barbosa ressaltou que o voto violava o tratado do Mercosul. O Paraguai, disse ele numa entrevista no Rio de Janeiro, foi suspenso mas ainda é um membro e assim tem o direito de vetar a entrada da Venezuela. Ele também alertou que a Venezuela criaria problemas políticos: Como lidar com "a questão de Israel, por exemplo, que tem um acordo com o Mercosul mas não mantém relações diplomáticas com a Venezuela?".
O fiasco venezuelano foi apenas o espinho mais recente nas relações comerciais com a Argentina. Um problema mais grave que Barbosa mencionou foi a maneira casual com que Buenos Aires viola o tratado de livre comércio dentro da união e a sua tarifa externa comum. "Os ministros e tecnocratas brasileiros viajam para a Argentina e fazem acordos, mas mais tarde esses acordos acabam presos nas mãos do [secretário de comércio da Argentina] porque tudo [na Argentina] vira uma questão política." A Argentina, previu ele, "será responsável pelo fim do Mercosul".
Segundo o jornal venezuelano "El Universal", Barbosa também criticou a nacionalização da petrolífera argentina YPF, que pertencia antes à espanhola Repsol. Essa decisão, disse ele, vem prejudicando o bloco do Mercosul porque aumentou o sentimento de insegurança do investidor na região.
As infrações da Argentina também são causadas, neste ponto, pela falta de reservas estrangeiras. Apesar do esforço cada vez maior para suprimir importações e empregar controles estritos de capitais, há o risco de uma crise na balança de pagamento.
Ainda assim, existem oportunidades nessa área também. O Mercosul cria mais comércio entre fronteiras dentro da união. Mas, graças às tarifas externas desta, isso acontece às custas do comércio com países fora da união, o qual poderia gerar mais valor. Isso importa menos para o Brasil, com seu grande mercado interno, do que para os membros menores. Se o Paraguai for inteligente, vai tirar proveito da suspensão para ignorar a união e procurar fazer livre comércio com o resto do mundo. Aliás, isso também não seria uma má ideia para o Brasil.
16 de julho de 2012
Jonathan Douglas "Jon" Lord
A última vez que me senti assim foi quando Ronnie James Dio morreu.
Obviamente, nunca conheci nenhum dos dois (não pessoalmente). Mas, graças à música, ao talento e à competência de ambos, me sentia próximo - quase um amigo.
Inexplicavelmente, quando Dio morreu, passei uma semana inteira triste Agora, com Jon Lord, a sensação se repete.
Desnecessário dizer o quão importante Jon Lord foi para a música, especialmente para o hard rock. Fundador de uma das bandas mais importantes do rock, da qual sempre fui fã incondicional, músico GENIAL....
Bom, melhor do que falar (ou escrever), é ouvir:
Jonathan Douglas "Jon" Lord, mais conhecido como Jon Lord (Leicester, 9 de Junho de 1941 - 16 de Julho de 2012), foi um compositor, pianista e organista inglês, mais conhecido por ter integrado as bandas Deep Purple, Whitesnake, Paice, Ashton & Lord, The Artwoods e Flower Pot Men, além de ser pioneiro na fusão do rock com música clássica.
Em 1968, Lord fundou a banda de rock inglesa Deep Purple, onde era praticamente o líder da banda até 1970. Ele e o baterista Ian Paice, foram os únicos integrantes constantes da banda durante sua existência (1968-1976) e a partir de quando eles se reformaram em 1984, até a saída de Lord do Deep Purple, em 2002.
Em 11 de novembro de 2010, Jon Lord foi eleito membro honorário da Faculdade de Stevenson, em Edimburgo. Em 15 de julho de 2011, foi concedido à ele um grau honorário de Doutor em Música pela Universidade de Leicester, em sua cidade natal.